A dinâmica política em Portugal é, sem dúvida, dominada pelos partidos, o que levanta questões cruciais sobre o papel dos militantes e as suas obrigações. Embora a filiação a um partido possa ser vista como uma escolha, na prática, ela torna-se uma necessidade para aqueles que desejam ter uma voz ativa na sociedade. Essa realidade, que se assemelha a contextos mais autoritários, revela um paradoxo: os partidos, que deveriam garantir a liberdade e a representação, muitas vezes restringem a participação dos próprios militantes.
Os militantes enfrentam um dilema constante. Quando se sentem ignorados ou desconsiderados nas decisões partidárias, surge a pergunta: devem "engolir o sapo" e apoiar candidaturas com as quais não concordam? Ou têm o direito e a responsabilidade de buscar alternativas que reflitam os seus valores e interesses? A verdade é que, ao se depararem com a possibilidade de que os princípios do partido estejam a ser comprometidos, muitos militantes veem-se obrigados a procurar novos caminhos.
Além disso, se acreditam que uma candidatura não promoverá uma vitória que beneficie a comunidade, não é apenas um direito, mas um dever unir-se a projetos que atendam às suas expectativas. Essa busca por alternativas é fundamental para garantir que a política não se torne um jogo viciado, onde apenas alguns manipulam as regras em benefício próprio.
É pertinente indagar se os partidos convivem mal com a liberdade individual dos militantes. As decisões autocráticas e a incapacidade dos dirigentes em ouvir as bases são fatores que promovem o afastamento e o descontentamento. Entretanto, uma contradição manifesta revela-se: enquanto os militantes que se aventuram em projetos independentes podem ser penalizados, até mesmo enfrentando tentativas de expulsão, os líderes partidários gozam de total liberdade para convidar independentes a integrar as suas listas, sem se fazer uma avaliação se entre os militantes existem individualidades com o perfil adequado para desenvolver o projeto em questão. Assim, aqueles que ousam desafiar o sistema de dentro para fora dos partidos podem sofrer sanções, enquanto os próprios partidos, ou melhor, seus dirigentes, podem recorrer a independentes sempre que lhes aprouver.
O 25 de abril trouxe a liberdade, mas os partidos, ao restringirem a participação ativa dos seus militantes e simpatizantes, parecem contradizer esse legado.
Para os partidos, é essencial que os militantes e simpatizantes não se afastem, mas sim reivindiquem uma maior participação e transparência nas decisões. Por outro lado, os militantes devem sentir-se encorajados a agir em nome do concelho, da região e do País, promovendo ações que reflitam a verdadeira vontade da comunidade. Somente assim poderemos evitar embarcar em ficções irresponsáveis e garantir que a política sirva realmente aos interesses de todos.
Os estatutos dos partidos são claros quanto às obrigações e aos deveres, só que também aqui as obrigações são para os militantes e os dirigentes esquecem-se de que também eles são militantes.