Manuel Igreja
O Douro & Porto Wine Festival
Todos sabemos que o Alto Douro Vinhateiro é muito lindo, que gastronomia é muita boa e que vinho do melhor não há neste mundo de Deus Nosso Senhor. Frequentemente dizemos e pensamos que melhor não há. No entanto, estamos enganados. Nisto de se classificar aquilo que se tem, cada qual comete o pecado de encimar o pedestal com o que é seu, mas o se gostar vai muito dos olhos da alma de cada um.
Por exemplo, e para me começar a encaminhar para aquilo que é o meu fito no texto ainda a desenrolar-se neste meu e vosso canto, também nos inúmeros festivais de música e afins que se levam a efeito em cada verão neste nosso Portugal invejável, cada organizador e seus vizinhos, afirmam a pés juntos que o seu evento é o melhor, quer pela envolvência quer pelos artistas no cartaz.
Indo ao tema antes que me desvie, já que isto de escrever é como tocar jazz, aquela música improvisada que estou em crer que de improviso tem muito pouco. Tem o saber por parte de quem sopra e dedilha nos instrumentos e por isso encanta quem a aprecia com o espírito à solta. Neste meado de setembro, aconteceu mais um festival de música e vinho no Cais de Lamego mesmo junto à baía da Régua, onde o rio Douro placidamente beija a duas margens segundo de mãos-dadas.
A moldura paisagística é soberba e de embasbacar. Deleita o mais pintado, inclusivamente quem de poeta tenha muito pouco em termos de vibrações quando a alma espreita pelos olhos. O Douro & Porto Wine Festival na sua quarta edição, se não estão em erro, mais uma vez aconteceu e encantou. Pelo menos a mim que me perdi por lá sem deixar de me encontrar. Mas também se de oras em quando me tivesse perdido alguém me haveria de encontrar. Não calhou.
Não pretendo aquilatar o cartaz musical que para mim é o pretexto daquilo que ali é o mais importante e exclusivo. Refiro-me ao vinho que é o nosso pão depois de muito se mourejar no granjeio e que faz do que antes eram pedras e silvados jardins de muito asseio e de muito veraneio com encantos mil para pessoas de todos os cantos deste mundo andando muito desconchavado lá vai indo.
No entanto, avalio com o pouco que sei, o evento no global e no que me toca enquanto homem atento e pelejador mesmo que humilde e simples desta região onde nasci e vivo prazenteiramente e com afinco. Serei suspeito porque gostei de todos os que aconteceram e porque irei gostar dos que irão acontecer. Para mim, basta haver e já gosto, se calhar porque a coisa olhada é moldada por mim que olho ao meu gosto e com as lentes das minhas espectativas.
Concretizando que está a ficar confuso e quase já nem sei onde vou. Começo por gostar de ver os produtores que garbosos e orgulhosos servem os seus vinhos com emoção igual aquela que sente um pai ao apresentar um filho. Ou uma mãe, já agora e antes que me levem à Guarda, às autoridades. Não à cidade. É amor vertido em copos todo aquele excelente vinho, o melhor que há para cada produtor. Quando a cada um se gaba o seu, até os se lhe brilham os olhos.
Outro motivo que me leva a gostar e a dizer que gosto, é o ambiente humano, feito de pessoas diversas e diversificadas em termos etários, em termos de região de origem, em termos de profissões e posição social e em termos de gostos musicais. Ciranda uma pessoa pelo recinto, e facilmente se dá conta do gosto e do regalo a rodos, pois como se diz, a cara é o espelho do nosso interior a cada instante.
Depois, coisa rara, a modos de dizer só bebe vinho e um ou outro copo de água para lavar a boca, mas ninguém passa o Rubicão. Uns bebem mais, outros bebem menos, cada qual aguenta o que aguenta, alguns mais para mais que para menos, chegam ao ponto em que a Terra gira, mas ninguém se descomporta e todos se comportam educadamente pois a euforia não descamba para lá do limite da civilização e do civismo.
Garantidamente é bonita a festa, pá! É com eventos assim, que o Douro se merece e se favorece. Não basta que tenha o que já tem. Tem de acrescentar para encantar ainda mais. A música e o vinho juntos são do melhor para isso. Sempre foram.