Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

«O Comércio do Porto» faria hoje 162 anos!

«O Comércio do Porto”. Nas suas páginas constrói-se a história de Portugal em três séculos. É por isso uma das maiores referências do nosso património cultural imaterial. Nele escreveram Camilo Castelo Branco, Carolina Michaëlis, Guerra Junqueiro, João de Deus,  Rodrigues de Freitas, Pinheiro Chagas, Maria Amália Vaz de Carvalho, Alberto Pimentel, Júlio Dantas, Henrique Lopes de Mendonça, Afonso Lopes Vieira, António Correia de Oliveira, Augusto Gil, Fialho de Almeida, Ramalho Ortigão e o próprio rei D. Carlos e a rainha D. Amélia. entre muitos outros escritores e jornalistas notáveis.

Com os seus lucros construiu aquele monumental edifício na Avenida dos Aliados. Mas construiu também, ou ajudou a construir, o edifício da Academia Politécnica do Porto (precursora de várias faculdades da Universidade do Porto) e, no capítulo da solidariedade social, lançou creches na Afurada, em Vila Nova de Gaia, Lordelo do Ouro, Bonfim, Foz do Douro e bairros operários em Monte Pedral, Lordelo e Bonfim. Uma realidade sem paralelo na imprensa dos nossos dias.

Trabalhei 19 anos neste jornal. Era um jornalismo de causas. E nós, jornalistas, uma espécie de cavaleiros andantes na busca das grandes histórias que, só mesmo lá, no local, se poderiam recolher. Lavrador de condição, sentia-me aí um ousado lavrador de palavras, um herói de papel, “manietado” apenas pelo aprumo dos velhos “linguados”. Enfrentei e denunciei políticos corruptos, mentirosos e hipócritas, assim como bandidos, violadores, ladrões de estrada. Assentei praça nos tribunais como repórter e como réu. Busquei as reportagens nos lugares mais recônditos, viajei de avião, de comboio, de carro e até de burro para lá chegar. Desbravei léguas de silêncios como quem rasga a textura densa de uma floresta virgem. Porque o jornalismo é isso mesmo: a arte de romper silêncios. Por isso tinha sempre o encanto da novidade, mas, sobretudo, o romantismo das causas solidárias. Eram tempos em que levar a “carta a Garcia” era, antes que tudo, assinar um contrato com o desconhecido, com o imprevisível. Tempos inesquecíveis.


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