Henrique Ferreira
Por que morreram Giovani Cabral e George Floyd?
Duas mortes inúteis - como todas as mortes não naturais - agitaram as opiniões públicas e motivaram protestos contra uma atitude pretensamente endémica entre os europeus e ocidentais de cor branca - a atitude racista. Embora separadas por meio ano de distância, estas duas mortes obrigam a refletir sobre o aproveitamento e manipulação ideológicos e políticos que delas se fez, sobretudo no caso da morte de Giovani.
Há que dizer, em primeiro lugar, que a grande maioria das pessoas de cor branca não é racista como o não é a grande maioria das pessoas de cor negra ou de qualquer outra cor.
Há que dizer, em segundo lugar, que se compreende que as pessoas de cor negra façam soltar o seu recalcamento da opressão, sempre que há um incidente, mas também há que fazer-lhes notar que, se querem, de facto, ser iguais, têm de comportar-se como iguais e cumprir deveres iguais aos das pessoas de cor branca.
Esta segunda observação nada tem a ver com a morte de George Floyd mas tem tudo a ver com a morte de Giovanni de cuja morte devem sentir-se como principais responsáveis os colegas cabo-verdeanos que provocaram o incidente e abandonaram o inocente Giovanni à sua sorte, indefeso perante vários galipões.
O representante da Polícia Judiciária chamou motivos fúteis a questões de honra transmontana. Fez muito bem em dizer que a morte de Giovani não teve motivações racistas. Fez também bem em não dizer mais nada para apaziguar os ânimos.
A verdade é que a morte de Giovani começou por ter motivaçãoes no não respeito de normas de civilidade por parte de um dos membros do grupo caboverdeano que, ainda por cima, quis tirar desforra física da reclamação dos membros do grupo de cor branca como se o caboverdeano pudesse fazer tudo o que quer, onde quer e com quem quer.
Só que os membros do grupo de cor branca quiseram repor e vingar a sua honra e, chamando mais elementos, tiraram desforra à força. Os elementos do grupo caboverdeano foram cobardes, fugiram e deixaram Giovanni sozinho a levar de todos os lados.
Os representantes da comunidade negra em Portugal apressaram-se a apelidar tudo isto de racismo e a colocar Bragança e o IPB em cheque mas andou muito bem a Polícia Judiciária ao desmascarar as iniciativas dos rassabiados. Com efeito, nunca vi ninguém ser racista para com um cidadão bem comportado mas já vi muitas atitudes de desprezo e de censura, algumas até injustas, para com pessoas, brancas e negras, que não cumprem os seus deveres. Até porque o racismo não se verifica só entre negros e brancos mas também entre negros e entre brancos.
A primeira coisa que se deve fazer quando se viaja para uma comunidade diferente da nossa é conhecer os seus valores, usos e costumes e isto é válido para todos, negros e brancos e outros. Apalpar o rabo a um senhora casada não parecerá um ato sensato em civilização nenhuma. Achar que o marido não tem direito de protestar parece absolutamente desajustado. E tirar desforra, ainda pior.
Que fique a lição. Mas, a verdade, é que, no julgamento, até por razões de falsidade e hipocrisia políticas, e em nome de uma falsa paz racial - que mais não será que a exigência de submissão das pessoas de cor branca-, só vão estar em juizo os crimes dos membros de cor branca sendo relevado o mau comportamento cívico dos membros do grupo caboverdeano. Que há crime, há. Que ele tem os contornos que expus, tem.
No caso da morte de George Floyd, o cenário pode também não ser racista. Mas pode também sê-lo,
Floyd reagiu à detenção, pontapeou os agentes policiais e insultou-os dentro do carro. Os agentes reagiram com violência desproporcionada e o agente que o teve imobilizado, Derek Chauvin, não teve em conta os pedidos de clemência de Floyd. Porém, nenhum dos agentes saberia que Floyd tinha acabado de sair de um internamento hospitalar por Covid-19 e que, portanto, tinha muitas dificuldades em respirar, o que apressou a morte, a par dos problemas cardíacos associados. Isto foi o que revelou a autópsia oficial, controlada pela Polícia, segundo os negros e a Extrema-Esquerda. Porém, a autópsia solicitada pela família revelou morte por estrangulamento e por asfixia, ignorando ostensivamente os outros problemas. De facto, por Covid-19, Floyd não morreria ali.
Houve um crime racista, aqui? Não sei. Houve uma ato racista, aqui? Também não sei. Pode ser que sim, pode ser que não. Só os agentes policiais o sabem, particularmente Derk Chauvin.
Veremos o que os tribunais americanos vão decidor sobre isto. Para já, a acusação não é nem de homicídio voluntário nem de homicídio negligente mas sim de homicídio involuntário. Pouco para a Esquerda e a comunidade de cor negra mas justo, se houver as atenuantes que a autópsia oficial diz haver.Pelos vistos, o grupo profissional das polícias também pensa que Chauvin deveria ter tido mais prudência e humanidade.
Conclusão: o recalcamento e a opressão inconscientes nem sempre são bons conselheiros para reagirmos face a acontecimentos que poderão não ter nada de racismo. Não é só a comunidade de cor branca que tem de usar civilidade. As outras comunidades também. E todos devemos ser prudentes no aproveitamento que fazemos das situações porque o resultado pode cair-nos em cima da cabeça.