O clímax dos Encontros de Lusofonia organizado pelos Colóquios da Lusofonia
1. Quando, como e porquê nasceram estes Encontros Açorianos de Lusofonia?
Quando em 2001 preparamos, no Porto, o início dos COLÓQUIOS ANUAIS da LUSOFONIA - sob a égide do então nosso patrono Embaixador Professor Doutor José Augusto Seabra - queríamos patentear que era possível ser-se INDEPENDENTE. Quisemos provar também a necessidade de descentralizar a realização destes eventos e levá-los a cabo sem sermos subsídio-dependentes. O ponto de partida foi a discussão das problemáticas da língua portuguesa no mundo. De 2002 em diante os Colóquios realizaram-se em Bragança devido à sua insularidade em termos culturais. Portugal, como todos sabem, é um país macrocéfalo; existe Lisboa e o resto continua a ser paisagem. É muito raro os locais mais remotos do interior, como Bragança, terem acesso a debates de relevantes sobre a língua.
Por outro lado, em poucos anos os Colóquios já se afirmaram (sem custos para o Ministério da Cultura, Instituto Camões e outras entidades portuguesas) como a única realização regular, concreta e relevante em Portugal sobre esta temática. Os Colóquios são totalmente independentes de quaisquer forças políticas ou institucionais. Asseguram essa sua “independência” e sobrevivência através do pagamento das inscrições dos participantes. Este importante evento é totalmente concebido e levado a cabo por uma rede organizativa de voluntários. Esta independência permite a participação de um leque alargado de oradores, sem temores nem medo de represálias dos patrocinadores institucionais sejam eles governos, universidades ou meros agentes económicos.
Ao nível logístico, beneficiam do apoio da autarquia local que decide apostar na divulgação e realização deste importante evento anual. Debatem-se as problemáticas da língua portuguesa, em articulação com outras comunidades como agentes fundamentais de mudança. Apesar do caráter vincadamente independente dos Colóquios, temos estabelecido parcerias e protocolos que nos permitam embarcar em projetos mais ambiciosos e com a necessária validação científica.
Os Colóquios já não são marginais em relação às grandes diretrizes teóricas aprovadas nos gabinetes de Lisboa ou de Brasília, mas têm servido para inúmeros colegas aplicarem a prática experiências doutros à realidade do seu quotidiano de trabalho com resultados surpreendentes e bem acelerados. Visa-se aproveitar a experiência de cada um dentro da sua especialidade, para que os restantes possam partir para o terreno, para os seus locais de trabalho e de residência e utilizarem esses instrumentos que já deram resultados noutras comunidades.
Nas conferências e simpósios similares, de formato tradicional, as pessoas chegam, debitam o seu trabalho e partem com uma ata, posteriormente elaborada, cheia de boas intenções e conclusões que não se concretizam. Os Encontros inovaram e em 2002, introduziram o hábito de entregarem um CD das Atas/Anais no início das sessões, e em 2008 (nos Açores) entregaram já em livro as Atas no ato de acreditação de presenças.
Nos Açores, os Encontros tiveram início em 2006 e o ponto de partida tem sido o de trazer a S. Miguel académicos, estudiosos, escritores e outras pessoas para debater a identidade açoriana, a sua escrita, as suas lendas e tradições, sempre numa perspetiva de enriquecimento da LUSOFONIA, tal como a entendemos com todas as suas diversidades culturais que, com a nossa podem coabitar. Pretendemos manter anualmente este fluxo de personalidades para que, conjuntamente com os que vivem nestas nove ilhas, no continente e no resto do mundo, debatam a lusofonia nos quatro cantos do mundo. Deste intercâmbio de experiências entre residentes, expatriados e todos aqueles que dedicam a sua pesquisa e investigação à literatura, à linguística, à história dos Açores ou qualquer outro ramo de conhecimento científico, podemos aspirar a tornar mais conhecida a identidade lusófona açoriana. Pretendemos contribuir para o levantamento de fatores exógenos e endógenos que permeiam essa açorianidade lusófona e criativamente questionar a influência que os fatores da insularidade e do isolamento tiveram na preservação do caráter açoriano. Manteve-se sempre uma sessão dedicada à tradução que é também uma forma de divulgação cultural. Veja-se o recente exemplo de Saramago que já vendeu mais de um milhão de livros nos EUA, e onde é difícil a penetração de obras de autores de outras línguas e culturas.
