Manuel Igreja

Manuel Igreja

Não há futuro

Calma. Não se apoquente com o título, pois ele não que dizer que não há amanhã depois do hoje que sempre se segue ao ontem. Não senhor. Haverá mais dias ainda que uns mais luzidios que outros como sempre vem sendo desde que o mundo é mundo.

O que eu pretendo dizer é que se deitarmos o olhar, assim como que de uma grande altura, veremos quase tudo lá ao longe e lá para trás, concluindo que a vida decorre em ciclos que se repetem em contextos semelhantes e em circunstâncias que parecendo que se alteram são a modos de dizer sempre iguais.

Existe até quem defenda que o tempo não existe, que a História é uma sucessão sucessiva de sucedimentos que se sucedem sem cessar, que tudo o que acontece se repete ainda que em diferentes dimensões, mas isso são ponteiros de outros relógios, se é que me entendem.

O concreto e o que sabemos e indo somente aos últimos duzentos anos, é que por erros nossos e má fortuna, mesmo dizendo que estamos no tempo moderno e contemporâneo, logo nos apercebemos que as grandes tragédias provocadas por desavenças e cobiças sob a forma de guerras, mais parece que se repetem e se vivem como se o tempo fosse sempre o mesmo, num ontem que parece ser hoje.

Por exemplo, na Primeira Grande Guerra foi-se para a luta com toda a leveza deitando-se foguetório e com a certeza de que era coisa de uns meses, para depois se verificar que durou longos e terríveis anos e que provocou milhões de mortos em todo o mundo que nunca mais foi o mesmo.

Bastaram quatro décadas para que rebentasse a Segunda Grande Guerra em boa parte provocada pelos erros cometidos no findar-se a anterior, e em grande parte motivada e alimentada pelo medo e pelo ódio que dele nasce, naquilo que foi até agora e desde sempre a mais mortífera guerra que de novo tirou o mundo dos eixos e que mais uma vez fez com que ao de cima viesse toda a bestialidade refinada do ser humano quando se lhe tolda a lucidez.

Por estes nossos inquietantes dias, como se não estivéssemos no futuro do que foi aquele passado, como se ainda estivéssemos lá, eis-nos deparados no mundo ocidental, o nosso, com mais uma situação de guerra com contornos tão ou mais inquietantes, mas outra vez com peripécias que fariam corar as hienas de vergonha caso elas tivessem discernimento para noção terem do quão más são só porque matam por matar. Como nós, seres humanos, os únicos que tal fazem a par delas.

Mais parece que evoluímos, mas ao fim e ao cabo, continuamos praticamente iguais ao tempo em que acabados de descer das árvores lutávamos sem o conceito da piedade e da solidariedade. A diferença, é que os que nos antecederam há dezenas de milhares de anos, lutavam para garantir a sobrevivência mais imediata, enquanto agora de briga por causa da ambição desmedida de alguns.

Sobem-se patamares na escala da evolução, mas nada chega a quem insaciavelmente tudo quer, por isso, estamos de novo à beira do precipício que julgávamos estar muito longe de nós, como futuraram outros noutros tempos antes de termos nascido.

Resta-nos a atitude de solidariedade perante os milhões de seres humanos que num pestanejar, viram a vida desabar. A eles que ontem eram como nós, e hoje estão como nós não queremos estar amanhã, essencialmente podemos dizer que há sítios onde já é amanhã, e que tudo faremos para que lhe voltem os dias em que eram felizes e não sabiam.


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