Luis Ferreira

Luis Ferreira

Onde pára a minha escola?

Em época natalícia seria bom que todos os presentes fossem animadores, interessantes, educativos e criassem uma empatia razoável entre todos os que dão e os que recebem. Infelizmente não é isso que se verifica na maior parte dos casos.

É quase sempre nesta época que sai o ranking das escolas nacionais como se de um presente de Natal se tratasse, vá-se lá saber porquê! Todos os anos se ouvem as críticas acerca deste episódio classificativo e não são as melhores. As escolas são o que são e pertencem todas, ou quase, ao mesmo sistema de ensino e sujeitam-se aos mesmos currículos o que não é, de modo algum, termo de comparação entre todas elas.

Assim, têm-se ouvido críticas sobre o modo de comparar os estabelecimentos de ensino, sobre a autonomia de umas escolas face a outras, sobre currículos alternativos adequados à região onde se inserem e os alunos mais propensos a um profissionalismo futuro de razoável incerteza, sobre a capacidade dos professores e mais grave, entre os que lecionam no litoral e os que se limitam a andar pelas terras do interior onde a interioridade parece ser um handicap extraordinário nesta coisa das aprendizagens. Enfim, um sem número de premissas para uma conclusão nada lógica.

O que é certo é que, no meu modesto entender de professor deste sistema e deste interior há mais de trinta anos, não se compara o que deve ser comparável e não se diz muito do que se devia dizer. Fala-se muito, critica-se e posicionam-se as escolas numa escala que não traz nenhuma vantagem nem para as escolas nem para os alunos e, poderá servir para exacerbar o ego de alguns pais que conseguem colocar os seus filhos nos tais colégios particulares ou nas escolas que ocupam os lugares cimeiros da escala. Enfim! Será que no meio disto tudo não se estão a esquecer de coisas como o perfil dos alunos, a inclusão de alunos com deficiência em que algumas escolas fazem um trabalho extraordinário, ou mesmo do humanismo com que se devem tratar os alunos de modo a prepará-los e alertá-los para uma melhor sociedade futura através do desenvolvimento de projetos de promoção da cidadania? E já conseguiram aquilatar se o grau de pobreza de algumas famílias é ou não um redutor do sucesso que há em algumas escolas, nas tais que não recebendo um presente de Natal, se posicionam no fundo da tabela, mas não deixam de ser tão escolas como as outras?

Mas é facto que a comunicação social continua a divulgar os dados que recolhe e parece não questionar muitas das coisas que lhe dizem. Parece-me que é uma guerra entre o Ministério da Educação e a comunicação social. Aliás, esta guerra começou já em 2001. Este foi o ano em que pela primeira vez saíram classificações sobre as escolas embora só se referissem aos alunos do 12º ano. E aqui levanta-se outro problema: até agora têm-se comparado as escolas e as notas dos alunos, sejam de 4º ano, de 6º ano, de 9º ano ou de 12º ano, mas penso que era relevante comparar as médias dos alunos que entram nas universidades e a média com que de lá saem. Será que têm medo de o fazer? Possivelmente seria uma desilusão e/ou a prova de que há algumas escolas que inflacionam as notas dos seus alunos para que entrem nos melhores cursos ou nas melhores instituições. Isto teria interesse para um ranking? Se calhar não.

Contudo e mesmo com todos os handicaps que possam estar associados a este interior desprezado, a verdade é que daqui têm saído dos melhores alunos a nível nacional e cujas médias rondam os 20 valores. Melhor do que isto, nem os do litoral, nem os das escolas particulares, nem dos colégios famosos que todos nós ajudamos a pagar.

A minha escola anda perdida neste ranking, mas os seus alunos dignificam tanto a escola como os professores que lhes transmitem o saber com a humildade de serem simplesmente professores e com a humanidade que eles merecem, porque são tão filhos deste país como os demais. Temos pena!


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