Os nossos oradores “típicos” não buscam mais uma conferência para juntar aos seus currículos, antes estão interessados em partilhar as suas ideias, projetos, e criar sinergias com universidades, politécnicos e outras entidades e pessoas nos quatro cantos do mundo. São eles que voluntariamente já arrancaram com o ambicioso projeto da Diciopédia nas suas horas livres, sem buscarem fama ou proveito, antes irmanados deste nosso ideal de “sociedade civil” capaz e atuante, tal como nós que organizamos voluntária e gratuitamente estes colóquios. Somos – todos juntos – capazes de atingir aquilo que as burocracias e as hierarquias muitas vezes não podem ou não querem. Acreditámos que somos capazes de fazer a diferença. Os nossos oradores “típicos” juntam-se aos colegas no primeiro dia de trabalhos, partilham as suas refeições, as suas comunicações, os passeios, e despedem-se no último dia como se de amigos se tratasse. É isso que nos torna distintos de qualquer outro colóquio ou simpósio.
Por último, a componente lúdico-cultural destes Encontros, permite induzir uma confraternização cordial, aberta, franca e informal entre oradores e participantes presenciais, em que do convívio saem reforçados os elos entre as pessoas, a nível pessoal e profissional. Os participantes podem trocar impressões, falar e partilhar projetos, ideias e metodologias, fazer conhecer as suas vivências e pontos de vista, mesmo fora do ambiente mais formal das sessões. O desconhecimento, a nível do Continente e do (resto do) mundo, da nossa realidade insular combate-se levando a cabo iniciativas como esta para divulgar o nome dos Açores e a sua presença no seio de uma Lusofonia alargada. Pretendemos aproximar povos e culturas no seio da grande nação dos lusofalantes, independentemente da sua nacionalidade, naturalidade ou ponto de residência, todos unidos pela mesma língua. A meritória ação de várias entidades nos Açores nas últimas décadas tem proporcionado um estreitamento entre açorianos, expatriados e descendentes mas duma forma fechada e limitada. Nós pretendemos ir mais além, e levar os Açores ao mundo, em especial aos que não têm vínculos nem conhecimento desta realidade. Independentemente da sua Açorianidade, mas por via dela, pretendemos que mais lusofalantes e lusófilos fiquem a conhecer esta realidade insular com todas as suas peculiaridades, trazendo aos Açores outras vozes para que desse intercâmbio se possa difundir a verdadeira cultura açoriana no seio da lusofonia alargada que preconizámos. Para 2010/2011 iremos tentar descentralizar mais o evento e levar o evento para o continente sul-americano.
Pretendemos continuar a aproximar povos e culturas no seio da grande nação dos lusofalantes, independentemente da sua nacionalidade, naturalidade ou ponto de residência, todos unidos pela mesma língua.
2. Este ano decorreu a quarta edição açoriana. Por que foi esta a que maior impacto nos açorianos e porquê?
Porque foi possível reunir aqui representantes das 3 Academias de Língua Portuguesa para debater a Açorianidade e a Literatura Açoriana sob o signo do novo acordo ortográfico. Presentes no Cineteatro Lagoense da Câmara Municipal de Lagoa, S. Miguel, Açores de 31 de Março a 4 de Abril no 4º Encontro Açoriano da Lusofonia, os Professores Doutores Adriano Moreira (Vice-Presidente da Academia, Presidente da Classe de Letras, Presidente do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa), Artur Anselmo (Academia de Ciências de Lisboa Presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia) que se juntam aos Patronos dos Colóquios desde 2007 João Malaca Casteleiro (Classe de Letras, 2ª Secção – Filologia e Linguística, da Academia de Ciências de Lisboa), e a Evanildo Cavalcante Bechara (Academia Brasileira de Letras) e também o Professor Doutor Carlos Reis (Reitor da Universidade Aberta, Lisboa) e o Dr. Ângelo Cristóvão (da Academia Galega da Língua Portuguesa), além do secretário de articulação internacional em representação do Governador do Estado de Santa Catarina, deputado José Natal e mais representantes daquele Estado.
Igualmente de salientar a presença numa sessão sobre literatura açoriana dos consagrados escritores CRISTÓVÃO AGUIAR, DANIEL DE SÁ e SIDÓNIO BETTENCOURT, além do notável historiador micaelense MÁRIO MOURA. Assistimos ao lançamento de quatro livros, um por dia, integrados numa mostra de autores e obras açorianas, havendo música açoriana, uma representação teatral de Santa Catarina, Brasil e duas sessões de poesia (galega e brasileira).
3. Quais eram os temas em debate na edição deste ano?
Tema 1: AÇORES: a insularidade, o isolamento e a preservação da língua portuguesa no mundo.
