Manuel Igreja

Manuel Igreja

O Cardeal Poeta

- Tu és a poesia!

Segundo o próprio contou, quando José Tolentino Mendonça, perguntou ao Papa em que é que ele o tinha metido quando o nomeou Cardeal, recebeu esta resposta.

O Papa Francisco não disse que Tolentino Mendonça, que merece cabalmente o D. antes do José, é poeta. Disse que ele incorpora a poesia em si de uma maneira absoluta. A dizer melhor só Deus que é o absoluto enquanto ideia do que é semelhante condição.

Sublime este facto. Não por ser muito alta a distinção pois o distinguido dadas as circunstâncias supera qualquer diferenciação positiva. Repare-se que ao longo dos séculos muitos foram uma a outra coisa, mas ser ambas em simultâneo, não terão sido muitos, nem jamais o irão ser. Digo eu.

Depois, singular e digno de registo, é o percurso deste nosso compatriota desde a lusa Pátria até à Praça de S. Pedro em Roma onde chegou para novos e altos desafios ao cinquenta e três anos de idade. Um moço, com o devido respeito e olhando ao contexto.

Mas mais relevante do que o fator idade, é o caminho feito e a forma como foi sendo seguido. D. Tolentino Mendonça, foi capelão, foi professor, foi cronista e nem sei quantas coisas mais entre as quais poeta que ainda é e será, uma vez que quando a poesia se entranha na alma nunca mais de lá sai.

Fez o caminho sempre a direito. Não se transviou, pouco errou, não atraiçoou como é timbre naqueles arrozais, não deu caneladas, não fez rasteiras. Foi e é ele próprio grande e inteiro dentro da discrição que caracteriza quem é verdadeiramente grande.   

Deu nas vistas porque brilhou com luminosidade própria e sem precisar de luzes da ribalta. Teve sorte porque esse tipo de brilho só é notado por quem tem os olhos mesmo às portas da alma. Os desígnios permitiram que estivesse por perto do Papa durante vários dias e ele notou-o. Viu algo que de imediato por certo teve como potencial a aproveitar.

Num tempo sem tempo para o tempo, numa época em que o material espezinha o imaterial, numa era em que mais vale tresler que ler, nuns dias em que mais vale o parecer que o ser, alguém ter a coragem de guindar a poesia a semelhante patamar é obra de qualquer um se admirar e de se contentar.      

Como português só me resta ficar duplamente contente. Como português só me resta sentir orgulho em ver o meu país a ser um autêntico alfobre de capacidades superiores em diversas áreas da atividade humana.

No entanto, também como português não posso deixar de sentir um certo amargo de boca quando vejo que a dado ponto da sua dimensão, os meus compatriotas de elevado jaez deixam de caber no meu país.

Vão dar cartas mundo afora, como se costuma dizer. Resta-nos a trova do vento que passa para lhes levar notícias de cá, esperando que na volta traga algo de lá para nos enriquecer com coisas que se não veem à vista desarmada, mas se sentem porque batem cá dentro. 

Não se demore D. José Tolentino Mendonça precisamos da sua poesia e do seu saber dedilhado em letras que se entrelaçam e nos libertam o pensamento.      


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