Luis Ferreira
Luta contra o tempo
O tempo é uma moeda de troca para quase tudo. Diz-se que o tempo tudo faz esquecer, que o tempo tudo apaga, que o tempo é uma escola da vida, que não se deve correr atrás do tempo, enfim, muitas coisas se dizem, mas penso que o tempo é uma invariável que não se modifica por nada deste mundo. Dizemos frequentemente quando estamos mal que, temos pouco tempo de vida, quando deveríamos dizer que temos pouca vida no tempo interminável. O tempo não tem fim e tudo acontece no tempo.
Diz-se também que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem, o que equivale dizer que o tempo é só um e todo o tempo lhe pertence. Ora assim sendo, nós pertencemos ao tempo. Mas seja como for, gostamos de medir o tempo, de contar o tempo e ver quanto tempo temos para fazer uma tarefa, seja ela qual for. E aqui, talvez, possamos lutar contra esse tempo que pode ser comensurável, já que tem o fim para a tarefa proposta. Roubamos simplesmente um pouco de tempo ao total do tempo que governa o universo.
É perante este paradigma temporal que a conjuntura atual nos posiciona. Se por um lado nós não sabemos quando é que a pandemia nos vai deixar, por outro sabemos que vamos ter eleições legislativas no dia 30 deste mês. Não há mais tempo. O que os partidos políticos enfrentam agora é uma luta contra o tempo e, quiçá, contra os eleitores. Mas será que a questão da pandemia e as eleições estão relacionadas? Claramente. A luta não é só contra o tempo, é também contra a pandemia.
A verdade é que os eleitores se vêm constrangidos perante o ato eleitoral já que têm receio de ir até às urnas para descarregar o seu voto. Há um medo latente que vai impedir muitos eleitores de sair de casa para votar. A pandemia está cada vez mais a afirmar-se em todo o território português e a levar muitos a um confinamento indesejável que, por sua vez, os vai impedir de sair de casa para votar. Numa altura em que é urgente eleger um novo governo e virar a página, como se diz, eis que há impedimentos externos à vontade popular e governativa e aqui, nem o tempo é chamado a decidir seja o que for. Esta relação, não gostaríamos que existisse, mas existe.
Felizmente os partidos políticos gozam do privilégio de poderem transmitir as suas ideias pela comunicação social, onde as televisões têm primazia apresentando debates entre os líderes partidários. Mas não podem exceder um tempo marcado: 20 minutos, ou seja 10 ou 12 minutos para cada um. Tempo demasiado restrito, mas que não estica e é para cumprir.
O que acontece é que eles nesses debates lutam contra o tempo para conseguirem responder e explicar o que pretendem para o país. Não conseguem. Atropelam-se as ideias, entaramela-se a língua e as palavras não saem com a fluência que deveriam. Há coisas que não devem ser feitas à pressa.
O que temos visto nestes frente a frente é mais do mesmo. Repetem-se as mesmas ideias que todos conhecemos porque não se pode inovar coisa nenhuma sob pena de não ter tempo para explicar coerentemente o que se pretende. A pressão que o entrevistador exerce sobre os líderes é tanta que os baralha e, as interrupções que fazem ainda mais os confundem quando estão no meio de uma explicação qualquer. Pouco se retira do que realmente dizem. As ilações são feitas depois pelos analistas que, assumidos em suprasumo da matéria política, nos fazem crer que A ganhou a B ou C ganhou a D. Pura retórica. Nós também sabemos analisar e vemos quem nos agradou mais ou menos no que disse ou defendeu.
O mês de Janeiro vai assim ser uma corrida contra o tempo. As campanhas a sério estão quase a começar e o país vai ser invadido por enormes paragonas políticas onde as frases mais chamativas terão lugar para convencer os portugueses mais indecisos a escolher o seu futuro primeiro ministro.
Acabados os Reis em que ninguém votou, cabe-nos agora eleger o rei que nos pode governar nos próximos quatro anos, ou não. O problema não é de fácil resolução. As equações estão feitas, resta resolvê-las. Incógnitas todas as têm, mas qual será o resultado?
Para os estudiosos de Matemática, podemos dizer que há aqui um sistema de três ou quatro incógnitas, o que torna a sua resolução muito mais difícil. Teremos de aguardar para ver se o povo português consegue chegar a um resultado que agrade à maioria.
Vai ser uma luta contra o tempo, como já estamos habituados. Não haverá muito de novo, a não ser que estas eleições estão no tempo errado. Se o tempo não fosse tão enorme como é, talvez tudo se tornasse muito mais difícil, já que seria necessário incluir no tempo certo, um tempo errado, mas o tempo não se importa. Enfim!