Chrys Chrystello

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Os malefícios da hospitalidade e do turismo nos Açores

Crónica 233 os malefícios da hospitalidade e do turismo nos Açores 30.1.2019

Tem sido anunciada com grande pompa e circunstância a construção de vários hotéis nos Açores (a maioria em São Miguel, e mais recentemente, na cidade da Ribeira Grande, que bem carecia de alguns, talvez, mas tantos não!).

As ilhas, cujo défice é ciclicamente lembrado pelo tribunal de Contas, vão de vento em popa cavalgando a onda do turismo que desde há 3 ou 4 anos passou a ser o seu motor económico e, até o governo regional anunciou ultimamente um aumento nos cursos de formação hoteleira, mas a realidade é a mesma de há 15 anos com pequenas nuances e muito poucas melhorias.

Serviço mau ou inexistente continua a ser a constante. Ainda há dias entrei numa esplanada da marginal, quase vazia ao contrário do que é habitual. Dirigi-me ao balcão enquanto 3 ou 4 funcionários cirandavam, para a frente e para trás, e passaram-se seguramente 4 ou 5 minutos até que uma delas, displicentemente, se dignou vir ao balcão indagar o que o intruso pretendia. Como é habitual, haja ou não movimento, o serviço é lento, muito lento…, mas acabou por chegar. Devagarosamente, degluti um bolo, tomei um café, bebi a minha água fresca e os bolos que pedira para embrulhar e levar tardavam em chegar. Politicamente incorreto fui à esplanada fumar um cigarro e quando vim, tive de voltar ao balcão para relembrar os bolos. Nota positiva desta visita semanal, desta vez ofereceram-me a garrafa de água acompanhada de um copo.

Nos restaurantes, snack bar, cafés e esplanadas a cena é idêntica e nada a distingue da displicência com que eu era servido há 15 anos quando cheguei aos Açores e não havia turismo. O serviço sempre, de uma forma geral (as exceções são poucas) mau e lento. E em muitos casos, caro para a média portuguesa, muito caro para a média açoriana (inferior à nacional), como se todos quisessem ganhar a dobrar nos meses mais quentes para compensar o que não ganham nos meses outonais e invernais.

Mas a culpa não é dos desgraçados dos jovens, muitos deles licenciados sem saída neste pequeno mercado de trabalho açoriano. A gula pelo lucro exorbitantemente desmedido, é a pedra de toque de todos estes “empresários” da restauração, sempre a queixarem-se da falta de pessoal ou do desempenho do mesmo, mas incapazes de investir ou propiciar condições de formação profissional adequada, escudando-se em leis de trabalho, tabelas de vencimentos e desculpas mil. Queixarem-se sabem eles fazer, contra as alcavalas de impostos, taxas e tachinhas que o governo lhes impõe, enquanto magicam novos truques para que os sistemas de contabilidade não declarem ao fisco tudo o que transita pelas máquinas registadoras. Mas o que eles sabem fazer melhor é obrigar os funcionários a trabalharem horários incomportáveis, mais apropriados ao Bangla Desh, com excesso de horas não-remuneradas nem compensadas, trabalhos em dias de folga, feriados e outros excessos, sempre sob a chantagem de despedimento, de deduções nos vencimentos, usando e abusando de trabalho à experiência (muitas vezes não-remunerada ou mal remunerada), em pagamentos não-declarados ou subdeclarados.

Por estas e mais mil e uma razões, que aqui poderia apontar (já nem vou falar da falsificação dos vinhos e da carne), continuo a dizer que a bolha do turismo (aproveitando as crises na África subsaariana e noutros locais) um dia estourará e teremos hotéis de luxo vazios, mais gente inqualificada e sem formação adequada no desemprego. Veremos as esplanadas vazias e pouco ou nada se terá aproveitado desta oportunidade única de criar uma massa de trabalhadores bem formados e qualificados de que os governantes sempre falam nos seus programas.

 Mas não é só a formação profissional apropriada que falta, é a formação dos “empresários” muitos deles com baixas qualificações literárias e profissionais, incapazes de se adaptarem ao século cibernético em que vivemos. Sem uma mudança radical nas mentes e nos processos, os Açores continuarão na cauda do país e da Europa, com uma produtividade muito baixa e inovação incipiente, mas com “empresários” satisfeitos (por enquanto) pelo acumular de lucros nas suas contas. As vacas magras hão de regressar, mas a oportunidade desta galinha de ovos de ouro terá sido irremediavelmente perdida.

Para o Diário dos Açores e Diário de Trás-os-Montes

Chrys Chrystello, Jornalista

[MEEA/AJA (Australian Journalists' Association – Membro Honorário Vitalício nº 297713,) carteira profissional AU3804]

 

 

Chrys CHRYSTELLO (BSc, MA), 

Honorary Lifetime Member MEEA/AJA #2977131

 (Australian Journalists' Association),

 [International Press Card AU #3804  [email protected] 

  https://www.facebook.com/chrys.chrystello

 

 

 

 

 


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