Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Prega, frade, que pregas debalde!

Do interior rural desprotegido e negligenciado pelos governos centralistas da capital, que, ano após ano, foram encerrando escolas, maternidades e serviços de saúde, extinguiram, ou deslocaram para as grandes cidades, repartições, serviços públicos de proximidade, postos e delegações de empresas públicas… tudo, ou quase tudo, já se disse. E o mesmo sobre o falhanço absoluto da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, que nada de concreto conseguiu na implementação das anunciadas medidas para travar o despovoamento do interior. Os próprios fundos de coesão territorial, da UE, destinados a travar as assimetrias regionais, apenas conseguiram acentuar o fosso entre o interior e o litoral.

Nesse meio tempo, um esperançoso “Movimento pelo Interior”, fundado com grande consenso nacional, apresentou, em 2018, 24 medidas para, no prazo de três legislaturas, garantir uma clara reversão da situação dos territórios do interior. Grande consenso político, recorde-se, gerou este movimento, inclusive com o forte empenho dos autarcas socialistas, como era o caso presidente de Vila Real, Rui Santos, ao lembrar que uma das medidas propostas era para que, “qualquer novo organismo a ser criado pelo Estado central, a sua sede fosse num território do interior”.

Como diria o outro: “Prega, frade, que pregas debalde!”. Debalde mesmo. O Ministério da Cultura anunciou que, a partir de 1 de janeiro de 2024, dois novos organismos vão ser criados: a empresa pública Museus e Monumentos de Portugal, que ficará em Lisboa, e o Instituto Público Património Cultural, com competências de salvaguarda e conservação do património cultural imóvel e imaterial, com sede no Porto.

Decididamente, o Estado não sabe como lidar com o Interior. Sempre com um hálito demagógico na boca quando fala da coesão do território, falha em absoluto nas suas políticas.

In JN, 24-7-2023


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