Henrique Ferreira

Henrique Ferreira

O Ministro que meteu a foice em seara alheia

Manuel Heitor, Ministro da Ciência e do Ensino Superior meteu a foice em seara alheia.

Pior que isso, falou do que não sabe e daquilo em que é incompetente ou em que é insuficientemente competente.

Ao propor três novos cursos de Medicina Geral e Familiar (MGF) nas universidades de Vila Real, Aveiro e Viseu, com matriz própria e com um tronco formativo não comum às restantes especialidades médicas, como até agora, o Ministro maltratou a Medicina e, sobretudo, os médicos generalistas, e deu uma imagem de querer baixar  o nível da formação e da carreira médica. Para o Estado pagar menos a esses médicos? Para poder abastecer o sistema de saúde de médicos suficientes na área? Não sei as verdadeiras razões do Ministro mas sei que me parece um erro crasso como já responderam os médicos de Medicina Geral e Familiar portugueses e ingleses.

Manuel Heitor talvez ignore o verdadeiro funcionamento do nosso sistema de saúde, baseado nos médicos de Medicina Geral e Familiar, colocados nos Centros de Saúde. Eles são os médicos de primeira linha, sem meios de diagnóstico eficaz, para onde os hospitais atiram quase todos os doentes que vão às urgências e que ficam desamparados face ao não tratamento esperado nos hospitais. Talvez ignore que a urgência, onde, não raramente, estão médicos mal preparados, é o último recurso do doente que, face à não resolução do seu problema, tem de iniciar novo ciclo de consultas nos centros de saúde, onde os médicos de família têm de reiniciar os diagnósticos e recorrer de novo aos hospitais ou a entidades privadas para a realização dos mesmos.

Ao querer desvalorizar a formação dos médicos de MGF, Manuel Heitor dá a entender que um médico desta área não necessita de uma formação generalista sólida esquecendo que, na realidade, ele, o patologista clínico e o médico de medicina interna têm de saber tudo e de ter uma formação muito ampla.

Em vez de aprofundar a formação médica, Manuel Heitor sugeriu a sua diminuição e banalização, até porque sem estudos bastantes sobre os efeitos práticos do curso de MGF que foi lançado há seis anos na Universidade do Algarve, com uma duração e uma matriz já diferentes dos restantes cursos de Medicina.

Os ministros não podem cometer erros destes.


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