Chrys Chrystello

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Morte aos velhos

Quando isto tudo passar espero que tenhamos todos muita vergonha pela forma como, durante esta crise, nos manifestamos em relação às pessoas mais velhas.

Os velhos

Escreve hoje a Mariana Machado

Quando isto tudo passar espero que tenhamos todos muita vergonha pela forma como, durante esta crise, nos manifestamos em relação às pessoas mais velhas.

Desde respirarmos de alívio nas fases iniciais porque "é uma gripe que só mata os velhos" até não termos uma estratégia bem definida para proteger os mais frágeis (que não são só os mais velhos), nem haver qualquer preocupação acrescida com o que se está a passar em vários lares no país inteiro. Olhando para Itália e Espanha só uma grande negação (ou perversão) é que não nos deixaria prever este cenário.
Espero que tenhamos muita vergonha de nos mostrarmos abertamente como uma sociedade que se está a cagar para as pessoas que nela têm mais conhecimento acumulado e que no fundo nos tornaram o que somos. Nem todas as pessoas mais velhas que morreram ou irão morrer estavam demenciadas e incapacitadas de comunicar (e mesmo que estivessem esta bestialidade não se justificava), muitas ainda teriam carinho para dar aos netos, filhos, cônjuge, amigos e muitas ainda teriam capacidade de nos transmitir conhecimento, muito dele de uma ordem especial, a que só o tempo permite aceder

Mas será que ela não sabe que os velhos são chamados nos EUA e Brasil a  morrerem para salvar a economia, que é o dom mais importante da vida na Terra.

Sem economia não haverá seres humanos, assim no-lo dizem esses líderes desses grandes países, enquanto em volta novos e velhos morrem que nem tordos.

Com eles igualmente limpamos as cidades de indesejáveis, esses seres sub-humanos que constituem os sem-abrigo que só servem para poluir a beleza de Nova Iorque e do Rio de Janeiro.  Sem falar já desses sub-humanos que pululam nas favelas e servem apenas para manter gangues criminosos e teias de droga.

Com eles irão também os drogados todos que se arrastam pelas esquinas e cometem crimes, sabemos que os drogados são todos criminosos mesmo que tenham sido heróis na guerra do Vietname, do Iraque e outras guerras que os EUA espalharam pelo mundo.

Não se trata de eugenia, mas apenas da aplicação das leis de Darwin em que só os mais fortes sobrevivem e todos sabemos bem que os mais fortes, são os mais poderosos, os mais ricos, cuja inteligência os alcandorou aos lugares de prestigio que hoje ocupam na sociedade.

Precisamos do sacrifício desses velhos todos para que cedam o lugar aos mais novos a fim de estes sobreviverem e manterem a máquina capitalista da escravatura bem oleada, pois é do conhecimento geral que os velhos só acarretam despesas com a sua manutenção, doenças, asilos, tratamentos caros e é uma falácia pensar que os descontos que fizeram na sua vida produtiva dão para os manter nos longos anos de vida que ainda têm hoje. Dantes  quando se finavam novos, pelos 60 ou 70 talvez fossem sustentáveis, agora chegando aos 80 e 90 anos, é incomportável manter tanta gente improdutiva e ninguém liga ao que os velhos dizem, pois estão desajustados deste novo mundo tecnológico e de progresso em que vivemos.

Claro que depois desta praga viral o mundo será um local muito mais agradável para se viver, com menos uns milhões na Índia e em África e no resto do mundo e com esses será possível reconstruirmos a máquina produtiva do capitalismo que nos trouxe a prosperidade até ao século XXI.

Admirável mundo novo este em que vivemos, bem mais perfeito do que Orwell ou Aldous Huxley conseguiram imaginar nas suas obras de ficção.

Com as pessoas aterrorizadas e confinadas nas suas casas conseguiremos manter a ordem mundial e evitar males maiores, até atingirmos o governo único mundial. Claro que nestas coisas haverá sempre alguns danos colaterais mas os fins justificam os meios e a sociedade sairá mais fortalecida depois disto.

 

PS: Apenas uma coisa espero, é estar profundamente errado neste raciocínio causticamente pessimista e quero crer que haverá neste mundo uma mão cheia de idealistas, novos e velhos, capazes de evitar o cenário descrito.

Claro que seremos na maioria poetas, utópicos cuja única arma são as palavras.

 

Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício 297713 [Australian Journalists' Association MEAA]- Diário dos Açores (desde 2018) Diário de Trás-os-Montes (desde 2005) e Tribuna das Ilhas (desde 2019)

 

 


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