Batista Jerónimo
Plano Estratégico de Recuperação Económica e Social de Portugal
“…o Portugal de hoje está inclinado, pelos investimentos sugeridos neste “Plano” o litoral vai mergulhar no Mar”
Como intróito devo dizer que fiquei muito surpreendido com o documento, extenso, repetitivo, generalista e por não ver no documento uma única vez o símbolo do €.
Esperava, dado a profissão do autor, um documento técnico, de gestão, utilizando instrumentos como a análise SWOT; as 5 forças de Porter; os Modelos BCG, McKinsey e até a Matriz de Ansoff, entre outros. Pensava que não iria ter dúvidas quanto à Missão e à Visão. Não encontrei no Objectivo a Hierarquização das Prioridades; Ambição; Consistência; Realismo; se Atingíveis; Mensuráveis (avaliação do sucesso) e Calendarizáveis (prazo).
Como para implementar este documento são necessários Milhões de Euros poderia ou deveria partir de X Milhões disponíveis para investir em Y medidas prioritárias ou o inverso: para Y medidas prioritárias são necessários X Milhões de Euros.
Pela abordagem, fiquei com a dúvida se não seria mais fácil construir um novo Portugal e fiquei com a certeza de que para o implementar não chega o PIB da UE de cinco anos.
Se fosse um “paper” diria que as palavras-chaves, dada a quantidade em que estão repetidas, seriam: Reconversão; Reindustrialização; Descarbonização; Necessário; Estimular; Resiliente; Iniciativas; Economia Circular; Promover e Verde.
Se o Portugal de hoje está inclinado, pelos investimentos sugeridos neste “Plano” o litoral vai mergulhar no Mar. Para o Interior, sem apontar como, fala em investir na Agricultura, na Floresta, Turismo Rural ou Natureza e para Montesinho “… promoção de novas culturas…” faz-me lembrar a elaboração dos Primeiros PDM`s. Este documento, aliás como já o tinha aventado, exige reacção das forças vivas do Interior Norte, para depois não virem criticar e protestarem de que não fomos contemplados com investimentos, estamos cansados da vitimização. E, na verdade, este documento tal como está: não serve.
Em termos práticos, dada a generalidade, ambiguidade e a ausência de valoração do investimento e projecção do retorno esperado, poderá ser apontado como um “draf” para um Plano Estratégico com a objectividade de como e onde investir bem expressa.
Este “Plano Estratégico” acompanha a opinião “feita” de que é necessário criar um Banco de Fomento ou um Fundo Soberano (à Irlanda), para capitalizar as Empresas e estas reduzirem o endividamento (não compreensível, pois as empresas endividadas só transferiam as dívidas). Acrescenta que o Estado poderá entrar no capital das empresas (nacionalizações?) sem dizer em quais e quando estas estiverem bem os accionistas recompram as acções (?) – foi calculada a pesada logística? Ou temos mais PPP`s? Se a ideia do Banco de Fomento até pode ser boa, também pode vir a criar um “grande buraco”, porque as empresas viáveis e de risco controlado os bancos privados vão financiar e as outras, vão recorrer ao Estado (Banco de Fomento), a hipótese de não solvência dos compromissos é grande.
Em resumo, este documento não é mais que uma boa caracterização e de diagnóstico do Portugal de hoje, já no que diz respeito a ser um Plano Estratégico deixa muito a desejar.
Dar uma revisão de forma a torna-lo menos generalista, confuso e repetitivo é uma necessidade assim como o de quantificar o investimento, a afectação de recursos para atingir esses objectivos e o retorno esperado.
O ler este documento tornou-se-me tão penoso, que me saltou à memória o sacrifício que foi ler o “Memorial do Convento” ou ver o filme “Mon oncle d'Amérique”.
Bragança, 25/08/2020
Baptista Jerónimo