Luis Ferreira
Navalha sem fio
Nem tudo neste agosto tem sido a nosso gosto. Na irreverência própria de quem sentia falta de calor para que as suas férias já programadas corressem muito bem, ele lá chegou, embora carregado de alguns cuidados, pois os raios UV viajavam livres pelos ares deste Portugal.
Mas, se fossem somente esses raios, o problema seria em tudo diferente. A verdade é que o calor trouxe ideias retorcidas aos que gostam de ver arder o nosso património e se divertem a incendiar as matas e as casas dos que passaram uma vida inteira a trabalhar e num ápice ficam sem nada. Dos culpados pouco se sabe. Um ou outro foram apanhados e logo a seguir libertados, vá-se lá saber porquê e, ainda um ou outro ficou preso preventivamente. Se os supostos culpados foram presos, nenhum deles foi condenado. A justiça anda devagar e com receio. Até parece que tem medo de esbarrar com culpas demasiado distantes e que, por não estarem bem presentes, registem condenações demasiado graves. Entretanto o país vai ardendo e ficando cada vez mais pobre, arrastando neste vendaval de impropérios, os que não sendo culpados, são deveras julgados e condenados a recomeçar as suas vidas do zero. Justiça? Tudo se resume a algumas prisões preventivas. Não funcionou ainda, mas uns já morreram e outros ficaram sem nada. Justiça! Uma navalha romba!
E o que dirá Rúben, se acordar e se se salvar, quando souber que quem o agrediu, não foi julgado, saiu impune e ainda se vangloria do crime cometido? Pois é, os filhos do embaixador do Iraque, devem pensar que estão acima de todos somente pelo facto de serem filhos de quem são, mas não são. Fartaram-se de fazer desacatos e no momento de serem apanhados mostravam o passaporte diplomático e soltavam-nos. Valha-nos Deus! Mas o que é isto? Será que o passaporte diplomático agora passou a ser um passaporte para o crime impune? Como é que um criminoso deixa de o ser simplesmente pelo facto de possuir um passaporte diplomático e ser filho de um embaixador? Imunidade diplomática é a salvação de todos os crimes. E de quem é a culpa? Que justiça se aplica nestes casos? Pelos vistos nenhuma. Andam todos baralhados e mesmo o nosso Ministério dos Estrangeiros nada faz porque nada pode fazer sem comunicação formal. Fantástico! Por um lado considera-se o embaixador do Iraque como uma pessoa estrangeira a exercer funções políticas no país e que está ligado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros por todas as razões e mais alguma, mas este Ministério nada pode fazer perante um crime cometido pelos filhos do embaixador. Onde está a coerência disto tudo? Mas não basta somente esta vertente caricata da questão pois a nossa justiça também não pode atuar com a força que deveria porque a imunidade diplomática se interpõe e, sendo cidadãos estrangeiros ao abrigo e proteção dessa capa, a justiça está manietada. Entretanto o Rúben está em coma numa cama de hospital sem se saber se se vai salvar ou recuperar de tamanha agressão dos filhos do embaixador. Simplesmente aberrante.
Sinceramente, eu não sei se o verdadeiro culpado deste atentado não deveria ser o próprio embaixador. Quem não sabe educar os filhos devidamente e permite que pratiquem atos desta natureza deveria ser igualmente punido. Escudar-se por detrás de um passaporte diplomático é cobardia e ao mesmo tempo uma credencial para a prática de crimes sem culpa formada.
E perante uma justiça que não funciona, que não corta a direito, temos de aplaudir a atitude da Escola de Pilotagem de Ponte de Sôr ao expulsar os dois alunos iraquianos, proibindo-lhes de continuar o curso naquela escola. Aliás, a última lição deveria ser atirá-los do avião, sem pára-quedas, para que pensassem durante dois minutos, nos crimes que cometeram e se arrependessem antes de chegar ao solo. Podia ser que Alá se compadecesse e os conseguisse salvar. Sempre haveria alguma justiça no meio de tanta injustiça!
Pois é, se a justiça fosse uma Palaçoulo acabada de fazer, talvez muitas destas coisas não acontecessem com esta facilidade.