João Pedro Baptista

João Pedro Baptista

Os curiosos dados da PORDATA sobre Vila Real

Creio que os dados estatísticos da PORDATA devem ser interpretados tendo em conta dois contextos diferentes durante a década: um período de crise  2010-2013 (pré-Troika e Troika) em que Portugal esteve sujeito a uma austeridade forçada pela crise económico-financeira em que se encontrava, sofrendo fortes repercussões em toda a vida pública e política do país; e um período pós troika, 2014-2018, de recuperação económica. Se tivermos em conta estes dois contextos, os dados fazem mais sentido.

 

Foi com alguma surpresa e, talvez estranheza, que verifiquei os indicadores estatísticos, publicados pela PORDATA relativos ao município de Vila Real entre 2010 e 2018. Acredito que esses dados também surpreenderam outros transmontanos, a julgar pelo impacto mediático que a notícia teve nos meios de comunicação regionais e locais e nas redes sociais. Os dados demográficos apresentados revelam que o município de Vila Real perdeu população, nomeadamente jovem, durante esta década. Além disso, mostram também que houve uma redução de alunos, o que de facto parece apontar para um retrocesso do desenvolvimento da cidade nos últimos 10 anos. De positivo, verifica-se o aumento de empresas não financeiras, de unidades hospitalares e de alojamentos turísticos. No entanto, o que surpreendeu muita gente foi a redução significativa da população residente, o que vai ao encontro de uma problemática antiga e de uma velha realidade de um território que se chama Interior. Há anos que o Interior perde população, sempre assim foi e sempre será, enquanto não houver uma verdadeira vontade do Estado Central em descentralizar os serviços públicos do Litoral para o Interior e enquanto continuar a existir um certo preconceito em investir no Interior por parte dos nossos empresários. 

Contudo, creio que os dados estatísticos da PORDATA devem ser interpretados tendo em conta dois contextos diferentes durante a década: um período de crise  2010-2013 (pré-Troika e Troika) em que Portugal esteve sujeito a uma austeridade forçada pela crise económico-financeira em que se encontrava, sofrendo fortes repercussões em toda a vida pública e política do país; e um período pós troika, 2014-2018, de recuperação económica. Se tivermos em conta estes dois contextos, os dados fazem mais sentido. Em termos de população residente, entre 2010 e 2013, Vila Real perdeu 866 residentes, o que é facilmente justificável pelo índice de desemprego do país e pela avalanche de pessoas que foi obrigada (a nível nacional) a emigrar. Durante esse período de crise, os jovens (15-24 anos) também foram menos em 2013 do que em 2010 (-316 pessoas). No ensino pré-escolar ao ensino secundário, Vila Real perdeu 1838 alunos em três anos e os desempregados inscritos no centro de emprego aumentaram 2,6 por cento, com 10,8 % em 2013. 

Por outro lado, se fizermos a comparação com um período de recuperação económica, 2014-2018, Vila Real não perdeu tanta população residente (-758 pessoas), aumentou a população jovem (15 anos – 24 anos), quando tinha perdido antes; aumentou a sua atividade turística drasticamente de 4 alojamentos turísticos (em 2010 e 2013) para 17 em 2018. Além disso, entre 2014 e 2018, o município de Vila Real conseguiu recuperar o índice de desemprego que havia aumentado em 2013, ou seja, entre 2014 a 2018, o município de Vila Real reduziu o desemprego em 2,5%. Nesse mesmo período, também ganhou mais empresas não financeiras comparativamente ao período anterior. Ainda assim, é no Ensino Superior que Vila Real continuou a perder alunos, tendo perdido mais de 500 entre 2014 e 2018. De realçar, porém, que é um orgulho que a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, mesmo com menos alunos, tenha mantido a qualidade de ensino e das suas equipas de investigação, entrando no Top 10 nacional do ranking mundial das universidades. 

Por último, acredito que os dados estatísticos devem ser confrontados e interpretados tendo sempre como base um contexto político, económico e social e, só assim, podemos retirar as nossas ilações. 


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