Alexandre Parafita
Negócio de ricos… angústia de pobres
Aquele inquietante “admirável mundo novo” que Huxley profetizou há mais de meio século parece agora cumprir-se nos augúrios de uma sociedade tecnológica que descobriu um novo “eldorado” em Trás-os-Montes: o lítio. Conhecido como “ouro branco” ou “petróleo do futuro”, este mineral raro usado na produção de baterias, que ganhou particular importância com a crescente massificação das viaturas elétricas, presenteou as terras do Barroso (Boticas e Montalegre) com uma das suas maiores reservas mundiais.
Contudo, a circunstância de as explorações serem a céu aberto, e daí a inevitabilidade das consequências ambientais num território classificado pela UNESCO como Património Agrícola Mundial do Sistema Agro-Silvo-Pastoril, está a provocar apreensão nos ambientalistas e angústia nas populações. A Quercus apresentou já denúncia formal à UNESCO questionando se as explorações de lítio porão ou não em causa a manutenção da classificação. Por sua vez, entre as populações, ganhando veemência a divisa “o lítio ou a vida”, cresce a ameaça da poluição do ar, da água dos poços e rios, dos solos, das hortas, lameiros e pastos, com emissões de partículas finas, que tornarão a vida insuportável, ou até impossível.
Entretanto, distante deste conflito, mas expectante, a indústria automóvel prepara-se para acrescentar fabulosos lucros com tão cobiçado recurso mineral.
De lamentar é que o elo mais fraco seja sempre o interior e as suas populações. Há um ano atrás, por pressões de ambientalistas e autarcas, foi travada a exploração petrolífera a 46,5 km da costa vicentina no Algarve. E porquê? Melhores argumentos?
A resposta é sempre igual: aqui é interior… lá é litoral!
(in JN, 23-8-2019)