Barroso da Fonte

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«Os riscos da bibliometria» de Ernesto Rodrigues

Em artigo recente, no semanário Mensageiro de Bragança, Ernesto Rodrigues, que é Prof. Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, aborda matéria de importância suprema, acerca da bibliometria que o próprio define como «ferramenta estatística que mapeia e gera diferentes indicadores de tratamento de gestão da informação e do conhecimento». Segundo este ensaísta Transmontano «as técnicas estatísticas e matemáticas aplicadas nas pesquisas bibliométricas são usadas para descrever aspectos da literatura e de outros meios de comunicação».

Neste contexto afirma que há fraude nas instituições de ensino superior e universitário. Nesta oportuna narrativa lê-se que há vários casos de fraude conhecidos, tanto internacionalmente, como na geografia portuguesa. «Nós conhecemos alguns. Um deles, uma "tese" de mestrado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, cuja autora roubou a documentação de outra tese (defendida 9 anos antes), apresentando-a como sua. A tal "tese" foi validada pela orientadora e pela Universidade!»

Acompanho, desde antes da revolução de Abril, este luzeiro da cultura Portuguesa. Numa breve recensão que assinei no blogue Tempo Caminhado, do também transmontano e doutor em História, Armando Palavras, afirmei que Ernesto Rodrigues é, hoje, o luzeiro-mor da cultura Portuguesa. É um destacado filólogo e pedagogo nato, com uma produção científica e literária impressionante.

Em 1996 licenciou-se em Filologia Românica. Nos quatro anos seguintes completou o mestrado. E em 1996, aos 40 anos, doutorou-se, em mais cinco anos, defendendo a tese «Mágico Folhetim: Literatura e Jornalismo em Portugal». Permitiu-lhe investigar e desenvolver, como professor de Cultura e Literatura Portuguesas, esse expansivo espaço lusófono. Deixou esse rasto em Budapeste, onde traduziu obras literárias húngaras, tendo sido condecorado duas vezes pelo Estado da Hungria. Em entrevista assinada por Marcolino Cepeda, Rui Mouta e Mara Cepeda, ao JN, em 3/05/2005, afirmou que «não era nada fácil ser estudante, na altura do 25 de Abril. Eu vivia uma faceta da oposição política antes do 25 de Abril, sonhando com o futuro de um país livre».

Em artigo de opinião atrás citado,Ernesto Rodrigues, relaciona os contrastes entre o que foi, o que é e o que será, para além de nós, com a gestão da informação e do conhecimento cientifico e tecnológico, entre as gerações que vão substituir-nos na cultura Portuguesa. «Esta agitação vivia-se já nos anos 90, quando se multiplicavam dissertações e teses, sem o furor de hoje, em que se passou de uma investigação bibliográfica à web-bibliográfica. «Aquela exigia bibliotecas, hemerotecas e arquivos, com riscos para a saúde; agora, não é preciso sair de casa». E o autor que venho seguindo deslumbra-me com a coragem, a lucidez e a autoridade científica que congrega e derrama por onde caminha; e confirma com exemplos frontais, frescos e repugnantes que lhe chegam de todas as bandas, nos mídia, nas conversas de café, na rua e sem segredos de espécie alguma.

Com a autoridade científica que tem Ernesto Rodrigues nestes «riscos da biobliometria», exemplifica com vários casos: «antes dos programas antiplágio: mestranda brasileira ficou em lágrimas, e desistiu, quando denunciei cópia em capítulo sobre Camões; e um colega meu, assistente quase via a tese aprovada em comissão científica, não fosse outro colega chegar atrasado à reunião, folheá-la e ver-se usurpado, sem mais aquelas. O sonho morreu ali e o candidato instalou-se numa (universidade) privada, decerto sem estados de alma».

A causa desta e de muitas outras fraudes reais, este académico explica-a e bem: «Bolonha matou a investigação nos trabalhos de longue durée. Não admira, assim, que um gato tenha publicado 12 artigos científicos».

Este testemunho de Ernesto Rodrigues deu-me o mote para, num diálogo a três e numa altura em que dois vizinhos me deram a saber que tinham concluído o doutoramento, conhecendo-se-lhes apenas o antigo curso liceal, confirmaram as suspeitas de que afinal, desde a entrada em Portugal do processo de Bolonha, se vive num país do outro mundo.

No artigo que venho citando deste catedrático, em que bebo quando tendo sede, colho mais esta conclusão: «vamos, assim, concluindo dos riscos das fáceis bibliometrias que avaliam e fazem subir na carreira. Longe, porém, das bibliometrias fabricadas a metro, muito além da ficção, como a realidade veio provar».

O signatário cruza-se, amiúde, com um fabricador de instituições opacas onde, sem escrúpulos, se proclama, em atos públicos e blogues, como «formado em Filosofia pelo “Instituto Studium Sedes Sapientiae (ISSS), de Fátima, e em Teologia pelo Instituto Superior de Estudos Teológicos (ISET), de Lisboa. É também diplomado em Jornalismo e Técnicas de Expressão pela Universidade de Ciências Políticas e Sociais de Estrasburgo (França) e frequentou ainda o Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) em Lisboa».

Claro fica que o tratado de Bolonha baralhou tudo e todos. Transformou muitos talentos em granito cinzelado. Frustrou muita gente. Simplificou a vida a uns e complicou a vida a outros. Gerou injustiças: valorizou uns, despromoveu outros, através de facilitismos contra as dificuldades. Tudo à maneira de acordos sigilosos e/ou de decisões administrativas que redundam em despachos que os lesados políticos, ou de combinações secretas mais demolidores que os lesados nunca chegam a conhecer.

Ernesto Rodrigues tem moral para trazer à opinião pública estas confusões académicas, que resultam de atrevimentos descarados, de atropelos à verdade e do uso fortuito, contra vítimas que acreditam em tudo.

Barroso da Fonte


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