Chrys Chrystello

Chrys Chrystello

Não faça planos, eles já os fizeram por si

É oportuno recordar um conselho de Confúcio: “se tiveres planos para um ano, planta arroz; para dez anos planta árvores; para cem anos, educa as crianças.” Em democracia, isto seria muito difícil pois os políticos desta sábia visão não seriam reeleitos.

crónica 365, não faça planos, eles já os fizeram por si

Com esta história do Covid se não morremos da doença, morremos da cura, mas entretanto os nossos direitos constitucionais podem ainda ter utilidade e ser usados como papel de parede. Aproveite para usar sempre a máscara, já não precisa disfarçar o sorriso. Aceite o que os governos e a OMS lhe mandam, é para seu bem e no fim, ainda lhe oferecem a vacina (a da gripe existe há décadas e a gripe continua como há séculos mas podia ser pior, dizem-me). Fazem bem os que não ouvem os cientistas (enganam-se tantas vezes…) e os que antecipam cataclismos, tudo pode acontecer, um meteoro destruidor (como já sucedeu); um tsunami avassalador, a erupção de Yellowstone ou Cracatoa. Nesta indiferença suicida, aproveitem os dias que restam antes do fim, continuando a poluir os oceanos com os plásticos, que já comemos na alimentação diária, que já respiramos e absorvemos nos pulmões, beba a água que falta em muitos cantos do mundo enquanto não paga por ela e enquanto a torneira estiver aberta. Quem sabe, se a IA (inteligência artificial), que povoa fábricas e escritórios, finalmente decide que não temos inteligência suficiente para continuar a viver e nos condena ao extermínio, como fizemos a tanta civilização que descobrimos quando explorávamos os oceanos (lembro-me de Pizarro e Cortéz nas Américas).

 

Por isso, continue a proferir palavras e desejos ocos; mas cheios de boas intenções; deixe-se absorver pelo consumismo exacerbado a que a massificação da propaganda o impele; compre, mais, sempre mais; endivide-se a si, aos filhos e aos netos para “possuir” bens materiais de que não necessita (embrulhados em plástico brilhante para poluir  visivelmente) mas que lhe dão imenso gozo possuir mesmo que não os use (por exemplo um catamarã para navegar no Saara, um avião para estacionar na ilha do Corvo; um submarino para a Lagoa do Fogo; acredite que tem muitos amigos no Facebook; sinta que é um bom católico e vá à missa, aos enterros e outras funções (quando não espezinha os que se cruzam consigo ou se esquece dos ensinamentos dos livros sagrados); pense que é um bom patrão (só por ser condescendente com os súbditos, perdão, agora chamam-se “colaboradores”); estacione no lugar dos “deficientes (só demora um minuto) sempre que não encontre lugar à porta do supermercado; continue a ignorar como se circula numa rotunda; use a faixa do meio ou a da esquerda quando há mais do que uma nas autoestradas e vias rápidas; atire lixo ou beatas de cigarro do veículo em andamento ou se for a andar atire para o chão que a papeleira está a 50 metros; e terá, à sua frente, um futuro tão brilhante quanto o de Marco Túlio Cícero, advogado, político, escritor e filósofo. A sua influência na história da prosa subsequente é enorme. A ele se deve a introdução e o desenvolvimento da filosofia grega no mundo romano, bem como a criação de um vocabulário filosófico novo que incluiu termos como evidentia, humanitas, qualitas, quantitas e essentia. Morreu em 43 a.C. de morte matada. As suas mãos e a cabeça foram publicamente exibidas por ordem de Marco António. Se ainda não deu destino aos seus bens, pense nisso, pode  não os ter amanhã ou não os poder utilizar. Quando os empregos acabarem vai viver de quê?

 

Há tanta civilização, conhecida e desconhecida, que desapareceu da face da terra. Algumas deixaram rastos visíveis, outras sumiram e nem conseguimos interpretar os vestígios para avaliar as causas do desaparecimento, é conjeturável que o mesmo suceda à nossa. Tudo começará do zero, com os sobreviventes, se os houver, e como a História nos ensina, serão os tecnologicamente menos atualizados, como os aborígenes australianos em contexto tribal. Demorará milhares de anos a evolução tecnológica e até lá ficarão a pairar nos céus satélites obsoletos, perecerão as torres de comunicações indispensáveis à civilização atual, a natureza ocupará os edifícios abandonados, as areias enterrarão os exageros dos Emirados Árabes, e, alguém descobrirá os vestígios desta civilização como descobriram Borobodur[1] ou como descobrimos cidades Maias, em plena selva, soterradas por séculos de abandono.

E termino parafraseando um mago da música, Roger Waters: "This species has amused itself to death” que é como quem diz “esta espécie (humana) divertiu-se imenso até à morte”. Seja feliz enquanto pode.

. Chrys Chrystello, Jornalista,

Membro Honorário Vitalício nº 297713 [Australian Journalists' Association] MEEA]

[Diário dos Açores (desde 2018)

Diário de Trás-os-Montes (desde 2005) e

Tribuna das Ilhas (desde 2019)]

 

 

 

 

 

 

 

[1] (Indonésia, Java, construído no séc. IX e ressurgido em 1814 ou em 1860 parte de Angkor Vat, Camboja, que ainda não foi totalmente redescoberto)


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