Manuel Igreja

Manuel Igreja

O Douro e a escala

O Douro vinhateiro, anda, desanda, queixa-se trabalha ora para aquecer, ora para se suster mais nunca para enriquecer. Vai andando indo, acomodado, mas resistindo. Dizem até que a maneira de se chegar a uma pequena fortuna no sector do vinho, tem de se começar por uma fortuna grande.

Vai sendo cada qual por si e raramente um por todos e todos por um. A terra e o clima proporcionam o produto de qualidade, e o saber cada vez mais científico mas também ancestral, está em crescendo a possibilitar que o vinho que resulta das uvas penosamente granjeadas seja de excelência entre os excelentes.
Assim numa primeira olhadela, mais parece até que tudo vai bem e que o paraíso que salta perante os olhos é mesmo o Éden com a forma de montes que não param de crescer, de videiras que ninguém pode contar e de oliveiras que parecem rezar, como escreveu João de Araújo Correia.

Mas não é. Há detalhes que o impedem de ser. Como dizia alguém, o diabo está nos detalhes. No caso em questão, no nosso caso, o diabo está nas mentalidades que andaram adormecidas durante décadas. Despertaram, mas ainda não o suficiente de modo que exista estratégia, sentido do todo, e modos de atuar que visem o melhor para todos que o sendo é para cada um.
Num mundo global, nas prateleiras internacionais dos grandes espaços comerciais onde se evidenciam os vinhos pelos países de onde provêm, os vinhos de Portugal surgem na secção do “resto do nundo”, no entanto, no Douro teme-se e evita-se o adquirir escala que baste.

Num sector em que comparativamente com outros países um grande em Portugal é um médio, um médio é um pequeno e um pequeno não existe, no Alto Douro teima-se em se ir isoladamente para o mercado, teima-se em se adquirirem garrafas e rolhas em quantidades escassas que não permitem negociação de melhores preços de aquisição, teima-se quantas vezes infelizmente em trocar líquido pela liquidez que escasseia.

Uma região que nos anos cinquenta do século XX conseguiu implementar uma rede de Adegas Cooperativas ao tempo modernas, mas também já num contexto de atitude de cada qual por si tendo-se a sua como a melhor, nunca consegui que com elas resultasse valor que se visse e alterações nos modos de granjeio e de colocação.

Durante décadas, o vinho generoso no seu papel de almofada, permitiu sossegadamente que as restantes uvas fossem tidas como “filhas de um deus menor”. Umas cobriam e davam para colmatar o que as outras não davam, e foi-se vivendo.

Mas o mundo é feito de mudança e pelo Douro as coisas também se foram alterando. Hoje em dia, os vinhos tranquilos são forte aposta e começam a permitir valor acrescentado muito considerável. Mas não na sua globalidade, pois a maioria dele ainda está no ponto em que os ganhos não cobrem os custos.

No Alto Douro urge que se reflita e se exija. Não preços de uvas tabelados por lei, mas antes formas de organização e estratégias que permitam escala na compra de produtos e na venda das uvas. Urge que surja a verdadeira Associação de classe agregadora que nunca existiu.

Impõe-se respeito. Impõe-se que a região não permita que deixem o IVDP chegar ao ponto de quase inoperacionalidade em que se encontra segundo consta nas conversas de esquina, pois a informação não circula e os meios de a vincular são ineficientes e praticamente inexistentes.

Urge que as receitas de milhões de euros resultantes das taxas pagas pelos viticultores revertam a favor da região e da promoção eficiente e alargada dos nossos vinhos, pois não basta que a sua qualidade seja o único factor de alavancagem nas vendas.

No Douro urge que haja união. Urge que se ganhe escala para que se perceba que não somos pequenos. Urge que se consiga estar em toda a fileira da atividade em moldes empresariais e sem amadorismo, seja através das Cooperativa, seja sob a forma de viticultores associados que andam para ganhar dinheiro.

Urge que se garanta o futuro para que os silvados não invadam os vinhedos, sem que espere que alguém resolva. Impõe-se que ouçam a nossa voz, mas antes temos de provar que sabemos fazer o caminho.


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