Pinturas Esquemáticas Rupestres: SALVEM-NOS, não temos pernas para fugir
Já ouviram falar da serra de Passos – Santa Comba em Mirandela? O que terá de tão importante para me fazer escrever?!
É muito simples: tem imensos painéis de pintura esquemática pré-histórica, considerada o maior achado, em Portugal, de arte rupestre desta tipologia, no período compreendido entre 7 e 4 mil anos antes da atualidade. Esta pintura - que vem sendo estudada desde os finais da década de 80, por Maria de Jesus Sanches, Arqueóloga e Professora na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e outros investigadores -, ainda hoje é estudada, com mais intensidade e melhores meios. Além das pinturas nas paredes e tetos, foram encontrados pedaços de cerâmica decorada, contas em ouro que pertenciam a colares e outros materiais que se encontram em laboratório a fim de serem estudados, para classificação e datação.
Como podeis imaginar este conjunto de abrigos rupestres, onde se encontram as pinturas esquemáticas, foi classificado no início da década de 90, pela Direção Geral do Património Cultural, como IIP – Imóvel de Interesse Público. É de tal forma importante para a humanidade que cabe a todos, e cada um de nós, protegê-lo e preservá-lo.
Mas… “é aqui que a porca torce o rabo!”
Quereis saber do desnorte a que este importantíssimo sítio arqueológico está votado?
Muito em breve, vão ser colocadas torres de energia eólica neste espaço.
Esta decisão, por quem de direito, não acautelou o superior interesse da preservação do local, que continua a ser estudado e, também, se pretende reunir elementos para uma candidatura a Património da Humanidade - UNESCO.
Imaginai a reviravolta que seria ter a serra de Passos – Santa Comba classificada com o selo UNESCO?!
Seria brutal para o desenvolvimento da economia local, através do turismo.
Vejam a nota que o Município de Mirandela colocou no Facebook, em 10 de agosto de 2021, antes das eleições autárquicas:
"Património e Turismo | Estudos de arte rupestre arrancam na Serra de Santa Comba, em Mirandela. Projeto EscarpArte possibilitará a preservação da maior concentração de pintura rupestre do país e a conversão deste local num ponto turístico visitável.
Passados 32 anos da descoberta da maior concentração portuguesa de pintura rupestre, datáveis do quarto e terceiro milénios a.C., as escarpas da Serra de Santa Comba, em Mirandela, receberão estudos de arte rupestre, tornando possível a preservação do património cultural arqueológico.
O projeto EscarpArte, promovido pelo Município de Mirandela, numa parceria liderada pelo Laboratório Colaborativo MORE, pela Universidade do Porto e o Grupo Dryas Octophetala, encontra-se em fase de execução e é financiado pelo BPI e a Fundação “La Caixa” e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia."
Esta nota do município, como se pode ver pela data e ações subsequentes, tinha um e um só objetivo: captar a atenção dos munícipes para o voto. Em menos de nada, as pinturas esquemáticas deixaram de ser importantes sendo aprovada a colocação de um parque de torres de energia eólica na serra de Passos - Santa Comba, que inviabiliza a classificação deste sítio arqueológico como Património da Humanidade - UNESCO.
