Barroso da Fonte
O frémito do passado para ganhar o futuro
Foi apresentado dia 18 de Março último, em Bragança, o livro dos «quatro congressos Transmontanos». Não podendo estar presente esperei que me chegasse pelo correio. Chegou bem e o dia deu-me para folhear as suas 450 páginas. Tendo espaço largo nas abas e contra-capa,
para falar do seu autor - o Engenheiro António Jorge Nunes - optou por resumir o seu curriculum vitae na 2ª aba. Num formato pouco usual de 24/20, mas prático para adensar as fotos, algumas, verdadeiras obras de arte, com vantagens para autores Transmontanos e Alto-durienses.
Esta é a 1ª obra a sério que foi patrocinada pel CIM-TTM de Trás-os-Montes e Comunidades Intermunicipais Douro e Alto Tâmega. Também algumas empresas que vêm referenciadas na penúltima página. Louva-se essa colaboração regional porque este tipo de obras que são imprescindíveis para conhecer o passado, o presente e o futuro do chão que pisamos.
E esta obra consegue resumir um século de história, entre 1920 e 2020.
Os transmontanos e alto-durienses que aqui nasceram, aqui viveram ou que, por aqui passaram e quiseram dormir o sono eterno, embora muitos tenham saído para cumprirem os seus compromissos profissionais.
A geração de adultos de 1920 intuiu reagir ao isolamento e desprezo social, pelas Terras de Trás-os-Montes e Alto-durienses. Quiseram ser solidários com aqueles por ali viveram, viviam ou viriam a viver. Projetaram conhecer, auscultar e promover a mais isolada região do País. E o melhor meio de avançar para esse projeto partiu de alguns daqueles tendo-se ausentado por meios urbanos para enfrentarem melhores condições de vida do que teriam se não desse esse salto. Como em 1905 nasceu em Lisboa a primeira Casa Regional com o principal objetivo de ser uma espécie de linha avançada na Capital, onde o poder decidia tudo a partir do interior para o exterior. Esse interior foi, por muitos anos, conhecido pelo «Terreiro do Paço». Ainda hoje se diz que o Terreiro do Paço, tudo encrava e nada resolve. E até se culpabilizam, ainda hoje, os melhores político que vão de Trás-os-Montes, para Lisboa, com boas intenções. Mas o poder seduz e, alguns desses mais avisados nem sempre estarão predispostos a cumprir as promessas da partida.
A geração de 1920 fez quartel general na Casa Transmontana de Lisboa. E no verão desse ano, organizou o primeiro Congresso, com o propósito de repetir, de vinte, em 20 anos, esse tipo de visitas, devidamente preparadas, para sensibilizarem o poder político, a distribuir pelas populações de longe, os mesmos direitos que repartem por aqueles que gravitam em torno do tal «Terreiro do Paço que tudo encrava e nada resolve.
Os resultados foram positivos. E em 1941 o II congressos apenas atrasou um ano. Mas foram altamente favoráveis os resultados.
O III deveria realizar-se em 1960. Mas só em 2002 pôde levar-se a bom termo e com uma repercussão que até os mais otimistas não contavam. Ficou demonstrado que sem o poder regional não é possível haver sucesso com iniciativas que se tomem fora de portas, mesmo que se trate de assuntos locais ou regionais.
A dimensão que os dois primeiros congressos alcançaram, exigiam que o envolvimento de cada nova edição que se realizasse na Província não poderia prescindir dos autarcas locais e regionais.
Em 2002 foi possível reunir, em Bragança, cerca de 1300 congressistas porque houve grande esforço por parte da AMTAD (Associação de Municípios de Trás-o-Montes e Alto Douro) e pelas Casas Regionais de Trás-os-Montes e Alto Douro, porque souberam entender-se. Todas deram o seu aval para que fosse a Câmara de Bragança e o seu autarca a liderar toda a logística. Tal decisão constituiu a chave do sucesso. Foi providencial, como foi providencial que vinte anos depois, o mesmo Transmontano tivesse reencontrado, entendimento para patrocinar o volume que chegou ao contacto com o grande público.
Não podia ignorar-se que 16 anos depois, a Casa-Mãe, de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Lisboa, estivera nas três primeiras edições. Era, obviamente, a madrinha dos três grandes acontecimentos que marcaram o século. É certo que na viragem do século essa histórica Casa de Trás-os-Montes, em Lisboa, já fervilhava com um novo rumo por ocasião do centenário da sua fundação (1905). Os tempos eram difíceis e os meios para prolongar-lhe a existência não se vislumbravam fáceis. Miguel Guedes de Sousa, foi eleito por essa altura Presidente da Casa. E foi o seu entusiasmo grupal que consultou a Casa de Trás-os-Montes do Porto no sentido de retomarem, elas e todas aquelas que se conheciam no país e na Diáspora para dialogarem com a Associação de Municípios de Trás-os-Montes e Alto Douro. Nessa altura já os Municípios se tinham entendido no mesmo sentido, designando o Presidente da Câmara de Bragança para, conjuntamente, as Associações levarem - finalmente - o III congresso a bom porto..
Foi um trabalho hercúleo que se preparou em dois anos.
Dezasseis anos depois o Presidente da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa, Hirondino Isaías,querendo evitar que o IV Congresso não demorasse mais 61 anos, como o III, optou por fixar essa edição para Maio de 2018. Com a prata da Casa, como se diz em futebol, fez-se aquilo que foi possível fazer. Conseguiu a cedência do Pavilhão do Conhecimento do Parque das Nações. Valeu, sobretudo para honrar o pioneirismo dos três congressos anteriores, com uma certeza: se essa quarta edição não tivesse acontecido em 2018, já não poderia cumprir-se dentro do centenário.
Jorge Nunes que fora o grande obreiro do maior acontecimento do século, em Trás-os-Montes, foi também, o Transmontano que, vinte anos depois, teve o rasgo, a coragem e a capacidade de reunir em 450 páginas, uma espécie de tese de doutoramento, (re) unindo 1920- 2020, anos de tempo do passado, do Presente e do Futuro».
Um qualificado júri de catedráticos: Adriano Moreira, Fernando de Sousa, Ernesto Rodrigues, Emídio Ferreira Gomes, Orlando Rodrigues, Ramiro Gonçalves e Daniel Melo.
A sugestiva capa do Escultor António José Nobre e os contributos dos artistas:Paulo Moura, Laureano Ribatua, Hélder Carvalho, Graça Morais, Balbina Mendes, A. M. Pires Cabral, Gracinda Marques e Mário Lino, todos Transmontanos de fibra.
A tiragem desta 1ª edição, é de dois mil exemplares e traz a chancela de Lema d' Origem Editora Ldª, [email protected], com sede em Carviçais
Ernesto Rodrigues que assina o posfácio em seis assertivas páginas, resume em 9 alíneas «uma realidade centenária. ao descrever quatro congressos e diz mais: «faz-se balanço para o salto, não em cumprimento, mas em altura, metáfora da região, em sua dignidade beliscada por políticas amnésicas». Esta meia dúzia de páginas condensa os muitos méritos deste glorioso trabalho de «Jorge Nunes que, ao tempo, encabeçava a Assembleia Intermunicipal da Associação de Municípios de Trás-os-Montes e Alto Douro. Era uma oitava tentativa, desde 1981, como ele informa, salientando os esforços de Barroso da Fonte». Esclarece ainda que esse projeto «envolvia 36 municípios e mais de duzentas instituições, da Comissão de Honra, presidida pelo Presidente da República e Primeiro Ministro, até às conclusões editadas em 2003...»
Barroso da Fonte