Luis Ferreira

Luis Ferreira

Promessas e surpresas

Na política como em outras coisas, é habitual prometer seja o que for, ou por bom senso ou por simpatia ou mesmo por interesse.

Estamos todos acostumados a que nos prometam muita coisa para posteriormente recebermos coisa nenhuma. Mas como faz parte do menu, se ninguém promete nada, é porque tem medo, porque não sabe o que dizer ou porque nada tem para oferecer e por conseguinte não merece credibilidade. Vá-se lá saber em quem acreditar.

Nos últimos tempos temos assistido a um corridinho político quer por parte do próprio governo com a instalação de ministros e secretários, com greves contra o governo exigindo o que o governo diz não poder dar nem prometer, com a discussão do Orçamento de Estado e com os partidos a alinharem em políticas diversificadas onde pontuam os seus interesses e não tanto os do país. Mais recentemente assistimos à eleição do líder do PSD depois de uma luta a dois em dois assaltos. Ganhou Rio. Claro, ou quase. Montenegro bem se mostrou e ameaçou e até fez promessas, mas foi surpreendido pelo resultado um pouco previsível. Não se calou nem se afastou como fez Seguro do PS há alguns anos. Esse desapareceu, não sei bem porquê!

Montenegro de facto reapareceu logo a seguir no Congresso deste fim-de-semana e fez questão de não se calar sob que protesto fosse, como afirmou. É bom que assim seja para clarificar a política e os políticos. Falando, podemos ouvir, ajuizar, criticar, julgar e decidir.

Por seu lado, Rio disse que ia ser uma oposição credível e fazer os ajustamentos necessários dentro do partido e no Parlamento. Para isto, Adão Silva mostrou-se disponível para liderar a bancada parlamentar. Talvez Rio lhe dê essa oportunidade e seguramente ficará bem servido. Muitos anos de política dão-lhe traquejo suficiente para debater com as outras bancadas e com o governo, os assuntos levados à liça.

Na discussão do Orçamento e no meio de tantas propostas que o governo teve de enfrentar e rebater e chamar Centeno a justificar certas tomadas de posição, Rio tentou sobressair, fazendo contrapropostas para marcar pontos, sabendo que era difícil ganhar alguma delas. Foi ajustando as suas propostas conforme o que o governo respondia, o que significou que teve de baixar a guarda para ver se conseguia a aprovação de alguma proposta. Na generalidade e na especialidade, tudo saiu confuso e sem o agrado do PSD. Rio não se conseguiu compor e acabou por ser criticado por Costa como patético que aproveitou a discussão do Orçamento para fazer política interna. Saiu-se mal Costa. Rio não precisava de fazer política eleitoral porque já tinha sido eleito e o Congresso não iria eleger ninguém e muito menos ele. Sem surpresas.

A surpresa veio do CDS e do PAN que deram uma “mãozinha” a Costa e ao governo, substituindo a geringonça, deixando o PSD a falar sozinho. A proposta de Rio de fazer baixar o IVA da luz, não conseguiu passar graças aos votos do CDS e do PAN. Amigos improváveis de Costa e do PS, já que não serão parceiros de governo, mas Costa fez questão de referir a “responsabilidade do CDS” e a surpresa que foi para ele esta atitude. A verdade é que Costa pode vir a precisar deste apoio em situações futuras. Não será uma promessa e será sempre uma surpresa certamente.

Surpresa também não é a candidatura de André Ventura à Presidência da República. Com a vontade que ele sempre tem de se afirmar e de levar avante as suas ideias radicais, não era de esperar outra atitude da sua parte. Sabe o que o espera e não será nenhuma surpresa, nem para ele nem para ninguém o resultado que daí advirá. Até pode fazer as promessas que quiser, pois sabe que nunca serão cumpridas. Assim é fácil prometer. Ninguém lhe vai cobrar nada com toda a certeza. O contrário seria uma enorme surpresa e essa, eu não gostaria de ver.


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