Manuel Igreja

Manuel Igreja

O Palacete dos Barretos

O Palacete dos Barretos, é o belo casarão onde está instalada a Biblioteca Municipal do Peso da Régua. Podia ser mais um dos edifícios arruinados entre o casario da nossa cidade à semelhança de todas as outras para mal dos nossos pecados e para desgosto comum, mas não. Teve melhor sorte. Ele, e todos nós.

Indo um pouco à sua origem, podemos saber que foi construído no final do século XIX, uma época nada fácil para Portugal política e economicamente falando, como é costume e fado. No portão de entrada do recinto pode verificar-se a inscrição: MCP 1890.

As iniciais pertencem ao nome de quem o mandou erguer, o dr. Manuel Costa Pinto, e o ano, nada custa supor como sendo o da sua inauguração. Antes que me esqueça e para fazer justiça, teve bom gosto o dono da propriedade. Aliás nem podia ser de outra forma, digo eu alicerçando-me no que me chegou ao conhecimento acerca do insigne advogado da praça reguense.

Teve escritório aberto para tratar de assuntos da lei, mas também foi político num tempo em que sendo a política a arte do possível, era como sempre deveria seria, uma questão de missão de cidadania. Obviamente que havia alguns metidos na coisa por outras loisas, mas Manuel da Costa Pinto, não parece que fosse desses.

Num tempo em que se impunham e anunciavam mudanças, soube ler e esperar pelo dias ainda por nascer, empenhando-se para que fossem um pouco melhores. Foi presidente da Câmara Municipal do Peso da Régua, por exemplo e ficando-me por aqui quanto a ele, pois o ponto é o edifício e mais o que ele é e representa nestes nossas dias, depois de ter sido muito bem recuperado.

A sua própria localização é uma lição. Quando lhe começaram a fazer os alicerces, fizeram-no no terreno da Quinta da Ameixoeira que eram uma bonita quinta que se estendia do início da rua da Ferreirinha até sensivelmente ao local onde está o mercado municipal com o rio como limite a sul.

Ainda não há muitos anos, se ouvia referir a rua da Ferreirinha e seu envolvente como a Ameixoeira. Nos arredores que hoje conhecemos, havia casa do caseiro e galinheiros, corte do porco e horta. Era um quinta como qualquer outra, só que deu chão para uma Biblioteca, coisa rara e que não é para qualquer um.

Numa parte da quinta, está um Palacete. No seu interior, ainda há poucas décadas, adultos e crianças em ambiente familiar encantaram-se e desencantaram-se, riram e choraram, brincaram e bulhavam. Viveram todos os momentos próprios de cada dia e de cada noite que nascem porque só assim se vive.

Mas agora, para todos nós é muito melhor. No seu interior, está guardado e ao dispor de ser partilhado muito saber. Muita sabedoria guardada em livros, muita possibilidade de se viajar sem limites, muito mundo por desbravar, muitas pessoas para se conhecer, pois, como se sabe, quando se abre um livro e se alinham os riscos pretos batizados como letras, o mais certo é ele virar um objeto mágico à guarda dos deuses do Olimpo de cada qual.

No entanto, sendo uma Biblioteca, não quer dizer obrigatoriamente que é só uma casa de livros. Pode ser tudo e mais alguma coisa daquelas que servem para regar o espírito e aconchegar a alma que de oras em quando lhe dá para vibrar com o que escuta e com o que vê.

Garantidamente na Biblioteca Municipal do Peso da Régua, no palacete construído para morada de uma digníssima família da urbe reguense, tudo isso existe, tudo isso acontece.

Como é obvio, se tem sido para muitos ou para poucos, é outra conversa. Na peça em palco que á a vida, compete-nos individualmente escolher o papel e o canto que pretendemos em cada instante desempenar e ocupar antes que o pano desça definitivamente.

O Palacete dos Barretos está de portas abertas.



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