Manuel Igreja

Manuel Igreja

O túnel é um desafio

Já passei no túnel do Marão. Primeiro estranha-se, depois entranha-se, e uma pessoa vai por ali adentro até ao outro lado da serra. Fiquei orgulhoso e contente. Aliviado até. Finalmente ir ao Porto é uma escanchinha. Custou mas foi. Dizem que agora a região está menos injustiçada, mas a ver vamos como diz o cego.

Por mim, desde já me afirmo enquanto condutor preguiçoso e comodista que não há melhor. Foi uma excelente ideia. Contudo, na minha condição simples de cidadão do Douro que tenta ser também do mundo dentro das minhas possibilidades, não deixo de ver na obra um enorme desafio para todos nós.

O desafio é grande, mas a oportunidade, ou as oportunidades advindas da nova acessibilidade são com justiça se diga, de se lhe tirar o chapéu. Assim haja visão alargada, vontade que baste e inteligência que alumie quem decide e quem pensa as estratégias.

Sustentando nisto um certo ceticismo latente, chamo a mim o exemplo de outros acessos melhorados com novas vias, nos quais se verifica que o comodismo individual e a facilidade de deslocação, não raramente significaram mais despovoamento e menos desenvolvimento na parte de um dos polos ligados pelas novas estradas.

Tem faltado até agora, o saber dos romanos, que há dois mil anos, tinham a noção de que duas urbes ligadas entre si por uma via, obrigatoriamente tinham de se equivaler em potencial, sob pena de em plano inclinado um esvaziar o outro. Pense-se um pouco e bem, e logo a realidade nos indica que neste contexto na prática a teoria foi e é outra, como jeito de chalaça alguém diz.

Estando a região do Douro graças a Deus que é Pai, em crescendo no setor do Turismo que obviamente se faz com pessoas, nada custa crer que com melhores condições de circulação, logo se atrai mais e melhor gente. Nada de mais certo no raciocínio.

Complete-se este com o facto de à semelhança de todo o interior, ser esta quase a única atividade económica capaz de evitar a desgraça e a entrega ao povoamento por fantasmas e à ocupação por teias de aranha. Posto isto, sem margem de dúvida, se pode afirmar que o Turismo é o futuro. Logo, tudo o que o envolve é crucial.

Onde eu bato nas minhas congeminações, é que estou mesmo a ver por exemplo os hotéis no Porto a venderem as suas excelências de estadia, com o argumento que os que aportam no aeroporto mais lhes vale virem dar uma volta ao Douro, verem a paisagem muito bela como tantas, apreciarem os seus vinhos, petiscarem um pouco para não enjoarem, com um regresso cómodo no final de umas horas ou do dia.

Coisas a fazer e para se ver na magnífica cidade e arredores é o que não falta, ao contrário do Douro que tantas vezes é de se morrer de tédio após a primeira e muito boa impressão. O acesso a nós melhorou, mas a centralidade só não se deslocou, como se reforçou junto ao mar. A média de dormidas na região que ronda as duas noites, não chega, bem que pode diminuir.

Acerca do que se deve fazer e como no Douro, tudo está estudado e plasmado em documentos. Não é necessário inventar-se nada. Está tudo mais que sabido. Nunca fomos expeditos a aproveitar as oportunidades e as potencialidades. Esperemos que o túnel não vá para o rol das oportunidades perdidas, porque se não foi capaz de o ver como um desafio.


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