«Nasci com uma vontade terrível de trabalhar». Assim respondeu o Eng.º Manuel Cardoso Simões, ao diretor-geral da PIDE Silva Pais, justificando-se perante uma cabala que aquela polícia política lhe montara e que travava a sua atividade em Trás-os-Montes. Reclamava, pois, para que o deixassem fazer aquilo que melhor sabia: trabalhar. E foi o que fez até aos 96 anos de idade.
Nasceu em Penajóia, Lamego, em 11 de Junho de 1923, numa família de oito irmãos. Formou-se como engenheiro agrónomo no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, em 1947. Mudou-se para Vila Real onde fundou uma das mais dinâmicas empresas fruteiras do país. Trabalhou entretanto nos Ministérios da Agricultura e da Indústria, neste último como director-regional dos serviços industriais de Vila Real. Fundou e dinamizou cooperativas agrícolas na região, foi benemérito de associações e coletividades e é um dos ícones da história da UTAD pois foi um dos fundadores do Instituto Politécnico de Vila Real, que entretanto cresceu para Universidade. Fez parte da sua primeira comissão instaladora e foi co-responsável pela organização dos seus três primeiros cursos.
Poucos o saberão, mas foi a ele que ficou também a dever-se a compra da Quinta de Prados, nos anos 70 do século passado, onde está instalado o campus da UTAD que hoje é também um dos maiores jardins botânicos da Europa. De início negociada, e já com sinal dado, pelo falecido empresário António João Martins (o “João da Salsicharia”), quando os antigos proprietários se mudaram para Guimarães, foi ele quem, num jantar rotário, o convenceu a desistir do negócio para permitir que o Politécnico a adquirisse e aí se instalasse.
Este Homem (com H grande) despediu-se esta tarde (dia 22 de Agosto) de todos nós. Em Vila Real. Tinha 96 anos. Dele fica o exemplo, exemplo raro, de humanidade, altruísmo e vontade indomável de servir os outros.
