Manuel Igreja

Manuel Igreja

Panamá Lava Mais Branco

Segundo dizem uns senhores muito entendidos, estudiosos das coisas dos impostos e afins, uma pessoa como eu, e eventualmente como vossa mercê que isto lê, gente de vida remediada, trabalha de Janeiro a Junho só para cumprir com as obrigações fiscais que em jeito de canga lhe colocam no lombo, salvo seja.

No fundo, um cidadão comum, quer se preze, ou não, duas coisas pelo menos, tem certas na vida: A morte e os impostos. Estes não raramente e a muitos fazem a vida estar pela hora daquela mas não há fuga. Noutro modo de dizer, bem que se pode referir que os impostos, contrariamente ao que é suposto e desejável, complicam mais do que ajudam.

Podia ser de outra maneira, mas a injustiça, a desinteligência e a falta de senso, impedem-no. A cupidez arreigada no lado negro dos homens, e a ausência do verdadeiro sentido do que é certo ou errado, levam ao desperdício, ao roubo e à fuga. O dinheiro dos nossos impostos, leva sumiço cano abaixo direitinho às contas de uns poucos numa verdadeira rede de canos de esgoto.

Como bem se sabe, a Europa depois da Segunda Grande Guerra, consegui evoluir ao ponto de criar a mais avançada rede de cuidados essenciais prestados aos cidadãos. Reergueu-se da criminosa e terrível destruição, a maior em todas as memórias, uniu-se e construi o melhor mundo de sempre.

Obviamente tudo com o dinheiro dos impostos das pessoas que tira dali, adiciona aqui e subtrai dacoli, ia dando para o equilibro das contas. Os ganhos do trabalho e do capital complementavam-se e permitiam a manutenção do célebre Estado Social desdenhando por quem se julga na moda, mas acarinhado pelos que sabem que o mal pode tocar a todos.

No entanto a páginas tantas, começaram a dizer-nos da insuportabilidade financeira do sistema. E nós, grosso modo fomos acreditando e suportando garrotes no pescoço porque de nos juravam e juram que mesmo essencial. Pouco ou nada se questionou.

Apesar de o valor acrescentado dos trabalhos desenvolvidos ser cada vez maior, graças às tecnologias que permitem fazer mais e melhor, com menos custos e em menos tempo, permitiu-se que os volumosos lucros fossem escondidos circulando em labirintos sem vergonha e escusos, sem que como é de justiça, paguem impostos onde são gerados.

Como um bando de almocreves sem tino, sem alma, e sem noção dos caminhos a percorrer rumo ao futuro do mundo, foi-se acomodando a carga quase só de um lado da albarda. Uma das cangalhas vai cheia enquanto a outra vai quase sem nada. Parece que ninguém via, e a culpa era do burro por ir torto.
Mas agora, há pouco, ouviu-se um estrondo. Descobriu-se que a par de fortunas ganhas no crime e no submundo, muito do dinheiro que devia pagar impostos para equilíbrio das coisas, anda a ser lavado numa lavandaria chamada Panamá. É uma entre um ror delas.

Todas lavam bem e deixam branco, quase sem sujidade. Mas esta está na berra. Esperemos que estoirem. Pode ser uma maneria de ficarmos todos um pouco melhor, mesmo que nunca passemos de quotidianos de remedeio e de muito juízo nas contas.


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