Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Outono sem chuva, vento e trovão, prepara-te para um ano de barriga em vão

Muito se aprende com as alegorias meteorológicas do povo transmontano. Agora [o mês de Outubro] em que a Região de Trás-os-Montes entra num longo período agreste, ventoso e chuvoso, é que a sabedoria popular mais vem ao de cima. Por aqui se diz: “Outono sem chuva, vento e trovão, prepara-te para um ano de barriga em vão”. E por isso, o povo muito sossega quando tudo bate certo, quando os tempos não andam trocados. Quando as intempéries vêm em tempos certos, nos meios rurais tudo se acomoda, ao invés das grandes cidades, onde continuamos a assistir aos dramas das inundações e enxurradas.

O povo das aldeias continua a orientar-se com saberes antigos. Por isso está geralmente prevenido: “Se a aurora está ruiva, ou traz vento ou traz chuva” e “Céu pedrento muita chuva e muito vento”. Ou então: “Amigos de ocasião são como o bom tempo, mudam com o vento” até porque “O vento tanto junta a palha como a espalha”, sabendo nós que o “Vento de todo o lado é mandado p’lo diabo”.

E ainda quanto aos ventos, o povo até lhes conhece as linguagens: “Vento norte, três dias forte”, ou então “Vento de Lomba, frio na tromba” (e também diz: “Vento de Lomba, frio na tromba, mas se é de Vinhais ainda é mais”). Mas pior é se vem do outro lado: “Vento de leste não traz nada que preste”, que o mesmo é dizer: “De Espanha, nem bom vento nem bom casamento”. Pelo contrário, “Vento de Vilartão, água na mão”, que o mesmo é dizer: “Vento suão cria palha e grão”; onde também se diz: “Água de vento traz meio sustento”.

Tudo isto se pode aprender com este povo. Apenas é preciso subir um degrau para ficar aos seu nível.


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