Subtemas
1.1. Acordo ortográfico. Sua implementação no arquipélago e nas restantes comunidades
1.2. Lusofonia: Questões e Raízes.
1.3. Literatura Açoriana no Mundo: autores insulares, expatriados e estrangeiros. Historial e perspetivas futuras
1.4. Estudos e Literatura Açoriana: propostas para a sua implantação
1.5. Açorianidade no mundo: guetos, comunidades transplantadas, comunidades integradas e comunidades desenraizada
2. ESTUDOS DE TRADUÇÃO
2.1. Tradução de/para literatura lusófona
2.2. Literatura Açoriana de Autores estrangeiros sobre os Açores (Ex.º John e Henry Bullar “A Winter in the Azores and a Summer in the Baths of Furnas”, John Updike “Azores”, Mark Twain, “Innocents abroad” (capítulos sobre os Açores na ilha do Faial), Maria Orrico “Terra de Lídia”, Romana Petri “O Baleeiro dos Montes”, António Tabucchi “Mulher de Porto Pim”
3. HOMENAGEM CONTRA O ESQUECIMENTO:
Dias de Melo e todos os autores açorianos, já esquecidos ou ainda não, como por exemplo entre muitos outros (lista arbitrariamente compilada) Adelaide Baptista, Frank X. Gaspar, Norberto Ávila, Álamo Oliveira, Garcia Monteiro, Nuno Costa Santos, Alexandre Borges, Gaspar Frutuoso (século XVI), Onésimo Teotónio de Almeida, Ângela Almeida, Ivo Machado, Pedro da Silveira, Antero de Quental (séc. XIX), João de Melo, Roberto de Mesquita (sécs. XIX e XX), Armando Côrtes-Rodrigues (séc. XX), Judite Jorge, Rui Machado, Carlos Wallenstein, Katherine Vaz, Santos Barros, Cristóvão de Aguiar, Luís Filipe Borges, Tiago Prenda Rodrigues, Daniel de Sá, Madalena Caixeiro, Urbano Bettencourt, Eduardo Bettencourt Pinto, Madalena Férin, Urbano de Mendonça Dias, Eduardo Jorge Brum, Margarida Jácome Correia, Vamberto de Freitas, Eduíno de Jesus, Maria Luísa Soares, Anthony de Sá, Emanuel Félix, Mário Cabral, Emanuel Jorge Botelho, Martins Garcia, Fernando Aires, Natália Correia, Manuel Ferreira, Sacuntala de Miranda....e TODOS OS OUTROS...
4. Que países ou regiões estiveram representados neste encontro?
A participação de 2009 contava com 50 oradores e dezenas de participantes presenciais representando Açores, Austrália, Brasil, Bélgica, Canadá, Eslovénia, França, Galiza, Itália, Moçambique e Portugal.
5. Quais as conclusões retiradas deste encontro?
São as seguintes as Conclusões e Propostas do 4º Encontro Açoriano da Lusofonia. Foi decidido:
1. Nomear como PATRONOS VITALICIOS os professores João Malaca Casteleiro e Evanildo Cavalcante Bechara
2. Exarar um Voto de Agradecimento pelo Apoio Público que as três Academias (Galiza, Brasil e de Lisboa) prestaram aos Colóquios através da sua presença e participação ativa
3. Continuar a monitorizar a execução prática do 2º Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico em todas as instâncias e países.
4. Estruturar e desenvolver as parcerias e protocolos já firmados para a consecução dos objetivos e projetos em curso:
a) Iniciar a cadeira de Estudos Açorianos, a ministrar pela UNISUL (Santa Catarina, Brasil) sendo necessário definir conteúdos, apoio editorial e outros sob a supervisão dos Colóquios (através de Daniel de Sá, Cristóvão de Aguiar e Rosário Girão) em articulação com Rosa Madruga Pinheiro que irá coordenar o arranque da disciplina na UNISUL
b) Preparar a publicação regular, online, pelos Colóquios da Lusofonia, dos Cadernos de Estudos Açorianos em moldes a estabelecer
c) Diciopédia Contrastiva e Dicionário de Açorianismos: o projeto passa a estar sob a supervisão de Luciano Pereira para obter financiamento da FCT. Contará com supervisão de Zélia Borges no Brasil e a coordenação de entrada de dados com vista à futura mudança para plataforma Java a cargo de Edma Satar
d) Preparar a comitiva de 15 membros a Florianópolis onde terá lugar o 5º Encontro Açoriano da Lusofonia. Datas previstas de 6 a 9 de abril de 2010. Da comitiva, a selecionar pelos Colóquios, haverá representantes das artes e letras açorianas a divulgar oportunamente. O local onde o colóquio ocorrer chamar-se-á AÇORIANÓPOLIS durante o decurso do evento.
e) Criação de um plano de atividades dos colóquios junto a Escolas e Universidade dos Açores além de outras instituições de ensino, a fim de divulgar os nossos objetivos e projetos.
