Alexandre Parafita
Os farricocos
Quem se lembra deles? Eram figuras sinistras, encapuzadas, que, na Semana Santa, envergando negros balandraus, andavam pelas ruas, em penitência, descalços, com as suas matracas, anunciando os suplícios de Cristo e chamando os fiéis para as endoenças e via-sacra. Sob os capuzes deixavam espreitar dois olhos arrepiantes, silenciosos… tudo conjugado para a construção de um ambiente fúnebre e soturno que este período sacro impunha.
Os farricocos eram também as misteriosas criaturas que, outrora, iam em penitência recolher os ossos dos condenados à forca que a sociedade e a família deixaram a apodrecer nos locais de execução. Sob os lúgubres balandraus transportavam em procissão (a chamada “procissão dos ossos”) os míseros esqueletos daqueles infelizes que aguardavam, nas forcas, dias, semanas e meses por uma oração ou por um gesto de compaixão que não havia.
Hoje, os farricocos ainda são vistos nos momentos mais pungentes das celebrações da Semana Santa em Braga. Um evento notável que, incompreensivelmente, ainda não foi (nem se sabe quando será) classificado como Património Mundial pela UNESCO.