Luis Ferreira
Os rios nascem no mar
Neste palco redondo que gira e gira sem parar, parece que tudo está a girar ao contrário. Sem desprimor para a ordem natural que tudo comanda, por vezes temos a sensação de que realmente andamos ao contrário. Há qualquer coisa que nos leva a pensar que o que acontece não deveria acontecer deste ou daquele modo, o que nos leva a concluir que estará errado o que realmente se passa.
Desde há muitos séculos que falamos e admitimos que a democracia é o sistema que mais se aproxima da natural fluência de vida que aos humanos é atribuída. Claro que antes de os gregos terem experienciado e admitido a democracia como o regime que menos permitia aos governantes acessos à corrupção e à eternização do poder, outros regimes existiram e a humanidade não desapareceu e os governos não deixaram de exercer o seu poder executivo. Mas depois de tantos séculos e tantas lutas para conseguir afirmar a democracia como regime mais justo para governar em todos os sentidos e em todos os países, como é que ainda há governantes que não aprenderam nem o significado dessa palavra nem a necessidade da sua aplicação? Muito pior que isso é o facto de chamarem regime democrático a regimes puramente ditatoriais onde só um comanda, só um decide, só um governa.
O mundo está à beira de um conflito enorme se ninguém for capaz de explicar devidamente a Maduro o que significa democracia. Como é possível no século XXI um governante querer eternizar-se no poder e matar à fome os seus súbditos em nome do que chama democracia?
Também não se entende muito bem como é que tantos apoiam o regime, mesmo sabendo que não lhe darão o dinheiro para comprar o pão no dia seguinte. Será por medo ou convicção? Os que imbuídos de uma vontade férrea de mudança, se atrevem a mudar alguma coisa em nome da democracia, são considerados fascistas, capitalistas e imperialistas. Maduro estudou bem estas palavras, mas porque lhe interessava. Elas permitem-lhe ficar no poder e mudar as regras do jogo quando e sempre que quiser. Mas o peso da espada que pende sobre ele, pode cortar-lhe a cabeça de um momento para o outro e ele ainda não pensou nisso.
O movimento iniciado por Guaidó pretende para a Venezuela a mudança que todos esperam e a dignidade que todos os venezuelanos merecem. A transição é necessária e urgente, mas o que internamente é sentido de uma forma, para a comunidade internacional é diferente, principalmente para os países que ainda não aprenderam corretamente o significado da palavra democracia. Isto pode levar este mundo a girar de forma contrária, o que será desastroso.
Perante esta manifestação de oposição ao poder de Maduro que todos afirmam ser ilegítimo e fraudulento, logo se perfilaram países a defender o ditador e outros, mais politicamente cuidadosos, a exigir eleições antecipadas e sem cariz fraudulento. Aos poucos, por causa de um ditador, o mundo divide-se nas suas opiniões. E se formos a ver quem está de um lado e de outro da barricada, vemos que de um lado estão países como a Rússia e a China onde as ditaduras permanecem a seu bel-prazer, e do outro os países da União Europeia e os EUA. Afinal parece que nem todos os países sabem o significado real da democracia e como aplicar o regime que a ela subjaz. É verdade que da legislação internacional ressalta o facto de que nenhum país se pode ingerir no modo de governação de outro a não ser em casos muito específicos e urgentes. Será que este não é um desses casos? Não se entende de facto como é possível permitir que um país como a Venezuela que tanta riqueza tinha, tenha perdido tudo a favor da ganância e incoerência política de governantes como é o caso do atual.
O mundo está suspenso das movimentações que se irão seguir e esperemos que sejam tomadas com base na democracia, mas daquela que não conhece Maduro. Se ele anda ao contrário, o mundo terá de girar de outra forma. A verdade é que os rios não podem nascer no mar!