5. Propor à CAMARA MUNICIPAL DA LAGOA que seja atribuído o nome de Numídico Bessone a uma Rua ou Estabelecimento de ensino em homenagem ao escultor que é autor de obras como
Estatuária:
a) São Miguel Arcanjo, na Praça do Município, em Ponta Delgada;
b) D. João IV de Portugal;
c) Gaspar Frutuoso, na cidade da Ribeira Grande;
d) Sousa Lobão (jurisconsulto);
e) Padre José Joaquim de Sena Freitas, em Ponta Delgada;
f) Manuel de Arriaga, na cidade da Horta;
g) Ramalho Ortigão, no Largo de Santos (Jardim Nuno Álvares), em Lisboa;
h) António José de Ávila, Duque de Ávila e Bolama, na cidade da Horta;
i) Bento de Góis, na praça homónima de Vila Franca do Campo;
j) D. Dinis e Santa Isabel.
k) Padrão Monumental ao Emigrante Português (Marina Park, San Leandro, Califórnia);
l) Baixo-relevo no átrio da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra;
m) Túmulo do Patriarca das Índias D. Teodósio, em Roma;
n) Túmulo do pintor Domingos Sequeira.
Bustos:
o) Públia Hortênsia de Castro;
p) Guerra Junqueiro;
q) Aristides Moreira da Mota, hoje na Galeria dos Autonomistas do Palácio da Conceição de Ponta Delgada;
r) D. José da Costa Nunes, frente à igreja da Candelária, ilha do Pico;
s) Júlio de Matos;
t) Francisco Afonso Chaves, em Ponta Delgada;
u) Infante D. Henrique, nos Paços do Concelho de Angra do Heroísmo;
v) Madre Teresa da Anunciada, na Ribeira Seca da Ribeira Grande;
w) António Borges, no Jardim António Borges, Ponta Delgada;
x) Dr. António Maria Barbosa.
Medalhas:
y) Ministro Águedo de Oliveira;
z) Visita Presidencial a Moçambique;
aa) Obra Social de São Martinho de Gândara;
bb) Rainha D. Leonor de Portugal;
cc) Visita Presidencial ao Brasil;
dd) União Portuguesa do Estado da Califórnia;
ee) Roberto Ivens;
ff) Vitorino Nemésio.
6. Propor à CAMARA MUNICIPAL DA LAGOA a criação do MUSEU (VIRTUAL) DA LUSOFONIA, com apoios da autarquia, do Governo Regional e da União Europeia, em parceria com as Academias que se associaram à proposta. O Museu será desenvolvido por Salas Temáticas, sendo a primeira dedicada obviamente à AÇORIANIDADE, devendo conceber-se conteúdos interativos tais como DVD, projeção de imagens, sons, mapas e fotografias. O prazo inicial para esta primeira sala é de dois anos desde a fase de conceção do projeto à instalação. Na Sala da Açorianidade, que se propõe seja instalada no atual edifício do Museu do Presépio, podem e devem incluir-se os seguintes estádios de desenvolvimento da Lusofonia:
a) Primeiros documentos em língua portuguesa, com reprodução e explicação histórica da sua evolução do Galaico-português
b) Primeiras crónicas dos Açores (o legado de Gaspar Frutuoso e outros)
c) Obras clericais escritas nos Açores
d) As primeiras colonizações das 9 ilhas (quadros, pinturas, ilustrações) e confrontos das várias versões sobre o primeiro povoamento de cada ilha.
e) Relevância dos Açores nos Descobrimentos, a passagem de Cristóvão Colombo/Colon e do abastecimento das naus e caravelas rumos ao desconhecido e aos novos mundos.
f) Terramotos, vulcões e a religiosidade insular (1500-1755)
g) Vulcanologia (nevoeiros de São João, ilha Sabrina, Capelinhos, etc.)
h) A importância das Guerras Liberais
i) A economia insular do pastel, às laranjas, aos baleeiros, ao chá e leite
j) Século XX: da emigração aos novos escritores e outros autores.
