Barroso da Fonte

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Minas de Jales alertam contra lítio em Morgade

A Voz de Chaves de 10 deste mês publicou uma notícia breve mas aterradora:«abatimentos de solo nas antigas minas, forçaram a Câmara de Vila Pouca a alertar, no dia 20 de Dezembro, na página oficial da Assembleia, para a urgência em tomar medidas contra «a inércia  da Direção Geral de Energia e Geologia» que já se manifestaram há cinco anos e que em Fevereiro de 2018, voltaram a assustar as populações. «Em 2019 os abatimentos multiplicaram-se e a Empresa de Desenvolvimento Mineiro, classificou a situação de elevada complexidade e elevado risco por se localizarem em zonas habitacionais». Exemplifica a notícia com um novo abatimento em 22 de Novembro último na EM1172-I que obrigou a Câmara a fechar o troço afetado, com todos os entraves, receios e sujeições de pessoas e bens.

Se aquela Direção geral foi alertada há quase cinco anos, como escreve e noticia, quando houve o primeiro abalo e só em 20128, quando ocorreu um segundo aviso, aquela entidade responsável ali se deslocou para uma visita técnica, mal vão as coisas para aquelas populações que ali gastaram anos de vida, para extraírem do chão aquilo que os prendeu à terra – essa mesma terra que pisam e que os pode enterrar, se o Estado os ignora, quando são dignos do pão amargo que ganharam em tempos de fome.

Não haverá notícia mais oportuna para ilustrar o perigo e o drama de quem ali vive. Chegou ma mesma distribuição do correio, no semanário A Voz de Trás-os-Montes. Aí se lê que o Ministro do Ambiente, João Matos Fernandes anunciou em 27 de Dezembro, na Inauguração do Parque Verde Engº Aires Ferreira, que a exploração de Lítio deve avançar em Março de 2020». Nessa local afirma o ministro que só não conhece o «calendário da aprovação de um decreto-lei que tem de ser promulgado pelo Presidente da República. Quero acreditar que, até final do primeiro trimestre de 2020 a exploração de lítio tenha o seu início. Acredito – diz o governante – que exploração de lítio é uma grande oportunidade para Portugal, sendo necessário conjugar tudo isto numa nova estrutura legal. Matos Fernandes afirmou nessa inauguração que o «governo quer criar um cluster do lítio e da indústria das baterias e vai lançar um concurso público para atribuição de direitos de prospeção de lítio em nove áreas do país. A aposta faz parte da proposta de Orçamento do Estado para 2020»

Este foi o tal governante que no mandato anterior, uma semana antes do flagelo dos incêndios, se gabava de que com «eles» os incêndios estavam controlados. A praga não lhe caiu-lhe na calvície. Mas por azar caiu nas cabeças de uma centena de inocentes. Com essa arrogância poderia ter aprendido a seguir a moderação. Mas foi o contrário. Ao longo do ano anterior e, mesmo no âmbito da exploração do lítio, Matos Fernandes, mais o seu Secretário de Estado, João Galamba, em pouco tempo, já deveriam ter aprendido a lidar com o povo Transmontano que é muito hospitaleiro e muito agradecido a quem o sabe respeitar. Mas também sabe reagir quando algum espertalhaço lhe  fala grosso e com altivez.

O mesmo ministro, falando sobre esta temática do Lítio, já demonstrou que é ele que sabe e que tem poderes para fazer tudo o que bem entender. O povo da freguesia de Morgade que tem mais duas povoações: Rebordelo e Carvalhais e que têm queixas a fazer contra antigas explorações mineiras, já boicotou dois atos eleitorais. Já constituiu uma Comissão para zelar pelos interesses do povo. E já deu indicações seguras de que a paciência tem limites. Tem dirigentes esclarecidos e caldeados na universidade da vida Barrosã. Todo o pão que comem - eles e todos os barrosões - é ganho pelo suor do seu rosto. Ainda hoje tiram o chapéu e dão os bons dias e as boas tardes a quem passa. São rudes na aparência, mas nobres no trato, nos negócios e no civismo do quotidiano. Mas quando alguém fala da capoeira, como sendo gente de outro mundo, esse Povo Barrosão, ao qual pertenço, pode perder as estribeiras e reagir a quente. Peço aos meus conterrâneos que não façam isso ao longo do período negro que se avizinha por por causa do lítio. O exemplo que leio sobre  os terrenos que foram as Minas de Jales, assusta-me porque, «quem tem cu tem medo». Andei na guerra e sei quanto isso representa para quem fugiu ou meteu cunhas. Escrevo esta nota quando ouço na televisão que o avião abatido com um míssil, foi obra do diabo. Algum desmiolado governante clicou na tecla errada. Foram 176 inocentes mortos. Foi no Irão. Podia ser em qualquer outra parte do mundo. Este é o preço da prepotência, da superioridade e da ignomínia.

Termino esta reflexão com os olhos posto na notícia, da Lusa, que está na pagina 21 da Voz de Trás-os-Montes. O ministro Matos Fernandes afirma «para os menos entendidos que o lítio é um metal precioso, cada vez mais utilizado nas baterias elétricas dos automóveis. Boticas e Montalegre têm um subsolo rico em lítio e que estão na mira das empresas que querem dedicar-se a essa expropriação. O polémico Ministro,lança este aviso à navegação: «ainda que as populações e os próprios autarcas, sejam contra, é muito provável que a exploração de lítio avance nos primeiros meses deste novo ano». Esta informação, prestada neste tom, em ambiente tão agitado, a curtas semanas do prazo anunciado, quando se esperava que os habitantes fossem consultados, antes dessa obra começar, afigura-se uma afronta. Oxalá  mude de tom o diálogo que o bom senso recomenda.

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