António Bob Santos
O potencial das redes de conhecimento
A região de Trás-os-Montes e Alto Douro (TMAD) é uma das regiões europeias com menor riqueza produzida por habitante (PIB per capita). São vários os fatores explicativos desta situação (história, investimentos, políticas públicas, emigração, etc.), que originam défices atuais em termos de inovação e de recursos humanos qualificados.
Neste sentido, assume uma importância considerável a recente inauguração do Regia Douro Park (em Vila Real) que, em conjunto com o Brigantia Eco Park (em Bragança), constituem o Parque de Ciência e Tecnologia de Trás-os-Montes e Alto Douro. Impensável há uns anos, a existência de um infraestrutura deste tipo vem contribuir para criar mais eficiência e uma melhor articulação entre as entidades produtoras de conhecimento (UTAD e IPB), as entidades públicas e as empresas locais, bem como para gerar, a prazo, atividades de maior valor acrescentado na região. Um bom exemplo é o que está a acontecer no Alentejo, com o PCTA (Parque de Ciência e Tecnologia do Alentejo), que trouxe novas dinâmicas de inovação e de empreendedorismo numa região economicamente deprimida.
Mais do que uma simples infraestrutura, o Parque de Ciência e Tecnologia de TMAD pode constituir-se como um pólo mobilizador de projetos e serviços inovadores, com impacto no desenvolvimento das áreas onde a região detêm já um forte conhecimento. Entre essas áreas encontra-se, naturalmente, o “cluster” agro-alimentar, onde se incluem a produção, transformação e exportação de produtos e derivados do vinho, do azeite, das frutas, dos produtos de fumeiro ou dos queijos. Mas o impacto do Parque de Ciência e Tecnologia deve também fazer-se sentir no desenvolvimento ou na consolidação de áreas emergentes. Entre essas áreas podemos destacar as tecnologias “verdes”, as energias renováveis, o turismo sustentável (paisagístico, gastronómico ou religioso), o retomar da exploração mineira e a sua valorização no território ou os serviços especializados de suporte às empresas e à economia digital.
Numa economia global e conectada, o Parque de Ciência e Tecnologia pode contribuir também para posicionar TMAD como uma região criadora de redes de conhecimento, quer à escala nacional quer global, embora com consciência das suas debilidades e potencialidades. Se as debilidades são há muito conhecidas, podemos apontar como uma das potencialidades a enorme rede de transmontamos que se encontra espalhada pelo país e pelo mundo, em empresas ou entidades públicas, e que pode ser fundamental para a geração de novas oportunidades de investimento e de riqueza em TMAD. Isto porque as tecnologias digitais permitem atualmente que qualquer entidade ou empresa da região possa trabalhar ou colaborar com qualquer pessoa que se encontre em qualquer parte do mundo. Não há razão nenhuma para que isso não aconteça, para que não se possa aproveitar o saber e o conhecimento dos transmontamos e aplica-los no desenvolvimento da sua região.
O Parque de Ciência e Tecnologia, enquanto instrumento de política pública, pode ter esse papel dinamizador e agregador, pode ser o elo de ligação dos milhares de transmontanos “expatriados” à sua região. Pode, também, ter um papel importante na fixação dos jovens transmontanos que atualmente aí residem, bem como na atração de jovens de outras regiões (incluindo das zonas fronteiriças), que queiram desenvolver a sua atividade na região e o seu projeto de vida familiar.
António Bob Santos
Economista. Especialista em Políticas de Inovação.