Manuel Igreja
Mundo Louco
O mundo de vez em quando fica louco. Ensandece completamente e não sabe o que faz. Perde o tino. Não digo o mundo bola azul que gira em redor do sol sempre da mesma maneira dando lugar aos anos. Não. O mundo a que aludo é o dos homens nos quais nos incluímos. Vossemecê e eu. Sim.
Noutras épocas, neste nosso pequeno universo, quando nem todas as pessoas eram tidas como gente, para que uns senhores fossem mais poderosos, passava-se a vida em batalhas. Depois, a tormenta amainou. Cada qual passou a ser equiparado a cidadão, mais coisa menos coisa. Com a desculpa da ideologia ou da religião, as guerras espaçaram-se no tempo. Umas décadas entre elas.
Eram terríveis como guerra que se preze. Findas que eram, a humanidade depois de dar o pior mas também o melhor de si, voltava ao seu lugar na escala universal, ciente que este no cômputo geral era para aí um degrau acima de cão. Sentia-se que a nossa suposta grandiosidade mais não era nem é do que um pontinho ténue no cosmos.
Na Europa, na civilização ocidental, que se deu ao trabalho de em trinta anos se destruir selvaticamente por duas vezes, parecia que os auspiciosos dias eram adquiridos. A barbárie perpetrada na primeira metade do século XX tinha servido de lição. A democracia floresceu, a igualdade estendeu-se razoavelmente mais, a moral fortaleceu-se e a solidariedade deixou de ser palava vã.
O nosso mundo estava bastante mais nos eixos. Os investidores investiam, os trabalhadores trabalhavam, os líderes lideravam. Tudo isto obviamente sem qualquer valor absoluto, mas lá se ia cantando e rindo. Sem arrogância bem que se pode afirmar que caso o resto da humanidade seguisse o nosso exemplo, a vida no globo seria bem melhor e mais justa. O ruir do império dos “amanhãs que cantam” bem o demonstrou.
O problema é que a páginas tantas as coisas descambaram. Escancarou-se tudo a todos, a ganância tomou conta dos destinos, os líderes deixaram de ter estofo e os cidadãos tornaram-se crescentemente alienados ansiosos por bens fátuos. Por falta de visão e com desleixo, criaram-se as condições de incubação para a serpente no ovo.
Os interesses escusos, o fanatismo e a insanidade mental, estão a fazer nestes nossos dias o mundo um lugar inseguro. Não só este nosso, mas todo ele, pois os lacraus escondem-se em qualquer pedra em todos os lugares. Seguem a estratégia que lhes permite espalhar o terror, procurando levar-nos ao ponto em que desconfiaremos da nossa própria sombra.
Caso o consigam, será essa a sua vitória final. Perderam-nos o respeito e julgam que o conseguirão. De resto encaminhamo-nos para isso. Lidar com a loucura não é fácil. Sobra-nos a inteligência, a essência que faz avançar e que tudo faz mudar. Haja lucidez da nossa parte e eles não vencerão. Não podem.