Luis Ferreira

Luis Ferreira

Quem quer ser independente?

Esta correria desenfreada, embrulhada numa propaganda absurda e distribuída pelas ruas deste país sofredor, é bem sinónimo de um apoucamento de união em torno dos interesses nacionais.

As eleições para a Presidência da República dão a entender que se vive num país enorme, de interesses bastantes e de recursos extraordinários. De facto são tantos os interessados a correr pelo mesmo caminho, a cuja meta só um pode chegar, que me faz lembrar uma corrida de atletismo apenas com uma diferença: nesta o tempo de chegada difere pouco de cada um porque todos são detentores de mínimos que lhes permitem competir de igual para igual.

Não quero dizer com isto que não devam competir todos. Devem, claro, pois em democracia é assim que se faz. Mas a consciência que reveste o interesse de cada um, devia permitir-lhe discernir se não seria melhor unir em vez de dividir os votos que, obviamente, se vão dispersar. Quer queiramos quer não, a verdade é que há sempre uma esquerda e uma direita, por mais que alguns avancem destemidamente com o rótulo de independentes. E são estes que poderão fazer a diferença ? Não. E são eles que podem ganhar? Não. Se analisarmos bem os candidatos, depressa verificamos que independentes não são todos os que o dizem ser. Só se diz independente por interesse. Querer agradar a gregos e a troianos é impossível. Já reparam que são quase todos independentes? Apenas os candidatos do BE e do PCP são apoiados pelos respetivos partidos, os outros são todos independentes.

As sondagens dão um vencedor certo e a acreditar nelas, não valeria a pena ir votar. Mas a realidade é bem diferente ou, pelo menos pode ser diferente. As sondagens valem o que valem, como dizem os candidatos, que não se atemorizam com esses resultados, mas o certo é que algumas vezes elas se enganam tremendamente.

Pois se a dispersão de votos for grande e a abstenção também, pode acontecer que tanto Marcelo como Nóvoa não consigam a maioria e tenham que ir a uma segunda volta onde tudo pode ser bem diferente. E se nesta fase inicial não há lugar à tal união de que falava, é certo que numa segunda volta ela vai aparecer e se for em torno de Nóvoa, Marcelo não ganha. Neste caso, de pouco lhe servirá querer ser independente, a não ser que o povo português, sempre condescendente e pouco esquerdista, pense duas vezes e vá atrás da simpatia do professor, muito embora não seja essa que governa Portugal, mas enfim.

Ter dez candidatos nas eleições para a Presidência da República é quanto a mim, demasiado, mas cada um saberá das linhas com que se cose. Todos nós quando vimos alguns deles na televisão a fazer o seu apelo ao voto, desdenhamos do seu real valor em tal ato e proferiremos certamente alguns vocábulos menos sérios. Enfim. Por mais simpáticos que sejam não os levamos muito a sério e fazemos juizos de valor que nos levam a equacionar os gastos de cada um na campanha, gastos que afinal, todos iremos pagar. Uns mais do que outros, como sempre! A verdade é que não estou a ver este país a ser orientado pelo Tino de Rans! Ou pela Marisa Matias para não falar em outros candidatos.

Afinal quem é que não quer ser independente? Só dois e são os que não terão qualquer hipótese de ganhar, mas que poderão fazer a diferença numa segunda volta. Se acreditarmos nas sondagens e elas acertarem, então ganhará um ... meio independente. A ser assim, parecer ser a primeira vez que ganha mesmo um Presidente que não é apoiado diretamente por um partido. Afinal de contas, um independente. Ou quase.


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