Batista Jerónimo

Batista Jerónimo

Os políticos pequeninos

Há uma nova espécie dominante no ecossistema político português: o político pequenino. Não confundir com humildade ou discrição, nada disso. Falo de pequenez de visão, de ambição, de coragem. Estes líderes de bolso não vêm para mudar nada, vêm para sobreviver à semana, para alimentar o ciclo de notícias, para garantir a próxima sondagem. E nisso são exímios. Embora também tenhamos ou, tivemos alguns políticos com visão, com coragem, mas, esses tiveram ou, têm vida política curta.

As medidas de governação? Sempre conjunturais, claro. Nada de estrutural, esta palavra dá urticária, não dá votos ou, pensam que não dá. As medidas estruturais implicam pensar, planear, executar, avaliar a causa-efeito e, mais importante, enfrentar interesses instalados. Mais vale atribuir um subsídio, fazer uma merenda, uma festa, fazer uma inauguração simbólica (com direito a selfie), e anunciar um plano que vai “revolucionar o setor”… mas só a partir de 2030.

A tática domina tudo. Estratégia? Isso é para jogadores de xadrez, não para quem vive de improvisos. Há uma obsessão com o imediato: o FB, X ou Instagram do dia, a frase de efeito no telejornal, o momento de glória no Parlamento com meia dúzia de trocadilhos ensaiados ou, discursos redondos e vazios. A política transformou-se num concurso de soundbites, onde ganha quem grita mais alto, quem mais likes tem e não quem pensa melhor.

E depois há os slogans. Ah, os slogans! São o prato principal do menu. Temos “reformas estruturantes” que nunca saem do papel, “visões para o futuro” que cabem num slide de PowerPoint e “mudanças profundas” que, no fundo, são cosméticas baratas. Tudo embrulhado numa linguagem de “emojis”, cheia de palavras ou narrativas como “resiliência”, “transição digital” e “inovação”, “empreendedorismo”, mesmo que o país continue com comboios do século passado, escolas com infiltrações, o interior cada vez mais desertificado, a justiça mais lenta, a saúde não chega a todos e a corrupção a aumentar.

No fundo, o que estes políticos querem é não incomodar demasiado, não levantar pó. Governar sem mexer muito, prometer sem concretizar, sorrir para a câmara e esperar que ninguém faça perguntas difíceis. Porque perguntar “porquê?” “quando” ou “para quê?” já é quase um ato de rebeldia cívica e dá origem à vitimização - estão todos contra nós.

Enquanto isso, o país vai andando. Ou melhor, vai sendo empurrado - devagar, aos solavancos, sem rumo, por gente que acha que liderar é o mesmo que gerir danos de imagem. E nós, do lado de cá, os que votamos e, portanto, pactuamos, assistimos com um misto de resignação e ironia, a esta peça de teatro onde o enredo é pobre, mas os atores, mestres da dramatização, estão sempre prontos para a próxima cena.

Campanha atrás campanha, promessas após promessas e a Nação tudo aguenta com mais deficit ou casos, com mais incertezas mas, com mais suspeitas de falta de ética, moral e vergonha.

Baptista Jerónimo, 13/04/25



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