Luis Ferreira
Ora atiras tu, ora atiro eu
Num momento tremendamente perigoso para o mundo inteiro, continuamos a assistir a um jogo de meninos mimados que querem mostrar que são já crescidinhos. Se não fosse o caso real do que se passa entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos da América, certamente teríamos outros exemplo para referir e ilustrar o título do presente artigo. Na verdade, as ameaças constantemente proferidas entre os dois beligerantes verbais, cujas palavras ameaçadoras rasam o inconcebível, o caricato e o mundano, não deverão passar disso mesmo. Ora atiras tu, ora atiro eu e se as coisas chegarem a vias de facto, atiras tu mais eu. Um jogo de guerra do mais sofisticado que pode existir.
Igualmente neste período vivem-se na Europa outros momentos que, sendo igualmente jogos, são um pouco mais leves do que o que se passa lá para as bandas da Coreia do Norte. A Espanha debate-se com o eterno problema das reivindicações independentistas da Catalunha e não permite que o referendo por eles requisitado seja efetivamente levado a cabo. O país que já foi, tanto pode voltar a ser como não. É um jogo do empurra que o governo espanhol terá de continuar a travar com o governo regional da Catalunha.
Mas nesta altura em que as eleições surgem um pouco por todo o lado, também a Alemanha viveu esse momento, apesar de saber que Merkel seria reconduzida para um quarto mandato. Contudo, e isso ela não previa, a extrema-direita chega ao parlamento e terá de saber lidar com ela, coisa que será basicamente difícil. Vai ser mais um jogo de infantilidades. Mas as eleições trouxeram a continuidade dos problemas para Merkel resolver. Como não tem maioria, terá de arranjar parceiro de coligação e Shultz já disse que com ela não faz coligação. O SPD vai ser oposição! O jogo continua.
Mas as coisas também não passam ao lado de Portugal que, estando à beira de eleições autárquicas, vê esgrimirem-se razões por todo o lado, neste mesmo jogo do atiras tu ou atiro eu. A campanha está na rua e se em Lisboa as coisas estão mais ou menos seguras para Medina, a luta está entre o PSD e o CDS, onde a Teresa Leal Coelho está em maré baixa e aflita para chegar à praia, não conseguindo passar as ondas que levantam à sua frente. É que Assunção Cristas consegue nadar bem em águas revoltas e mantém-se num segundo lugar a alguma distância. Apesar de ser um jogo de “ora chegas tu, ora chego eu”, pode bem ser um chegas tu e eu. Claro que isto era muito bem escusado se Passos Coelho tivesse feito a coligação com Cristas, pois possivelmente Medina nem sequer ganharia a Câmara de Lisboa. Mas o tal jogo do empurra, leva a erros deste género. Tão depressa se ganha, como se perde. É um jogo.
Claro que o PS assiste a tudo isto e tenta fazer a sua campanha sem grandes sobressaltos, até porque tem de ir engolindo alguns sapos bem gordos. Foi o caso do comício da CDU deste fim-de-semana onde Costa marcou presença e teve de valorizar a lista da CDU, arremessando louvores ao PCP. Até aqui a geringonça terá de subsistir! Houve locais onde o PCP se atirou ao PS e ao governo com toda a fúria, mas outros houve em que o contrário também é válido. Pois é: ora atiras tu, ora atiro eu!
Quem não tira e só atira, é Assunção Cristas que quer que o governo explique o que se passou em Tancos. Parece que afinal não existe relatório ou que até pode ser falso o que se apresentou. A ser assim, pode ser que o próprio Ministro da Defesa também seja falso e não exista – diz ela.
Tal como já eu havia dito, a culpa ninguém a quer e o que se passou em Tancos não deixa de ser grave, seja o caso de ter havido assalto agora ou há cinco anos atrás. O material desapareceu e ninguém sabe como? Impossível. Senhor Ministro, alguém o levou. Também aqui continuamos com o jogo do “ora atiras tu, ora atiro eu”, já que não se chegará a nenhum resultado.
Voltando à Coreia do Norte e aos Estados Unidos e aos imberbes governantes que se entretêm a jogar pedras um ao outro, só espero que não sirvam de exemplo para jogos bem piores e que venham a envolver outros intervenientes. É que as pedras que estão a atirar um ao outro, podem transformar-se em bombas H e, nessa altura ninguém sabe quem sairá vencedor. A loucura que envolve o menino da Coreia, não é muito diferente da do outro dos EUA, muito embora seja mais fanática e irresponsável. A verdade é que este jogo é demasiado perigoso para se tornar realidade jogável.
O melhor é mesmo jogarmos com as pedras que por cá temos. Pelo menos não magoam tanto, ganhe quem ganhar.