Manuel Igreja

Manuel Igreja

Pantominices, falta de visão e de decência.

Uma pessoa olha para o modo como o mundo nos vê e sobre qual a posição em que o nosso país se coloca em face das coisas, e mesmo que passe a vida a dizer que é igual, que não interessa, conclui que não será bem assim tão pouca a importância que se dá, nem tão pouca assim a relevância que se deseja para Portugal e logo para os portugueses.

No desporto, na cultura, na ciência ou na política, sabe sempre bem e apraz ver um compatriota distinguido e referenciado. Cada qual pode ter para si o tamanho do merecimento e até do contentamento quando algum português dos sete mares andarilho é catapultado para os escaparetes planetários, mas que toca, lá isso toca. 

Por isso é que não nos é indiferente a maneira sobranceira com que os países do norte da Europa tratam os do sul tidos como gastadores e preguiçosos, numa atitude de arrogância pouco suscetível de ser contrariada porque eles mandam como só pode mandar quem empresta nem que seja para que se compre o que vende quem disponibiliza liquidez. Olham de cima para baixo, e nós cá do nosso ponto agradecemos antes que lhes dê na veneta e o caldo se entorne. Deram-nos a eleia toda e nós enforcamo-nos alegremente, foi o que foi.

Mandam na União Europeia e fazem gato-sapato com ela. Esta por sua vez enquanto instituição entregue a gente sem chama e sem bússola não se respeita e nem se dá ao respeito. Dão-lhe de oras em quando uns alardes de léria que por ser pífia pouco dura e pouco faz. Já toda a gente percebeu que perde coesão e sentido a olhos vistos em parte porque decide mais em função de interesses nem sempre claros do que dos cidadãos cujos anseios deveriam ser a sua única razão de ser.   

Eventualmente porque em certos momentos se dá conta do descalabro moral e ético, em jeito de mestre-escola os responsáveis mais altos, puxam dos galões e dão reprimendas a tudo a todos convencidos de que enganam alguns todo o tempo. Pouco mais conseguem no entanto fazer papel ridículo. Foi o caso da reprimenda contra o antigo presidente Durão Barroso igual entre iguais na falta de senso e falho de noção de decência ao ponto de não perceber que não devia ter ido exercer funções no Goldman Saches. Poderá não ter mal nenhum, mas dado o contexto e as ações daqueles senhores no antes, e no decurso em que o nosso mundo vive, só não vê o inconveniente quem é cego.

Lembra o bigode do Hitler. Antes do que se passou era inócuo e como qualquer outro, mas depois passou a ferrete de má memória. O senhor não percebeu quem sabe se por falta de visão das coisas da moral e da decência, mas também não se gostou de se ver um tal de senhor Junker que compactuou com multinacionais na fuga aos impostos, assumir o papel de virgem ofendida e de paladino dos bons costumes. Não fosse o visado português e outro galo cantaria. Digo eu.

Não se ficam infelizmente pela Europa as atitudes de pantominice dos que pululam no aveludado das instituições internacionais nesta nossa época de destempero e de vazio de valores de referência. Vejam por favor o que se está a passar na ONU, aquela que se aconselha que seja a mais abrangente e impoluta das organizações da humanidade. Um verdadeiro circo naquela coisa da escolha do novo presidente.

Um português, António Guterres de seu nome, com competência e mérito reconhecidos de forma abrangente, dizem até que o corpo certo para o fato, indo à frente na corrida, está agora a ver-se em risco de ser ultrapassado por uma candidata de repente saída da toca e que entra a meio com apoios de países muito poderosos, menosprezando os esforços desenvolvidos pelos outros candidatos. Muito se devem ter rido às escondidas ela e mais quem a apoia, quando estes se esforçavam para se fazerem reconhecer mostrando os seus méritos. Deve ter sido uma risota de rebolar as barrigas e de virem as lágrimas aos olhos.     

Concluindo, bem que se pode dizer que vivemos hoje em dia tempos em que grassam os pantomineiros mas escasseiam a visão e a decência. Por isso são perigosos e o medo alastra ao ponto de fazer chegar ao poder desaconselháveis ideologias e desaconselhados figurões que semeiam ventos que podem trazer terríveis tempestades. A História ensina-nos isso, mas como está em desuso, esquecem os seus ensinamentos. Entretanto, alguns governam-se e outros não se deixam governar. Até um dia que esperemos que venha tarde, para que a noite triste se não instale. É com a falta de respeito pelos mais fracos, que o mal começa.            


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