Luis Ferreira
O ano das multas pesadas
Como em todos os dias 31 de dezembro, damos o salto para um ano novo e desejamos a nós mesmos e aos outros, muita saúde, amor, paz e felicidade. Aqui somos quase todos unânimes a pedir e a desejar. Se por ventura os nossos desejos se pudessem tornar realidade, já imaginaram quão bom seria viver neste planeta? Pois, mas não é bem assim. Penso que os nossos desejos são mais no sentido de dar uma força universal aos homens para que ajam de um modo mais consentâneo com a vontade da maioria. Se todos recebêssemos um pouco dessa força positiva e agíssemos, em cada dia deste novo ano, com a dignidade com que formulamos esses desejos, talvez este mundo se transformasse num lugar apetecível.
O ano que acabamos de deixar, não nos trouxe grandes motivos para recordar, mas ainda assim, deixou-nos alguns indícios de uma esperança vã de melhoras nos próximos 365 dias. Gostaria de acreditar nisso! Na verdade, livrámo-nos da troika, do FMI, do BCE ou pelo menos do constrangimento que eles representavam para nós, muito embora nos continuem a vigiar e mesmo a ameaçar se não cumprirmos à risca os compromissos assinados. Respiramos um pouco mais livremente, mas sempre atrapalhados. Contudo, se por ventura este aspeto foi um alívio, outros houve que nos arrastaram para a rua das amarguras e nos rotularam como um país de corrupção, de falcatruas e de desleixo. Não bastava termos uma economia sem rumo certo, como ainda se desviava o pouco dinheiro que tínhamos, para lugares onde o sol mais aquece e melhor guarda o expurgo que alguns cometeram.
O ano que agora se despediu de nós foi pesado em multas, apesar de tudo. Mas foram poucas! Os que foram condenados a pagar pelos crimes que cometeram, podem servir de exemplo aos que ainda não foram condenados, muito embora possam estar rodeados de suspeição. Os que foram caucionados pela justiça, nós conhecemo-los bem, pois a comunicação social sempre atenta a estas movimentações, transformou-os em estrelas e elevou-os ao topo, de tal modo que alguns começaram a ter pena da pena que lhes cabia cumprir!
A verdade é que se o que mata a mulher e as filhas, não merece castigo, afinal quem merece? Se o filho que mata o pai, não é objecto de pesada sanção, quem será? Não podemos ter pena das penas que estes terão de cumprir, sob pena de também nós merecermos uma pena por termos tais pensamentos. O crime e o castigo devem andar de mãos dadas. Não podemos ignorar nenhum deles. Se há crime, tem que haver castigo. Mas se há crime, tem que se provar.
Durante muito tempo se disse que em Portugal a justiça não funcionava ou funcionava mal. Dizia-se que só se prendiam os que assaltavam os supermercados e roubavam um chocolate ou um pão para comer, enquanto aos que roubavam milhões nada lhes acontecia. E a verdade é que alguns exemplos ilustraram esta afirmação. O ano de 2014 veio pôr um travão nisso e alterar o rumo e o papel da justiça. Se nos lembrarmos do que aconteceu a Isaltino Morais, de quem diziam que nunca seria preso, se nos recordarmos de Duarte Lima de quem diziam o mesmo, se nos lembrarmos de Armando Vara e de mais alguns que por serem importantes se dizia que a justiça não apanharia nem julgaria, chegamos à conclusão de que afinal ela funciona. Não quero com isto dizer que funciona bem, pois o que aconteceu com o CITIUS, veio manchar um pouco essa alteração, pelo menos formal.
No final do ano, a justiça teve mais um momento de afirmação ao mandar prender o ex-primeiro-ministro, o seu motorista e o seu amigo de infância. Ela terá as suas razões para fazer tal procedimento, mas todos nós gostaríamos de saber quais eram as provas que levaram a tamanha atitude justiceira. Ouvimos dizer, lemos o que se escreve, e somos confrontados com declarações avulsas de uns e de outros, mas os factos verdadeiros ninguém os conhece. Não ponho em dúvida a razão da justiça, mas preventivamente todos estamos presos a factos que não disso mesmo, factos presumíveis.
Se o ano passado foi profícuo em multas deste calibre e se o ano que agora nos cabe em sorte vier comprovar tais crimes, então que não deixe escapar os que também acusados e suspeitos de levar milhões para paragens idílicas, se não safem à conta de pagar milhões por uma caução que daria de comer a muitos que anseiam por uma vida muito melhor. Faça-se justiça!