6. Quem organiza os Encontros de Lusofonia?
Os Encontros (tal como os Colóquios Anuais da Lusofonia que se realizam em Bragança) são exclusivamente organizados pelos Colóquios da Lusofonia mas com os APOIOS da Câmara Municipal de Lagoa e DRC (Direção Regional das Comunidades) além de estarem neste momento viabilizados os seguintes Protocolos e Parcerias:
• GOVERNO ESTADUAL DE SANTA CATARINA
• ACADEMIA GALEGA DA LINGUA PORTUGUESA
• UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA, BRASIL (UNISUL)
• ACADEMIA DE LETRAS DE BRASILIA,
• UNIVERSIDADE MACKENZIE DE SÃO PAULO, BRASIL
• ESE, INSTITUTO POLITÉCNICO DE SETÚBAL
• ESE, INSTITUTO POLITÉCNICO DE BRAGANÇA
. Este importante evento é totalmente concebido e levado a cabo por uma rede organizativa de voluntários. Os Encontros, iniciados em 2006 com a duração de apenas dois dias, aumentaram gradualmente a sua relevância e impacto e já se prorrogaram ao longo de cinco intensos dias no Cineteatro Lagoense.
7. Os açorianos dão importância à língua materna?
Nem menos nem mais do que os seus congéneres continentais. Para eles a língua é um mero utensílio de cuja existência mal se apercebem e nem sequer sabem usá-lo da forma devida para dele obterem mais-valia nos meios internacionais onde se realizam as suas trocas comerciais. Aliás a culpa é do ensino deficiente que se vem ministrando nas escolas desde há 35 anos e que não cria um sentimento de orgulho na língua e cultura que fizeram do povo português aquilo que ele foi durante séculos, um precursor, um desvendador e desbravador de rumos e cuja influência ainda hoje existe nas línguas e culturas de centenas de países em todo o mundo, mas como estas aparentemente não acarretam a fama e o proveito rápidos que caraterizam o português hodierno, não se lhes dá o devido valor.
8. Quais são as principais conquistas destes colóquios?
. Jamais sonháramos conseguir tanto.
Devemo-lo ao apoio dos nossos patronos Malaca Casteleiro e Evanildo Bechara por continuarem a acreditar neste nosso sonho e desiderato. Estamos igualmente reconhecidos pela presença da Academia de Ciências de Lisboa aqui representada pelos Professores Adriano Moreira e Artur Anselmo, mas a alma dos colóquios é constituída por todos os académicos, investigadores e demais participantes que anualmente aqui se deslocam a suas expensas para ajudarem a construir os projetos que temos vindo a lançar. Só a eles se deve este êxito. Limito-me a ser um mero facilitador de vontades, um construtor de pontes, uma espécie de Engenheiro Edgar Correia da Lusofonia.
Em 2001 ao prepararmos o início dos COLÓQUIOS queríamos evidenciar que A LUSOFONIA diz respeito a todos os que falam e escrevem a língua (portuguesa), independentemente da sua origem, cor, credo, religião ou nacionalidade. Igualmente estávamos convictos que era possível ser INDEPENDENTE sem ser subsídio-dependente.
Pretendíamos criar um elo motor capaz de catapultar a língua portuguesa da sua obscuridade internacional para um cenário de ribalta: de Timor a Tânger, de Ceuta a Calecut, da Lagoa a Florianópolis. Os Colóquios brotaram de um desafio do nosso primeiro patrono, Embaixador José Augusto Seabra para criar uma Cidadania da Língua Portuguesa, proposta radicalmente inovadora num país marcado por tradicionalismos avessos a mudanças. Para quê, esta cidadania? Para que todos se possam identificar pela sua língua comum. Pretendíamos trazê-los ao seio desta nossa Lusofonia. Admitimos que a língua a que chamamos nossa só sobreviverá enriquecida por outras, unida numa frente comum a todos os falantes, nesta realidade multilingue das comunidades lusófonas.
Em poucos anos estes Colóquios já se afirmaram como a única realização regular, concreta e relevante sobre esta temática. São autónomos, o que permite um leque alargado de oradores, sem temores nem medo de represálias de patrocinadores institucionais sejam eles governos, universidades ou meros agentes económicos.
Foi logo em 2002 que propusemos incluir roteiros turísticos literários a locais celebrizados pelos monstros sagrados da literatura lusófona. Alguns constam já dos vulgares itinerários paisagísticos, havia apenas que organizar nesses locais a leitura de textos de tais autores e a divulgação de novos autores. Disponibilizavam-se traduções ou re-edições económicas para os excursionistas interessados. Lucravam os países lusófonos, os editores, os operadores turísticos e a língua.
Podíamos começar no Alentejo de José Saramago com a leitura de obras suas e suas traduções. Viajava-se depois aos locais evocados em “A Cidade e as Serras” de Eça de Queiroz, ao Jardim de Antero de Quental, à Casa das Tias de Vitorino Nemésio, à Maia do Daniel de Sá, ao Pico de Dias de Melo, e à Brasileira de Pessoa ou ao agreste Monsanto de Fernando Namora, antes de irmos ao Rio de Machado de Assis ou à Bahia de Jorge Amado. Convidavam-se professores jubilados para falarem das mil e uma nuances de cada autor num cenário apropriado. Organizar tais eventos custaria menos e traria melhores resultados do que muitas homenagens oficiais. Não seriam necessários subsídios para esta revolução que continua por fazer. Não haveria onerosos comissários mas voluntários que amem tanto a Língua Portuguesa como nós.
