Batista Jerónimo

Batista Jerónimo

Legitimidade da GREVE sim, mas …

Existem relatos do termo greve ter sido usado no final do século XVIII. No século XX atingiram a seu ponto alto (exagerado ou o necessário?), já como um direito dos trabalhadores manifestando-se pela “interrupção temporária, voluntária e colectiva de actividades ou funções”, como forma de protesto ou de reivindicação, com o propósito de obter direitos ou benefícios, desde o aumento da remuneração, melhores condições de trabalho ou ainda para evitar a perda de benefícios seja da parte da entidade empregadora, ou por iniciativa legislativa. Acrescentarão outros (associações patronais e partidos de direita), também usada: como “arma política dos partidos de esquerda”.

Com o 25 de Abril as greves são reconhecidas como um direito e são vistas como a manifestação da indignação dos trabalhadores. Foi com Cavaco Silva e o incontornável poderoso dirigente sindical Torres Couto que os sindicatos tiveram mais força e impacto na vida social de Portugal. Está na lembrança as altercações verbais públicas, pois em privado não seria bem assim, antes pelo contrário.

As conquistas alcançadas pelos trabalhadores, protagonizadas pelos sindicatos, geralmente pelas greves, são de uma importância sem paralelo. No século XX, os trabalhadores conseguiram o direito de serem humanos, terem nome, horário de trabalho, férias, subsídio de Natal e de férias, leis de protecção laboral, salário mínimo, acordos na saúde pública, seguros de trabalho, direito à reforma, entre outros.

Portanto, as greves foram decisivas para o desenvolvimento harmonioso entre os trabalhadores e as entidades patronais, seja na vertente laboral ou humana para os primeiros, na valorização patrimonial e rentabilidade das empresas e para os Estados pelo crescimento económico, paz e desenvolvimento social. Dito assim podemos concordar: DITOSAS GREVES.

Até poderia ser assim, mas não é. As greves, na generalidade, acarretam sérios e inultrapassáveis problemas a terceiros, a gente que vê complicada a sua vida e nada tem a ver com a razão ou não da greve - danos colaterais dirão uns. Será? Então o casal que tem a operação marcada para o filho e ficou retida no aeroporto? O empresário que tinha um negócio para fechar? O filho a quem lhe foi comunicado que o progenitor(a) está em estado terminal e tem x tempo para a despedida? O trabalhador que tem que se apresentar ao trabalho? O medicamento para salvar uma vida que não chega ao destino? A operação ou consulta aguardada há Y meses? O teste covid que terminou o prazo de validade num país que não é o seu?

Serão estes “danos colaterais” que estão a tirar protagonismo aos sindicatos ou, será que as condições de trabalho chegaram a um patamar que já se dispensam os sindicatos e as greves?

Vou mais pela primeira, pois pela segunda, se mais não fosse, seriam necessárias para repor os direitos laborais perdidos, sonegados, pelas justificações injustificadas do défice nas contas públicas, excesso ou não qualificação de mão-de-obra, divida soberana, saúde financeira dos bancos, custos de uma pandemia e outras mais para o trabalhador pagar com os seus impostos.

As greves só aparecem por incapacidade negocial dos envolvidos (sindicatos e associações patronais), intransigências exacerbadas; a não colocação no lugar do outro; sobrevivência e/ou necessidade de mostrar poder (sindicatos e governo).

Senhores negociadores, depois de três séculos do nascimento das greves, ainda não foi possível inovar, reinventar, criar uma outra forma de luta que não acarrete danos colaterais?

Bragança, 22/07/2021

Baptista Jerónimo


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