Manuel Igreja
Porventura o Sr. Ventura
O senhor doutor André Ventura, é deputado e está em Lisboa na Assembleia. Ainda é novo, mas tem pressa, muita mesmo, no caminho que quer percorrer porventura até aos mais elevados cargos da Nação.
O senhor Ventura porventura alguns irá alcançar, terá essa ventura, pois mostra-se fino com o alho e dono de uma excelente qualidade de dizer o que na sua óptica porventura a multidão quer ouvir.
Sagaz e eficaz, mostra-se capaz de dizer hoje uma coisa e porventura amanhã outra, conforme a conveniência que identifique no momento com olho no alvo sem que deixe quem quer que seja a salvo.
O deputado André Ventura irrequieto e atento vai tendo espaço apesar do exíguo espaço do lugar da cadeira no hemiciclo. Ladino, até isso aproveitou para sobressair dizendo-se maltratado e deixando no ar a ideia que porventura é vitima de intolerância das suas ideias por parte dos seus pares.
A procissão ainda vai no adro, mas o senhor deputado André Ventura vai tem a ventura de os seus adversários políticos involuntariamente se irem pondo a jeito. Marcaram-no com um ferrete, e ele sem frete aproveita e sobressai sem pudor, exibindo despudor e algo parecido com vontade férrea na defesa dos descamisados.
Apresentou-se a eleições com um programa eleitoral que deita os desvalidos e menos capazes para o esgoto, mas como ninguém leu, ninguém viu e ninguém escutou, a sua mensagem vai sortindo efeito no edificar da sua imagem de menino guerreiro contra os poderosos e contra os mafiosos que esmifram os cidadãos até ao tutano.
Arrepia, mas o senhor Ventura pode ir por aí além. O que diz passa e trespassa apesar de inconsistente. As sua palavras são como adesivo mesmo que ditas com um ar pouco pensativo. Porventura quem pode impedir por actos não impede, não desmascara e não retira com a devida acção a razão ao que ele diz, e como folhas caídas no Outono ajuntadas para limpeza dos passeios, o monte de apoiantes do deputado da extrema direita vai crescendo.
Porventura nem ele acredita no que apregoa, mas vai-se fazendo rodeado por quem não se preocupa com o seu andar. Em Lisboa na Assembleia da República, vivem-se dias um tanto ou quanto esdrúxulos.
A deputada do Livre atrasou-se na apresentação de uma medida muito importante porventura porque o seu assessor perdeu tempo a escolher a saia domingueira para se pavonear nesse dia. O PCP e o Bloco de Esquerda estão que nem sabem porque não querem o que dizem querer, e querem o que dizem não querer. O PSD está em banho-maria. O CDS corre o risco de não ser mais do que um partido de beatos chiques, enquanto o partido Iniciativa Liberal está a ver no que isto dá, fazendo concha com as mãos para apanhar os descontentes deste último. Por sua vez o PS deslumbrado com o que diz que faz e com o rei na barriga, não se preocupa com este tipo de coisas.
Mais tarde porventura teremos a ventura de concluir que o logro que é o deputado Ventura se revelará em toda a essência e sem dano. No entanto, como dizia a minha avó a porventura a sua, cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Sucede que a dada altura na democracia, a canja esquenta, por isso, atenção ao senhor Ventura.