Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Patos depenados

O Joaquim seguia ligeiro na rua quando, sem que nada o fizesse prever, se cruzou com uma bonita mulher. Não resistiu em parar e olhá-la fixamente. Ela fez o mesmo e meteu conversa. Percebeu de imediato que era estrangeira e nova naqueles lados. A conversa resultou em irem tomar um café na esplanada ali mesmo ao pé. No decurso do café, como a conversa corria de feição, convidou-a para jantar e ela aceitou. Perguntou-lhe, por delicadeza, se gostava de leitão assado, ao que ela respondeu afirmativamente. Indicou-lhe o nome do restaurante e a hora.

Seguiu a rua até ao carro para ir para o hospital onde era médico cirurgião. Ia feliz da vida. " Que mulherão! " – dizia de si para consigo – Hoje, esta, não me escapa.

À hora combinada encontraram-se no restaurante. A Cris estava ainda mais produzida do que de manhã e o Joaquim parecia um adolescente – tinha ido a casa aprumar-se para fazer boa figura.

O jantar decorreu animado, não fosse a Cris mestre em saber puxar a conversa e o Joaquim também gostava de meter uma anedota aqui e outra acolá. Comeram e beberam bem. Findo o jantar, convidou-a a tomar um café em casa dele, tendo a Cris aceite com um mas… - estava a fazer-se difícil.

Entraram no carro e foram para o bairro onde vivia o Joaquim numa boa moradia de arregalar o olho.

O café foi servido com uma caixa de bombons. A conversa decorria muito prazerosa para contentamento de ambos. Acabaram abraçados e num instante estavam no quarto.

Que noite de fogo de artifício tiveram!

O Joaquim tinha cerca de 45 anos – toda a pujança desta idade; a Cris tinha cerca de 30 e pouco – não revelara a idade -, e uma desenvoltura a que poucas mulheres se atrevem.

Os encontros foram acontecendo na casa do Joaquim. A páginas tantas, depois do sexo, começou por revelar que tinha uma coleção de relógios, um faqueiro em prata que herdara da mãe, várias peças em ouro e prata, dinheiro para alguma emergência e via-se que era colecionador de obras de arte pelo que tinha exposto pela casa fora.

Cerca de meia dúzia de encontros depois, a Cris lá estava a bater à porta na hora combinada. Depois de entrar, certificou-se de que deixara a porta encostada.

O empolgamento entre eles era tão grande que num instante estavam no quarto. Adormeceram muito aconchegados como de costume.

Por volta das três da manhã, são acordados por um homem com uma catana na mão que disse para o Joaquim:

- Seu bandido, andas metido com a minha mulher?! Eu já te digo. – E erguendo a catana ameaçou o Joaquim, fingindo que o matava.

O Joaquim fugiu de casa completamente nu e foi pedir auxílio ao vizinho do lado que demorou algum tempo a acordar e vir à porta socorrê-lo.

O Daniel embasbacado deu-lhe uma manta do sofá para se cobrir e, depois de ouvir o relato da história, pegou na pistola e foram para casa do Joaquim. Lá chegados, correram a casa toda à procura do casal – tinham abalado com todas as peças que conseguiram carregar.

No dia seguinte foi apresentar queixa à Esquadra da Polícia. Ficou a saber que o casal atuava dessa maneira numa cidade e depois mudava para outra e outra... A PSP ainda não tinha conseguido identificar o casal de assaltantes.

Como não há uma sem duas, aqui vai a segunda:

O bar mais chique da cidade era frequentado por homens com posses e certas mulheres estrangeiras que gostavam de lá ir na esperança de encontrarem algum que lhes pagasse as bebidas e se enfeitiçasse por elas. Estas mulheres eram muito seletivas. Procuravam homens com posses, idade a partir dos 70, livres e desimpedidos e com casa própria. Num instante se instalavam na casa deles.

O José Maria tinha acabado de arranjar uma namorada no bar.

Os amigos bem o avisaram de que aquele namoro era interesseiro, mas ele não queria saber – a Janete era muito simpática e querida com ele e valia-se disso.

Passado um mês já estava a pedir dinheiro para comprar roupas novas, ir ao cabeleireiro e comprar mais umas coisas pessoais. Torrou cerca de 1.000€ numa tarde.

Dali por uns tempos, numa conversa doce, disse ao José Maria que tinha dois filhos pequenos, de quem tinha muitas saudades, e se ele não se importava de que eles viessem viver com eles – sempre alegravam a casa. O homem ficou pensativo, mas anuiu para grande alegria da Janete. Ela pediu-lhe dinheiro para tratar das passagens e para a mãe dela vir com eles, pois eram muito pequenos para viajarem sozinhos. A tudo disse que sim.

O dinheiro da reforma saía mais rápido do que entrava e se o José Maria tinha uma belíssima reforma! Começou a ir às poupanças.

A avó e as duas crianças chegaram e instalaram-se na moradia. Agora havia cinco pessoas naquela casa.

As crianças estavam felizes, a mãe e a avó também. Só a conta bancária do José Maria dava sinais de estreitar.

Tinha propriedades na aldeia, umas casitas velhas que não valiam muito…. Começou por vender uma casa, depois uma propriedade, até que os amigos o agarraram e lhe deram um safanão:

- Homem, tu não vês que vais ficar depenado e quando assim for ela deixa-te e arranja outro? Só quer o teu dinheiro para as conveniências dela. – dizia o Amaral, bom amigo de longa data.

Combinaram uma estratégia. O José Maria aparecia em casa e dizia que fora ao banco e que estava falido. O gerente tinha-lhe dito que até a casa já era do banco.

A Janete ficou em pânico, mas tentou controlar-se. Olhou para a mãe e para os meninos e pediu que lhe desse alguns dias até arranjar onde viver.

Passados alguns dias, poucos, pegou na família e mudou-se para um apartamento que arrendara até encontrar outro pato para depenar.

E foi com esta mentira que o José Maria soube do grande amor que a Janete tinha por ele, ou melhor, pelo dinheiro dele.


©Teresa do Amparo Ferreira, 28-02-2025


Nota: Este texto é obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. 



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