Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

O povo meteorologista

Sentenças que ficam na memória depois de tudo o que vai esquecendo, os provérbios condensam, por isso, saberes do povo antigo. Saberes vividos, experienciados, testados na cosmogonia, autorizados pelo tempo. O que há então a esperar do mês de abril? “Águas mil”, pois claro, “quantas mais puderem vir”… mas “peneiradas por um mandil”. Um mandil é o pano grosseiro com que as mulheres transmontanas faziam os aventais. Por isso, é bom que a chuva venha, de preferência muita e constante, mas que venha bem doseada, de pingas mansas e finas para que penetre lentamente na terra sem destruir os renovos.

Ou seja, a natureza em abril faz o seu trabalho: “Por onde a água de abril passou, tudo espigou” e “a água em abril carrega o carro e o carril” ou “abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado”.

É, por isso, um tempo de bonança para o homem, que sempre pode ficar mais tempo em casa, à lareira, a descansar. Daí o provérbio “em abril queima a velha o carro e o carril”. E também: “em abril, queima o velho o carro e o carril, e a canga que ficou logo em maio a queimou” ou “em abril dorme o criado mandrião, e em maio dorme o criado e o patrão”. Depois, é ver o resultado: “Em abril, cada pulga dá mil”.

E o estômago que se cuide: “Quem come caracóis em abril, prepare a cera e o panil” (pois bem sabe esta gente que os caracóis, colhidos sob a terra enlameada, são iguaria traiçoeira).

Quanto às geadas, nem é bom falar: “A geada de março tira o pão do baraço e a de abril nem ao baraço o deixa ir”.

E se estes ditames meteorológicos não se cumprirem? Então… “se não chover entre março e abril, dará o rei a filha a quem a pedir”.

Saberes do povo. Saberes de gente sábia.

 

(Bib.: PARAFITA, A.; et al. – Os Provérbios e a Cultura Popular, Gailivro, Porto, 2007)

 


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