Paulo Fidalgo
No lugar do "morto"
Quando nos sentamos num automóvel ao lado do condutor tacitamente confiamos que ele sabe conduzir e conhece o destino da viagem. Por isso, esperamos que a viagem seja segura e útil, ainda que possa ser menos confortável ou interessante do que sonháramos.
Ninguém aceitaria estar no lugar do "morto" com alguém que confessa não ter habilitação técnica e legal para conduzir a viatura e nos confidencia não fazer a mínima ideia sobre que direcção deve escolher.
Significa isto que há uma expectativa de responsabilidade e competência relativamente a quem toma determinadas posições ou ocupa certos lugares.
Usando de bom senso e sentido prático, qualquer bom pai de família espera do seu semelhante uma medida do interesse geral que reflicta um compromisso mínimo entre o interesse próprio e o interesse dos outros.
Se ocupar certos lugares é interesse do próprio toma-se como certo que o candidato a tais lugares tratou de prover-se das competências e vontades para, ainda que com dificuldades e erros, realizar ao menos aquilo que é básico no interesse de todos.
E o maior interesse de todos é a sobrevivência em condições de prosperidade e paz que permitam cumprir projectos de vida à escala das capacidades e ambições de cada um.
Se nos damos conta de que o volante do nosso carro foi inadvertidamente tomado por um incapaz ou um louco certamente mobilizaremos a inteligência e a coragem adequadas para fazer uma de duas coisas: ou retirar-lhe das mãos o poder letal sobre a nossa vida ou saltarmos do carro antes que o estampanço nos faça perder o que mais prezamos.
Sucede que há circunstâncias em que saltar do carro não é opção, porque simplesmente não há para onde saltar.