Teresa A. Ferreira
Não desisto de ti: Minha Terra, Muito Amada
Quando a cegueira do coração não permite constatar a realidade, há que quebrar o encantamento para voltar a ver.
Nasci numa terra de lendas e encantamentos, cujas premissas foram alimento para muito se investigar e escrever: no plano científico e académico; e no plano puramente literário.
Sendo a minha terra um portento em Património Cultural e Natural, como há muito venho divulgando, a única vila do concelho de Mirandela e por ela deixada a morrer ao abandono, entristece-me saber que os seus habitantes vivam resignados ao pouco que têm, supondo que não precisam de mais.
Há aqui um caso de estudo, que deixo para os sociólogos e psicólogos analisarem:
— Por que razão os habitantes da vila de Torre de Dona Chama, que cada vez tem menos de tudo, vivem conformados?
Em várias ruas da vila, não há passeios. E se formos ver as aldeias anexas: Guide, Mosteiró e Vilares… é para esquecer. O caso torna-se mais gritante nas ruas de acesso à Escola Básica 2/3. As crianças que fazem o trajeto pela estrada R206, uma das principais artérias de acesso à vila, têm de caminhar na estrada ou na berma de terra, conforme haja ou não carros estacionados. Estão à espera de um atropelamento para agir?
Pois, bem: façam o favor de efetuar uma vistoria à Escola Básica 2/3. Há, por lá, várias avarias por resolver.
Os jardins e espaços ajardinados, já viram melhores dias. Não foram abandonados por falta de água, visto que há duas roturas de água na via pública (Largo do Pelourinho e junto à Rua João António Gonçalo), com meses e meses, e nada se fez para serem reparadas.
Pululam pelas ruas cães vadios, fazendo os habituais estragos nos jardins, deixando dejetos em qualquer lado e indo procurar alimentos aos contentores do lixo. O canil da autarquia deveria recolher estes animais se, para tanto, alguém o informasse da gravidade da situação.
Os contentores dos resíduos sólidos, sofrem de grave maleita: não há recolha enquadrada com o número de residentes e a produção habitual de resíduos. Há manifesta desadequação deste serviço em relação à população, fazendo com que os contentores permaneçam a transbordar, sendo um ponto de interesse para os animais vadios que fazem a festa e espalham o lixo.
Os candeeiros de iluminação pública, são para enfeitar; não, para iluminar as ruas — dado que alguns passam meses e meses às escuras, sem que se informe a E-Redes da avaria. Depois de submetido o pedido, a E-Redes compromete-se em reparar a avaria em 5 dias. https://balcaodigital.e-redes.pt/anomalies/public-light
Há imensas casas a ruir, outras já desmoronaram, inclusive no Centro Histórico da vila. Que belo postal se oferece aos turistas e visitantes! Algumas casas, estão em tão avançado estado de degradação que constituem perigo para quem circula na via pública. O Serviço Municipal de Proteção Civil, tem de atuar urgentemente, assim como os órgãos autárquicos, notificando os proprietários para que se cumpra a lei. Caso estes não cumpram, a autarquia deve tomar posse administrativa das casas e proceder às obras necessárias, conforme o estipulado na lei.
Andando pelas aldeias anexas, o desleixo que existe na vila perpassa para elas.
Em Mosteiró:
1 — A ETAR tem a tampa partida, fazendo libertar um cheiro nauseabundo;
2 — O rio Tuela está cheio de detritos carecendo de uma limpeza séria;
3 — Os espaços públicos não são limpos, faz um bom tempo — têm ervas enormes debaixo dos bancos. E quando lá vão limpar, carregam-lhe com herbicidas.
E agora vamos à Joia da Coroa.
A Ponte da Pedra, é uma ponte romana sobre o rio Tuela e Monumento Nacional. Está, há que vidas, cravejada de silvas e arbustos, a montante e a jusante, dando liberdade às infestantes de disseminarem as raízes. Quem assim cuida de um Monumento Nacional, não me pode pedir silêncio, que nada diga sobre o que vai mal na nossa terra, que isso prejudica a imagem da terra, que e que…
Quem prejudica gravemente a população e a imagem da terra, são os nossos autarcas. Em vez de fazerem o que lhes compete — e para o qual foram eleitos —, andam a brincar com o povo.
Vejam bem:
1 — O município de Bragança tem 32.867 residentes e Mirandela 20.885. Uma diferença de cerca de 12.000 residentes — dados dos Censos de 2021: INE.
2 — O orçamento geral do município de Bragança, para 2022, é de 43 milhões de euros, cabendo a cada residente, um valor de 1.308 €.
3 — O orçamento geral do município de Mirandela, para 2022, é de 46,6 milhões de euros, cabendo a cada residente, um valor de 2.232 €.
Na discussão do orçamento de 2022, em Mirandela, não houve nenhuma verba para obras para a freguesia de Torre de Dona Chama. O Presidente da Junta de Freguesia, nada disse e aceitou sem levantar nenhuma questão, como vem sendo hábito em todas as reuniões de câmara.
Com um orçamento tão avultado, a Presidente da Autarquia de Mirandela, nada dá à freguesia de Torre de Dona Chama, para obras e melhoramentos.
Isto é tão, mas tão grave que nem tenho palavras para adjetivar.
Apetece-me dizer:
— Ainda que os ventos sejam contrários, continuarei a amar-te e a lutar por ti, Minha Terra, Muito Amada.
Texto e imagens:
© Teresa do Amparo Ferreira, 20-02-2022
Foto 1: Pelourinho de Torre de Dona Chama
Foto 2: Berrão de Torre de Dona Chama
Foto 3: Ponte da Pedra, sobre o rio Tuela, Monumento Nacional Romano, Torre de Dona Chama