Criou-se, entretanto, uma vasta rede informal facilitando um livre intercâmbio de experiências e vivências, que se prolonga no tempo. Em 2004, os Colóquios fizeram a campanha para salvar o Ciberdúvidas; em 2005 presidiu ao lançamento do Observatório da Língua Portuguesa integrado na CPLP; em 2006 lançou a primeira pedra para a criação da Academia Galega da Língua Portuguesa. Em 2007 atribuiu o 1º Prémio Literário da Lusofonia da Câmara Municipal de Bragança e debateu (pela primeira vez em Portugal) o Acordo Ortográfico, tornado a debater nos Açores em 2008 e que finalmente foi promulgado. Em 2008 iniciou também uma campanha para criar uma cadeira de Estudos (e Literatura) Açorianos e uma de Estudos (e Literatura) Transmontanos, e assistiu à abertura da Academia Galega da Língua Portuguesa nascida no seio dos colóquios.
2008 Marca o início de parcerias com Universidades e Politécnicos rumo à concretização desse grande projeto intitulado Diciopédia Contrastiva ou Dicionário Contrastivo da Língua Portuguesa dos Colóquios da Lusofonia e do Dicionário de Açorianismos (lançado em 2007). Igualmente em 2008, o Presidente da Academia de Ciências de Lisboa (Professor Adriano Moreira) e o seu Vice-Presidente (Prof. Artur Anselmo) deslocaram-se propositadamente a Bragança para darem “o apoio inequívoco da Academia de Ciências aos Colóquios da Lusofonia”, o que vem apenas confirmar o gabarito intelectual dos nossos colóquios e a sua importância no meio académico de Portugal, Brasil e Galiza.
Criámos, nestes anos, uma vasta rede informal facilitando um livre intercâmbio de experiências e vivências, entre participantes. Ao contrário dos nossos vulcões que tudo constroem e destroem sem um plano predefinido, sabíamos que teríamos de unir colegas e académicos nesta nossa paixão. Iniciámos a edificação da nossa pirâmide de Gizé para a posteridade preservar e expandir a língua portuguesa, debatendo temas tabu que mais nenhuma conferência queria ou ousava abordar. Em 2002, inovámos e introduzimos o hábito de entregar um CD das Atas/Anais no início das sessões. A partir de 2008, nos Açores, no ato de acreditação de participantes entregamos também em livro as Atas.
Em 2004, fizemos a campanha que salvou o Ciberdúvidas; em 2005 presidimos ao lançamento do Observatório da Língua Portuguesa integrado na CPLP; em 2006 lançamos a primeira pedra para a criação da Academia Galega da Língua Portuguesa. Em 2007 atribuiu-se o 1º Prémio Literário da Lusofonia e debateu-se o Acordo Ortográfico, também aqui discutido em 2008 antes de ser promulgado. No ano transato lançamos a ideia de criar uma cadeira de Estudos (e Literatura) Açorianos e uma de Estudos (e Literatura) Transmontanos. Estabelecemos protocolos que nos permitem embarcar em projetos mais ambiciosos com a necessária validação científica. O ano de 2008 marcou o início dessas parcerias com Universidades, Politécnicos e Academias rumo à concretização da Diciopédia Contrastiva da Língua Portuguesa incluindo o Dicionário de Açorianismos. Em Outubro, o então Presidente da Academia de Ciências de Lisboa, Professor Adriano Moreira e seu Vice-Presidente, Artur Anselmo deslocaram-se a Bragança para darem “o apoio inequívoco da Academia aos Colóquios da Lusofonia”, o que confirma o gabarito intelectual destes colóquios. Assinale-se que idêntica presença ocorre aqui.
Em 2005, acabados de chegar a este paraíso insular, quisemos debater a escrita, lendas e tradições, e os fatores exógenos e endógenos que permeiam a açorianidade, de forma, a criativamente questionar a influência que a insularidade e do isolamento tiveram na preservação deste caráter ilhéu. Mantivemos sempre uma sessão dedicada à tradução como forma de divulgação linguística e cultural. Veja-se o exemplo de Saramago que vendeu mais de um milhão de livros nos EUA, onde é difícil a penetração de autores de outras línguas e culturas. Nos encontros anteriores, criámos a reputação de exigência e intransigência para o reconhecimento da riquíssima literatura açoriana, parente pobre da vasta literatura portuguesa.
