Luis Ferreira

Luis Ferreira

Quando melhor, cada vez pior

Portugal tem andado numa roda-viva desde a política aos incêndios que têm assolado a zona centro do país. A própria política tem-se intrometido nos incêndios não se conseguindo separar o trigo do joio nem arranjar os verdadeiros culpados de tudo o que vai acontecendo. No meio de todo o turbilhão de informações, o primeiro-ministro vem a público apaziguar as hostes e realçar os progressos da economia portuguesa. Não basta. Só os incêndios já causaram e vão causar milhões e milhões de prejuízo na economia nacional e vão levar à falência muitas empresas ligadas ao setor madeireiro e afins.

O Banco de Portugal divulgou recentemente os dados da balança de pagamentos, relativos ao final de junho, com o défice das balanças corrente e de capital a fixar-se nos 685 milhões de euros, quase o dobro dos 356 milhões registados no mesmo período de 2016. O que explica esta evolução, segundo os entendidos, é o facto de as importações aumentarem a um ritmo superior ao das exportações, apesar do ‘boom’ do turismo em Portugal, setor que registou um excedente de quase 4 mil milhões de euros.

Segundo o Banco de Portugal, até junho, a balança de bens e serviços registou um excedente de 713 milhões de euros, menos 412 milhões de euros do que no período homólogo. Mas o aumento do excedente da balança de serviços em 825 milhões de euros – devido ao bom momento do turismo – foi insuficiente para compensar o aumento do défice da balança de bens ou de mercadorias que regista as exportações e as importações de mercadorias.

Pois é, quando nos parece que tudo está a correr bem, de repente tudo se transforma em dívidas. Por mais que o governo se esforce por nos dar uma visão optimista da nossa economia e de quanto ela flui positivamente, a realidade vem dizer outra coisa. Será que as exportações subiram para obviar a que aos turistas nada falte, mesmo que sejam os portugueses a pagar tudo isso? Ou será que a alegria do crescimento fez disparar o disparate das compras ao estrangeiro? A verdade é que nós somos um pouco assim. Se temos muito, temos de gastar e comprar do melhor. Não podemos ficar atrás dos outros! Enfim!

Quando o governo vem a público enumerar o que de bom se está a verificar na economia portuguesa e até pode ser verdade, o certo é que esconde ou omite o que está cada vez pior. Todos os partidos são de opinião que a economia está a crescer a bom ritmo, mas a economia é um bicho-de-sete-cabeças e nós nunca sabemos exatamente qual das cabeças está a falhar. A dívida pública sim, essa sabemos que é cada vez maior. Como diz o povo, alguém há de pagar! Claro, todos nós pagamos. E o principal problema é que pagamos sem ter culpa nenhuma, como sempre.

Este ano até pode ser considerado um ótimo ano no setor do turismo, mas foi péssimo no que concerne aos fogos e à destruição do património florestal e o governo limita-se a dizer que já foram apanhados 70 possíveis incendiários sem referir o que lhes vai acontecer, quando vão ser julgados e condenados por delapidarem a riqueza florestal e levar à miséria centenas de famílias que, além de ficarem sem lar, ficaram sem a possibilidade de se sustentarem porque perderam as suas hortas, as suas vinhas, familiares, referências, gado, enfim, o que lhes dava no seu dia-a-dia, a possibilidade de se manterem vivos para enfrentar o futuro, sempre incógnito e avassalador. E tudo está a demorar tempo demais para se solucionarem os casos mais prementes.

A verdade é que Portugal é um país pequeno, mas como diz o povo, com uma alma enorme, mas não chega. Efetivamente não chega tapar o sol com a peneira. É positivo informar que a nossa economia vai melhor, mas é imprescindível reafirmar que temos dívidas grandiosas e que têm estado a subir enormemente desde há dois anos para cá. Isso tem de se saber e tem de se realçar. É a outra parte da questão. Neste momento estamos a atravessar um caminho muito difícil, mesmo muito complicado, perante as desgraças que se têm verificado. A campanha eleitoral que se avizinha que sirva para abrir os olhos dos eleitores e que alerte para os perigos que têm de ser resolvidos pelos próximos autarcas. Deixem as promessas. Limitem-se à realidade para que se não pense que o presente é bom quando o futuro é péssimo. As coisas não podem continuar a ser boas para uns e más para outros. Vamos lá a nivelar!


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