Ana Soares
O “tal” cartaz
Muito se tem falado e escrito nos últimos dias sobre o cartaz que o Bloco de Esquerda fez difundir pelas redes sociais em que se vê o Sagrado Coração de Jesus e o Slogan “Jesus também tinha dois Pais”. Sobre a (in)conveniência do cartaz não é preciso tecer grandes comentários.
De facto, tentar misturar alhos com bugalhos e baralhar Jesus com a adopção por homossexuais é, no mínimo, pouco honesto intelectualmente, tenha-se a posição que se tiver sobre a referida adopção. Não interessa aqui entrar em questões teológicas até porque, lendo a Sagrada Escritura, claro se torna que Jesus tem um só Pai, Deus. É o próprio quem o diz. Até porque, se fossemos por aí, todos temos a graça de Maria ser também nossa Mãe. Porque de um modo mais “terreno” e “biológico” todos nós temos um Pai e uma Mãe. Somos fruto de células femininas e masculinas que se cruzaram. Não há volta a dar.
No entanto, como em qualquer situação, é possível retirar alguns pontos positivos de toda esta caricata (e desajustada) campanha.
Desde logo, nunca durante a Quaresma tinha visto tantos católicos – seja em redes sociais seja noutros fóruns – falar com tanta garra sobre a Religião e sobre o Divino Coração de Jesus. E que falta nos faz viver Cristo no dia-a-dia…
Por outro lado – pasmem-se as nossas almas – que eu tenha conhecimento nunca um partido político tinha feito um cartaz sobre a Divindade de Jesus e foi exactamente o Bloco de Esquerda que – reconhecendo que Deus é Pai de Jesus e a Divindade do Seu Coração – o fez. Num tom mais sério, não podemos deixar de nos aperceber do facto de o BE ter mostrado qual a sua posição (e respeito…) face ao Cristianismo. Ainda que tenha sido rapidamente intitulado como “erro” e tenha merecido censura por parte de alguns dirigentes bloquistas, a verdade é que se há cartaz que não seria difícil adivinhar as reacções que desencadearia era aquele e, ainda assim, o Bloco avançou.
Interessante seria que o BE se lembrasse dos ensinamentos de Cristos – dos verdadeiros, não dos que dão jeito interpretar de determinado modo – para defender a vida, por exemplo… Aliás, julgo até que os homossexuais não ficaram bem na fotografia porquanto não mereciam ser reduzidos a arma de arremesso num jogo político. E também isto Cristo nos ensinou, que devemos respeitar e amar-nos uns aos outros, tenhamos as opções que tenhamos.
Que neste ano da Misericórdia, e nesta época especial da Quaresma, saibamos também nós, Católicos, reduzir esta questão à importância que tem e viver o perdão. E aguardar, com expectativa, para ver se haverá também cartazes, ou flyers, sobre a paternidade do Orçamento de Estado… O que está em causa não é o que defende o Bloco face à adopção por casais homossexuais. Isso é outra discussão, que teria todo o gosto em ter. O que está em causa é o modo de fazer política, mesmo quando há necessidade de chamar a atenção e manter o rótulo de partido fracturante. As eleições presidenciais – e o surpreendente e muito bom resultado do BE – provam-no. Não havia necessidade.