Pretendemos manter anualmente um variado fluxo de personalidades para tornar mais conhecida a identidade lusófona açoriana. O desconhecimento global deste arquipélago de uma beleza estonteante, esta família de nove irmãs debruadas a cores diferentes, combate-se levando a cabo iniciativas como esta. Pretendemos levar os Açores aos que não têm vínculos familiares nem conhecimento desta realidade. Ambicionámos a que mais lusofalantes fiquem a conhecer esta realidade insular e suas peculiaridades, trazendo aqui outras vozes para que desse intercâmbio se possa difundir a verdadeira cultura açoriana. Iremos tentar em 2010 descentralizar mais o evento e ir ao Estado de Santa Catarina e muito nos apraz ter aqui uma delegação oficial daquele governo estadual. Depois, poderemos sonhar e ir até à Galiza ou Canadá e EUA.
Em 2008 tivemos o privilégio da presença desse grande picaroto, Dias de Melo que escrevia não só sobre os baleeiros que o celebrizaram mas sobre as rochas negras do Pico. Um revolucionário que sentia o pulsar das suas gentes, das suas palavras. Tudo escutava e depois traduzia para livro. Ele era basalto e mar como a sua ilha. A sua obra merecia ser divulgada por todas as escolas e universidades mas continua olvidada. Estes Encontros visam repor tais escritores no panteão que merecem. Há enlevo e admiração pelos que venceram nas AMÉRICAS e obnubilam-se os que não emigraram. Existem centenas de autores açorianos para estudar e ler. É para eles, para as suas obras e memórias, que iremos orientar os nossos encontros. Era esta a opinião de Pedro da Silveira, poeta das Flores (1922-2003) e autor de A Ilha e o Mundo (1953) que disse: «A literatura açoriana não precisa de que se aduzam argumentos a favor da sua existência. Apenas precisa de sair do gueto que lhe tem sido a sina.”
Apesar de recém-chegado tive já o privilégio de aprender as idiossincrasias micaelenses, faialenses e picoenses ao traduzir Daniel de Sá, Manuel Serpa e Victor Rui Dores. Neste universo idílico não busquei - ao traduzir - a essência do ser açoriano, manifestada em miríade de variações insulares, cada uma vincadamente segregada da outra. Ignoro se o homem se adaptou às ilhas ou se estas se continuam a condicionar a presença humana, para assim evidenciar a sua açorianidade. Estando esta presente num escritor, explicá-lo é tarefa para estudos mais complexos do que a mera atividade do tradutor, por mais empenhado ou apaixonado que possa estar pelo objeto da sua tradução.
Nestas navegações literárias, uma pessoa não lê apenas. Percorre uma viagem tridimensional recheada pelos cinco sentidos que fluem da escrita como lava “pahoe-hoe” (pronuncia-se pah hoi hoi) de aparência viscosa mas fluida, brilhante e entrançada como cordas prateadas. Aqui, nada é impelido embora por vezes se assemelhe, na sua descrição e nos contornos emocionais, à pedra-pomes, piroclasto dominante das rochas traquíticas mais siliciosas do que o basalto. Estas as imagens e a paixão que orientam estes colóquios. É a literatura açoriana desconhecida, olvidada ou menorizada que revisitaremos nos próximos dias, em paralelo com um debate sobre a implementação do acordo ortográfico, com representantes das três Academias da Língua Portuguesa, e debateremos a tradução contando com uma representante da Eslovénia.
Os nossos oradores “típicos” não buscam mais uma conferência para os seus currículos, antes partilham suas ideias, projetos, e criam sinergias. São eles que voluntariamente já arrancaram com o ambicioso projeto da Diciopédia nas suas horas livres, irmanados deste nosso ideal de “sociedade civil” capaz e atuante, tal como organizamos voluntariamente estes colóquios. Somos – todos juntos – capazes de atingir aquilo que as burocracias e as hierarquias não podem ou não querem: a de fazer a diferença. Os nossos oradores juntam-se aos colegas no primeiro dia de trabalhos, partilham comunicações, passeios, refeições, e despedem-se no último dia como se de amigos se tratasse. É isso que nos torna distintos de qualquer outro congresso ou simpósio. Essa componente lúdico-cultural permite induzir a confraternização cordial, aberta, franca e informal em que do convívio saem reforçados os elos entre oradores e presenciais, a nível pessoal e profissional.
