Manuel Igreja
O pacote e os tolos
O governo de Portugal disponibilizou um pacote aos cidadãos e logo se levantou um burburinho e mais o habitual ror de compenetradas reflexões ao gosto das opiniões já formadas e formatadas pelas tendências da individual espartilha do engajamento político.
O pacote, como lhe chamaram e chamam, contém um conjunto de ajudas financeiras para que melhor se enfrente a situação das dificuldades quotidianas do custo de vida que não cessa de aumentar para muitos, não sem que como parece destino, diminua para uns poucos que ganham a bom ganhar surfando as ondas no mar das oportunidades.
Sobre o dito em si mesmo, não sendo eu douto no assunto e porque sábios de tudo e mais alguma coisa não escasseiam, somente me fico por dizer que se ganha quando nos dão alguma algo nem que seja a esmola de meia tigela de caldo sem acompanhamento. Mesmo que se pague mais tarde em dobro, no instante sabe bem e consola.
Também nada me custa referir que a ajuda será nestes dias a possível e que dar mais, seria estragar o que se quer arranjar. O horizonte está negro e precaver vale mais do que remediar ou correr atrás do prejuízo, como fazemos desde que há memória e sem que aprendamos com os erros. Está-nos o sangue.
No entanto e não escalpelizando o conteúdo pelos motivos que indiquei, não posso deixar de criticar a forma como nos deram conta da existência do cabaz. Foi um autêntico exercício de propaganda ao jeito dos pantomineiros e dos vendedores de quinquilharias a pataco.
Os governantes impantes e muito cheios de si não foram sérios na comunicação na linha de que não vêm sendo nestes tempos crescentemente sofridos e com a esperança a esmorecer porque vai no sentido inverso da apreensão quanto ao futuro imediato que deixou de ser o que era.
O governo da nação leva uns meses de vida e já parece velho. Está mortiço esforçando-se por se mostrar prenhe de vitalidade. Anuncia medidas e planos de salvação de diversos setores enquanto a vida decorre e enquanto as estruturas vão ruindo ou pelo menos tremendo no chão do pântano que não encolhe e se estica.
Como cidadão, confesso que não consigo perceber como é possível um governo de maioria absolta e com dinheiro a rodos, não conseguiu ainda iniciar uma reforma estrutural das muitas que urgem, não conseguiu ainda inequivocamente afirmar um rumo, e mais não faz do que estar em permanente campanha eleitoral num contexto de fim de ciclo. Quase diria que algum cartomante vislumbrou eleições a ocorreram antes do suposto. Vá lá saber-se.
O que se sabe, é que ministros sofrem de abandono e caiem de podres, ministros desautorizam e são publicamente desautorizados, ministros mais do mesmo e do círculo próximo entram para parecer que ninguém saiu, e tudo o que se faz é como se se fizesse para se não dizer que nada se faz.
Por essas e por outras é que o pacote que o governo nos deu, nos foi apresentado com manigâncias e trejeitos de quem dá bolos para enganar tolos.