As guerras não se compram nem se vendem. No entanto, há sempre interessados em fabricá-las. Porquê? Talvez porque não é necessário montar uma fábrica para fabricar os moldes e as linhas de produção.
Elas são de várias espécies. Podem ser bélicas, económicas, políticas, todas desafiantes e perigosas. Se umas matam milhares de pessoas, outras arrastam para a lama, igualmente, outros milhares.
Vivemos hoje um tempo demasiado belicoso, perigoso e insustentável a vários níveis. Nos quatro cantos do mundo, como se o Mundo fosse quadrado, vivem-se guerras que aparentemente ninguém quer, todos criticam, mas parecem eternizar-se como se o tempo se prolongasse somente para que elas existam. Os continentes estão em ebulição contínua.
O planeta, exausto, parece desanimado e sem vontade de se manter vivo. Os sinais são mais do que evidentes. Através do clima, completamente alterado, dá sinais de aviso frequentes, mas parece que os homens não se incomodam muito com isso. Furacões, tempestades, sismos, tsunamis, tornados, vulcões, tudo se conjuga num aviso intenso que ninguém quer perceber. É o planeta a dar o sinal vital da sua existência. É o estrebuchar de quem se sente aflito e quer chamar a atenção. É uma guerra contra o tempo e contra a estupidez dos homens. Parece, contudo, haver pessoas interessadas nesta guerra. Quem perderá?
As guerras bélicas, outra vertente que ninguém quer, mas em que todos entram, estão bem patentes diariamente nos noticiários dos meios de comunicação. Da África à Ásia, passando pela Europa, ela aí está para assinalar a sua presença, com determinação e sem vontade de se extinguir, como se fosse necessária. Não é! Mas são muitos a querer. Porquê? Do Sudão ao Congo, do Congo ao Iémen, do Iémen a Israel, de Israel à Síria e ao Líbano, do Líbano à Ucrânia e à Rússia e daqui para o Pacífico, o belicismo atroz mantém-se como se fosse preciso matar muitas pessoas para que outras possam sobreviver. Nada disso.
Por um lado, a fraqueza dos homens e por outro a sua estupidez intrínseca, levam a que se aceite este estado de guerra interminável que se alastra cada vez mais. Ninguém compra e ninguém vem estas guerras, mas alguém as financia. E aqui é que está o que as mantém sempre vivas. As grandes indústrias de armamento precisam de ganhar dinheiro, mas só ganham se venderem o que fabricam e para isso têm que criar situações de guerra onde se gasta esse armamento. É o círculo perfeito onde os investidores ganham se outros forem mortos. Eles têm de sobreviver.
As guerras económicas sempre estiveram presentes nas sociedades ao longo de toda a nossa História. Desde os tempos mais remotos em que a simples troca de produtos era o sistema económico vigente, até à invenção da moeda e do papel moeda, sempre o ganho foi intencional e o motor principal de funcionamento dessas sociedades. Com a globalização parecia que tudo iria ser diferente e mais facilitado. E com o aparecimento das comunicações por satélites, com a Internet e todos os sistemas aí ligados, tudo é mais facilitado, mais rápido, mas também mais perigoso. A evolução que o homem consegue fazer tem o seu lado negro. O reverso da medalha. A facilidade dos negócios também se pode complicar de um momento para o outro. Não se vivem hoje os tempos em que a economia assentava essencialmente nos princípios mercantilistas e no protecionismo. Contudo, estes princípios mantêm-se, só que alargados a outras vertentes, com variantes subtis e com a facilidade de alterações instantâneas das condições económicas e dos acordos estabelecidos entre os parceiros. Veja-se o que está a acontecer com a política económica que Trump está a levar a cabo. O seu protecionismo, que até poderia ser de louvar, está a estrangular os mercados internacionais através de tarifas extraordinárias que está a impor. As consequências serão desastrosas para todo o mundo porque todos os países estão ligados economicamente através das importações e exportações que fazem, necessárias às suas economias e à sua sobrevivência.
A China que parece ser a mais atingida, replicou, mas não quer a guerra. Contudo avisou que está preparada para ela se for necessário. Com a cimeira económica marcada entre a UE e a China para o próximo mês, os EUA, especialmente Trump, parecem ter tremido um pouco e alguém terá avisado o Presidente dos EUA que abrandasse a sua política já que a mesma poderia ser fatal e levar mesmo a que perdesse as eleições intercalares no próximo ano. Os próprios republicanos, já se mostraram céticos e alguns, mesmo contra esta guerra de tarifas. Conseguiram um adiamento de 90 dias. Será suficiente? Parece que esta guerra não interessa muito aos EUA se continuar a ser travada deste modo. Afinal a quem é que ela interessa?
O resultado vai ser catastrófico se ninguém for capaz de parar esta guerra. E se ninguém a quer comprar, parece que alguém a quer vender. Será que consegue?
No fundo, não se trata senão de uma só guerra. Uma guerra global com várias vertentes e vários ramos de atividade bélica. Perde o planeta e perdem os homens. A estupidez humana e a ganância são os fabricantes do desespero mundial que se vive. Ninguém compra guerras!