Em 2009 teremos a responsabilidade de prosseguir incansáveis a nossa campanha para implementação do novo Acordo. Para isso contamos aqui este ano com os seus mais vocais proponentes Malaca Casteleiro, Evanildo Bechara, Carlos Reis e Ângelo Cristóvão que nos têm ajudado a lutar pela língua unificada que propugnamos seja utilizada nas instâncias internacionais. Em Portugal nunca houve uma política de língua. Precisa-se de uma estratégia com países de língua portuguesa que vá além da ratificação do Acordo. É urgente a expansão e o reforço do ensino da língua a estrangeiros e às comunidades lusofalantes. A língua é um utensílio de poder que subaproveitamos.
Tal como Carlos Reis afirmou (Julho 2008): “A internacionalização da língua portuguesa só será possível com uma política a “longo prazo”, que sobreviva aos sucessivos governos, uma política de língua não é só um ato de um Governo, é um desígnio nacional que deve passar de Governo para Governo”. É esse desígnio que os Colóquios da Lusofonia como representantes duma sociedade civil ativa e atuante têm desenvolvido desde há oito anos. Esperamos que a Academia de Ciências de Lisboa, a Academia Brasileira de Letras e a novel Academia Galega da Língua Portuguesa nos ajudem a prosseguir nessa linha de ação, a única que nos permitirá congregar esforços de aproximação de povos e culturas no seio da grande nação dos lusofalantes. Queremos aproveitar este ensejo para rogar em nome dos Colóquios à Academia das Ciências de Lisboa que seja mais atuante na defesa da língua portuguesa e das suas variantes face aos desafios que os políticos não conseguem arrostar. Assim como nós não esperamos que alguém nos solicitasse que fizéssemos estes Colóquios também a Academia não deve esperar por governos passando a ser pró-ativa em vez de reativa. O futuro não se compadece com esperas. Já foi compilado um Vocabulário Unificado pelo professor Malaca Casteleiro que urge publicar para que a variante portuguesa da língua tenha a relevância que merece. Portugal não pode esperar por ninguém pois arrisca-se a continuar irremediavelmente atrasado e só como tem sido sua sina.
Congratulamo-nos este ano com a presença dos consagrados escritores Cristóvão de Aguiar, Daniel de Sá e Sidónio Bettencourt, além desse notável historiador micaelense Mário Moura, que para além de tomarem parte numa sessão plenária dedicada à literatura açoriana puderam autografar as suas obras. Decidimos este ano integrar as atividades paralelas no corpo das sessões havendo lugar para música, teatro e poesia dos Açores, Galiza e Brasil. Reconhecendo a vitalidade e idiossincrasias da Literatura Açoriana (ou de matriz açoriana como alguns preferem) voltam-se, agora, mais para esta vertente, sem descurar a tradução e os aspetos estruturantes que interessa debater da Lusofonia e da Açorianidade
O nosso desígnio é dar voz universal aos escritores destas ilhas mágicas e assombradas a que ora chamo minhas. Abaná-los das suas consciências súbditas e resignadas como ilhéus. Torná-los inconformados com o silêncio que se abateu sobre o arquipélago. Acenámos-lhes com o mundo que quer conhecê-los e lê-los. É urgente e imperioso que sejam ouvidos, lidos e estudados. É para isso que aqui estamos. Os meus votos são que todos saiam da ilha como embaixadores desta nossa rica literatura açoriana. Esta paixão é contagiosa e propaga-se como qualquer vírus cibernético e prova disso está no facto de todos os anos termos mais e melhores oradores no nosso seio.
9. O que podemos esperar da próxima edição?
Os Temas para 2010 são:
i. As dez ilhas açorianas (arquipélago e Santa Catarina)
ii. Homenagem contra o esquecimento: autores (escritores, músicos, pintores, etc.) d’aquém e d’além mar
iii. O Estado da Lusofonia (publicação de Vocabulários Unificados, gramáticas, a uniformização da nomenclatura cientifica e técnica (onomástica, toponímia, química, física, etc.), a norma culta.
iv. Situação do uso da língua portuguesa no mundo: África do Sul, Galiza, Malaca, Macau, etc.
v. Tradução (de e para Português). A internacionalização de autores em português.
Pensamos ser possível construir uma enorme ponte entre a Galiza, Portugal Continental, Açores e Santa Catarina com bifurcações a todos os países onde haja lusofalantes para prosseguirmos esta luta indómita pela preservação e expansão da língua e cultura de todos nós. Levaremos uma embaixada representativa daqueles que têm estado mais ativos a trabalhar nos nossos desideratos de Lusofonia Universal e Universalista, nenhum de nós vai fazer turismo como acontece muitas vezes com este tipo de caravanas, antes vai ali para aprender e para partilhar os saberes e conhecimentos para os poderem incorporar nos projetos já iniciados pelos Colóquios da Lusofonia.
CHRYS CHRYSTELLO