Ana Soares
Não fui eu, foi ele!
Desde os tempos do Colégio, que me lembro de ser avessa às culpas que morriam solteiras e ao discurso do “não fui eu, foi ele”. Lembro-me até de, quando a situação apertava, assumir culpas que não eram minhas, sendo que – diga-se em abono da verdade – como era muitas vezes a cabecilha do grupo de Amigos era eu que dava a cara por algumas ideias mais idiotas do que acertadas que tínhamos em conjunto. Talvez também por isso, a par do meu mau feitio, tenha sido apelidada de “Extreminadora”. Estava lá para o que desse e viesse e penso que ainda hoje mantenho essa firmeza de carácter. Graças a Deus.
Em política, a assunção de culpa é certamente realizada de uma forma diferente – ninguém espera que se assumam culpas de terceiros e ainda bem! – mas deve ser realizada com a mesma frontalidade e ainda com mais firmeza. Quando se pretende assumir apenas os bons resultados de uma governação ou de decisões políticas tomadas, não é apenas esconder a cabeça debaixo da areia. É mentir, é ser irresponsável, é, enfim, mostrar não ter maturidade para assumir os próprios actos.
Alguns comentários de responsáveis políticos, nomeadamente do Primeiro-Ministro, a acontecimentos dos últimos tempos – e, apenas a título de exemplo, nomearei os jantares no Panteão Nacional e as catástrofes particularmente trágicas dos incêndios – lembram-me a velha história do chefe que, não sendo líder, assume as vitórias da equipa como sendo dele próprio e os fracassos como culpa dos seus colaboradores. No caso português, ainda conseguimos aumentar o disparate desta velha parábola, ao nem sequer assumir os erros como da própria equipa, preferindo arremessar culpas para quem antecedeu.
Dir-me-ão que não é caso único e, sejamos honestos, não é. Infelizmente já é costumeiro o assobiar para o ar quando decisões políticas não têm os resultados desejados. Mas não me lembro de ter acontecido a este nível e com este carácter rotineiro. Não me lembro de se tentar culpa uma lei geral e abstracta por uma autorização que carece necessariamente de uma autorização concreta e casuística.
Algo vai mal na política nacional. Enquanto acharmos que os números da abstenção são apenas resultado de jogos de futebol e do clima ameno de Portugal, é querermos tapar o Sol com uma peneira. Mas não haja também dúvida que é o facto de muito de nós nos demitirmos das nossas tarefas de cidadãos, a começar pela auto-destituição dos nossos direitos e deveres políticos, que permitimos que o estado de coisas tenha actualmente esta configuração.
É, pois, tempo de todos nós assumirmos as nossas responsabilidades, a começar por aqueles que estão cansados de ser liderados por quem fica muito bem na fotografia dos sucessos, mas se esconde atrás da coluna quando algo na corre bem. Pelo nosso futuro mas, sobretudo, pelo futuro dos nossos Filhos.