Luis Ferreira
Legado Desperdiçado
Durante séculos, sempre que os herdeiros recebiam o seu património tentavam preservá-lo e mesmo aumentá-lo, relegando para um segundo plano a subserviência que a ele estivesse ligado. Foi assim no início da nacionalidade portuguesa e continuou pelos séculos fora até aos dias de hoje, muito embora nem sempre os recetores de tais domínios não os soubessem preservar com dignidade.
Hoje são inúmeros os casos em que se desbaratam todo o património e sobre isso não se chega a ter muitos remorsos, pelo menos aparentemente. Em Portugal há exemplos demasiado recentes e tão gravosos que nos chegam a entrar nos bolsos sem que esse património nem sequer nos pertencesse. Mas temos de pagar. A herança que se manteve tanto tempo na família Espírito Santo, foi simplesmente alienada, desaparecendo não se sabe bem como nem para onde, mas chamando o Estado e o povo a pagar tal desmando. Não é justo.
Pior que isso é receber uma herança embrulhada em papel celofane brilhante e verificar que ao desembrulhar tal dádiva ela não é senão um monte de papéis de dívidas, obrigando o herdeiro a pagá-las. Foi o que aconteceu quando Sócrates dexou a sua herança ao governo que se lhe seguiu. Este teve de tentar solucionar o melhor possível a situação, com encargos demasiado penosos, mas com resultados positivos, levando o país para um patamar de confiança internacional, granjeando-lhe novamente as possibilidade de se movimentar bem nos mercados internacionais.
As últimas eleições ganhas pela coligação PSD/CDS-PP acabaram por levar a um governo igualmente de coligação, mas de sentido contrário, acabando o PS por formar governo. António Costa, guindado a primeiro ministro sem esperar, tem tido alguma dificuldade em engulir os sapos que lhe aparecem no prato.
O mais recente ato eleitoral, levou à vitória do centro-direita, relegando os socialistas, desfeiros e completamente divididos, para um patamar absolutamente secundário, englobando no mesmo saco de desconforto um partido comunista que não contava com tal expressão percentual. E como a culpa não quer morrer solteira, há que eleger alguém para com ela aguentar. Claro que foi o BE e a cara linda da Marisa, coisa que custou a engulir a Jerónimo levando-o a desabafos impróprios para a sua posição! Enfim!
Isto põe em cheque a coligação e os acordos que com ela tem Costa e os socialistas. Contudo o governo já veio dizer que tudo está bem e o mesmo fez Jerónimo de Sousa, embora deixando no ar avisos à navegação que levam António Costa a ter de se orientar pela bússola, já que navegar em alto mar às escuras, pode levá-lo a outro porto nada seguro.
Tudo isto levou a que também eu me desviasse da questão dos legados e heranças. Pois é, este governo ganhou como legado um Portugal na rota certa, com um património seguro e fiel e que era necessário manter e alargar para chegar a bom porto com todos os portugueses abordo. No entanto, o que está a acontecer é precisamente o contrário. António Costa além de estar a desbaratar o património recebido, promete reforçá-lo, engrandecê-lo e deixar todos os portugueses contentes e felizes. Simplesmente utópico!
Esta atitude de desperdiçar o legado recebido e tentar remendar o orçamento que terá de aprovar com a benção de Bruxelas, está a arrasar o governo e a encostar Costa à parede, por mais que diga que terá de haver um acordo. Ora isso também nós sabemos. Claro que terá de haver um acordo, só resta saber é se ele será proveitoso aos portugueses ou se os arrastará novamente para um precipício, retirando-lhes tudo o que lhes está a dar e a prometer, como também já está a acontecer.
Na verdade, já não vai haver reposição da sobretaxa do IRS, já não vai descer o IVA da restauração para os níveis prometidos, etc, etc, obrigando-o a desdizer o que disse e a faltar às promessas acordadas quer com os portugueses, quer com os parceiros de coligação que agora apertam com o governo, não se sabendo quanto mais tempo ele irá durar. Outro legado quase perdido!
E este é muito perigoso. Tão perigoso que o põe tão nervoso que volta a chamar a Passos de primeiro ministro em pleno Parlamento. Que desatino! Ou será que já está a treinar para o governo que se segue?´É o que acontece quando se perde tudo o que se herda, desbaratando um legado coeso, tranformando-o num saco esburacado.